+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Saúde demora a vacinar onde morreram crianças Yanomami

Somente oito dias após ter sido informado da morte de nove crianças Yanomami (com idades entre um e cinco anos) com sintomas de COVID-19, o Ministério da Saúde enviou à região dos falecimentos, no norte de Roraima, a 20 km da fronteira com a Venezuela, 800 doses de vacina contra o coronavírus. Segundo o Ministério, os imunizantes serão aplicados a indígenas maiores de 18 anos, de acordo com o Plano Nacional de Imunização.

O Ministério ainda pesquisa se as mortes das crianças – quatro da comunidade indígena Waphuta e cinco da comunidade Kataroa –, todas ocorridas em janeiro, se devem à contaminação por contaminação pelo coronavírus. O Ministério não informou quando os resultados dos testes ficarão prontos nem se as demais crianças da região também serão vacinadas, caso se confirme a morte por COVID-19 das nove vítimas.

“É muito preocupante (o calendário de vacinação do Ministério da Saúde). Eu conversei com a médica (do local). A maioria das crianças está pegando coronavírus. Não adultos”, afirmou o presidente da Comissão de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Conduisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami.

Ele também informou que outras 25 crianças Yanomami, que ainda permanecem na região, apresentam sintomas coronavírus (como febre alta e dificuldade para respirar) e que mais cinco – a mais nova com menos de um ano e meio – já estão internadas na Unidade de Tratamento Intensivo do Hospital da Criança, pertencente à rede municipal de Boa Vista, capital de Roraima.

De São Paulo, onde se encontrava em acompanhamento a uma criança Yanomami de um ano que fará cirurgia cardíaca, Júnior confirmou que as vacinas chegaram de helicóptero no final da tarde de terça-feira (2) ao polo Base de Surucucu e que de lá foram enviados na manha desta quarta (3) para Waphuta e Kataroa, levando os imunizantes e pessoal do corpo médico.

Outras comunidades da mesma região só começaram a ser vacinadas na semana passada com a CoronaVac – do laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan (SP).

Desde 26 de janeiro, o Ministério da Saúde já sabia das suspeitas de que as mortes decorrem da COVID-19. Naquela data, Júnior informou o Ministério das mortes, através de ofício da Conduisi-YY timbrado como “urgente”. O documento foi enviado ao Secretario Especial de Saúde Indígena, Robson Santos Silva, com cópia ao Coordenador Distrital de Saúde Indígena Yanomami, Rômulo Pinheiro de Freitas.

Contatado na tarde da terça-feira (2), Freitas não retornou as ligações e mensagens da Arayara.

De acordo com a Rede Pró Yanomami e Ye’kwana, que inclui pesquisadores e outros profissionais que apoiam as comunidades, “foram registrados em nosso monitoramento 1.641 casos confirmados de Covid-19 na Terra Indígena Yanomami, entre eles16 óbitos. Outros 14 óbitos foram registrados como suspeitos – aqui não estão contabilizadas as nove mortes das crianças Yanomami ocorridas em janeiro de 2021”.

A população em Waputha é de 816 Yanomami e em Kataroa, 412. Em toda a região vivem 28.141 indígenas em 371 aldeias ou pequenas comunidades isoladas no meio da floresta.

Em nota, a Rede também denuncia que “antes mesmo da pandemia chegar a esse território, os Yanomami e Ye’kwana já sofriam com um atendimento de saúde ineficiente e que não leva em conta as especificidades socioculturais e linguísticas dos grupos indígenas atendidos”.

“Com a virada do ano, o que vemos é mais do mesmo – omissão e descaso –e os casos confirmados de Covid-19 continuam aumentando. Mesmo com o início da vacinação entre os Yanomami e Ye’kwana na TIY, a Covid-19 ainda é uma forte preocupação para os indígenas que ainda sofrem com o aumento vertiginoso da malária, principal comorbidade que tem acometido essa população”, completa.

A Terra Yanomami, localizada entre Roraima e Amazonas, é a maior reserva indígena do Brasil. Foi homologada em 25 de maio de 1992 e possui área contínua de 9.419.108 hectares de floresta tropical úmida com relevo montanhoso. As associações indígenas da região vêm denunciando, desde o início da pandemia, que a COVID-19 chegou aos indígenas isolados no meio da floresta através de garimpeiros que exploram a área ilegalmente.

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

XI Encontro e Feira dos Povos do Cerrado destaca luta por território e direitos no bioma mais ameaçado do Bras

Por quatro dias, entre 10 e 13 de setembro, a sede da FUNARTE, em Brasília, se transforma em um espaço de celebração, resistência e mobilização. O XI Encontro e Feira dos Povos do Cerrado reúne centenas de representantes indígenas, quilombolas, geraizeiros, ribeirinhos, extrativistas e outros povos e comunidades tradicionais do bioma.  Promovido pela Rede Cerrado e parceiros, o evento é

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Legislativo sedia lançamento do programa nacional de proteção a ativistas ambientais

Ação foi realizada em parceria do Instituto Internacional Arayara com a Frente Parlamentar Mista Ambientalista e em Defesa de Territórios dos Povos e Comunidades Tradicionais, coordenada pelo deputado Marcelino Galo (PT). A Assembleia Legislativa sediou, nesta quinta-feira (11), o lançamento do programa nacional Defensores dos Defensores na Bahia. A iniciativa tem como objetivo oferecer proteção a ativistas engajados em causas

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Instituto Arayara lança programa de proteção a defensores ambientais em Salvador

Evento na Assembleia Legislativa da Bahia reuniu parlamentares, movimentos sociais e comunidades tradicionais em defesa da vida, dos territórios e da justiça climática. No Dia do Cerrado, celebrado ontem (11/09), o Instituto Internacional Arayara realizou em Salvador, na Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), o lançamento do programa “Defensores dos Defensores”, iniciativa de proteção a ativistas ambientais que enfrentam ameaças em

Leia Mais »

COP30 e defesa de comunidades tradicionais são tema de debate em Salvador

O Instituto Internacional ARAYARA esteve presente nesta sexta-feira (12/09), em Salvador, no evento “Justiça Socioambiental e Territorial: Rumo à COP30”, organizado pelo Fórum em Defesa das Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais da Bahia e pelo Grupo Ambientalista da Bahia (Gamba), em parceria com o Ministério Público Federal (MPF). Realizado no auditório do MPF, o encontro contou com a participação especial

Leia Mais »