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Arayara e organizações levam campanha #LeilãoFóssilNão à audiência pública da ANP

Hoje, marcamos presença e nos fizemos ouvir durante a audiência pública da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) que, desconsiderando as avaliações ambientais recomendadas pelo Ibama e pelo ICMBio, promove um leilão de áreas de exploração de petróleo no mar das bacias de Pelotas e Potiguar, em locais onde vivem espécies ameaçadas.

Levamos a campanha #LeilãoFóssilNão para dentro da reunião e apresentamos todos os riscos e ameaças que essa venda representa. Apontamos diversos problemas em relação aos blocos exploratórios e demandamos a exclusão completa dos setores situados nas bacias.

Na Bacia de Potiguar, além de Fernando de Noronha, corre risco a Reserva Biológica do Atol das Rocas. O ICMBio considera que as atividades exploratórias, bem como um evento acidental, podem trazer danos irreparáveis à diversidade biológica desses ecossistemas, afetando a vida marinha e populações de aves. Em apenas uma das áreas sobrepostas à Bacia Potiguar, 61 espécies estão ameaçadas de extinção.

Assista aqui a fala da nossa diretora Nicole Oliveira

O leilão oferece ainda a Bacia de Pelotas, no Rio Grande de Sul. A região também tem grande importância ecológica. Está inserida em um corredor de proteção, reprodução e alimentação de diversas espécies, entre elas 64 em risco de extinção.

Reforçamos a posição dos técnicos do ICMBio referente ao alto risco de inclusão da Bacia Potiguar e o parecer do Ibama que foram completamente desconsiderados.

A alternativa às avaliações ambientais de áreas sedimentares foi sustentada por manifestação conjunta do Ministério de Minas e Energia, e do Ministério de Meio Ambiente, e não leva em consideração a nota técnica do ICMBio, que destaca o alto risco da inclusão dos blocos da bacia Potiguar”, lembrou Luciano Henning, consultor do Instituto Arayara e do Observatório do Petróleo e Gás.

Essa manifestação também não leva em conta a nota técnica no IBAMA com referência à Bacia de Pelotas, que afirma não existir nenhum estudo para estes blocos. Essa região é essencial para reprodução e alimento de diversos peixes, além de ameaçar outras espécies em extinção”, disse.

“Este leilão claramente não segue as melhores normas internacionais, ocasionando uma insegurança jurídica para as empresas que eventualmente vierem a comprar estes blocos”, avaliou Luciano à Folha de São Paulo.

Durante a audiência, Nicole de Oliveira, diretora do Instituto Arayara, ressaltou que “ao ofertar estes setores para exploração de petróleo e gás, a ANP assume o risco de agravar a ameaça de extinção, ou seja, a eliminação definitiva do maior animal que já existiu no mundo: a baleia azul. Além desta, mais dezenas espécies de animais estão ameaçadas por este leilão”.

Durante sua fala, Nicole ainda apontou os riscos desta atividade para a piora emergência climática que vivemos.

“Além do claro impacto à fauna brasileira, a insistência da ANP em promover a exploração de combustíveis fósseis, contribui para a escassez hídrica e alimentar, eventos climáticos extremos como enchentes e secas, e aumenta as doenças tropicais como consequência das mudanças climáticas provocadas pelos combustíveis fósseis”.

A responsabilidade pelo caos climático e pelo ecocídio também é da ANP. Está na hora de fazer a transição energética e investir em energias justas e limpas”, completou Nicole de Oliveira, diretora do Instituto Arayara.

“Na documentação sobre a 17a rodada não há nenhum plano de mitigação sobre como vai se reduzir os efeitos das mudanças climáticas por toda a queima de combustíveis fósseis. Por tudo isso afirmamos que haverá litigância. Nós iremos continuar lutando por um mundo justo e sustentável”, concluiu Nicole.

O engenheiro Juliano Bueno de Araújo, fundador e diretor da Coalizão Não Fracking Brasil (COESUS), ressaltou a falta de preocupação com fiscalização e estudos sobre os impactos da iniciativa.

“Já se demonstra ao longo dos anos que a Agência Nacional de Petróleo não tem dado a devida importância às questões ambientais e quanto aos impactos do setor petroleiro no país. A exemplo do que passamos em 2019 com o mega acidente petroleiro que banhou as nossas praias de petróleo, atingindo toda a nossa costa e gerando prejuízos bilionários à indústria do turismo, da pesca, ao meio ambiente e aos desdobramentos na economia onde 50 milhões de brasileiros foram diretamente impactados. A ANP não apresenta estudos concretos de impactos e suas consequências ecológicas, econômicas e sociais”.

Juliano ainda lembrou que o discurso de diretores da agência ao longo dos últimos anos é o de que se deve vender a qualquer custo e acelerar a exploração fóssil no território brasileiro, haja visto que o tempo dos combustíveis fósseis está se encerrando.

“Nos preocupa esse tipo de colocação inapropriada que coloca a biodiversidade marinha e outras atividades econômicas como o turismo e a pesca, que emprega milhões de brasileiros, em situação de risco e com as demonstrações de incapacidade do Estado e da própria agência em resolver vazamentos em grandes proporções”.

“Nossa solicitação é uma só: da suspensão deste leilão nas áreas de Potiguar e da região Sul até que o estado comprove sua plena capacidade de solver esses riscos em toda a costa, pois o mesmo hoje não tem estrutura fiscalizatória e mitigatória que possibilite a expansão exploratória na costa”, concluiu Juliano.

Vale destacar que integrantes da Fridays For Future Brasil (FFF) foram impedidos de participar de audiência pública, em um ato que visou calar a voz de ativistas e membros da sociedade civil.

Você pode assistir à audiência completa aqui.

Saúde demora a vacinar onde morreram crianças Yanomami

Saúde demora a vacinar onde morreram crianças Yanomami

Somente oito dias após ter sido informado da morte de nove crianças Yanomami (com idades entre um e cinco anos) com sintomas de COVID-19, o Ministério da Saúde enviou à região dos falecimentos, no norte de Roraima, a 20 km da fronteira com a Venezuela, 800 doses de vacina contra o coronavírus. Segundo o Ministério, os imunizantes serão aplicados a indígenas maiores de 18 anos, de acordo com o Plano Nacional de Imunização.

O Ministério ainda pesquisa se as mortes das crianças – quatro da comunidade indígena Waphuta e cinco da comunidade Kataroa –, todas ocorridas em janeiro, se devem à contaminação por contaminação pelo coronavírus. O Ministério não informou quando os resultados dos testes ficarão prontos nem se as demais crianças da região também serão vacinadas, caso se confirme a morte por COVID-19 das nove vítimas.

“É muito preocupante (o calendário de vacinação do Ministério da Saúde). Eu conversei com a médica (do local). A maioria das crianças está pegando coronavírus. Não adultos”, afirmou o presidente da Comissão de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Conduisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami.

Ele também informou que outras 25 crianças Yanomami, que ainda permanecem na região, apresentam sintomas coronavírus (como febre alta e dificuldade para respirar) e que mais cinco – a mais nova com menos de um ano e meio – já estão internadas na Unidade de Tratamento Intensivo do Hospital da Criança, pertencente à rede municipal de Boa Vista, capital de Roraima.

De São Paulo, onde se encontrava em acompanhamento a uma criança Yanomami de um ano que fará cirurgia cardíaca, Júnior confirmou que as vacinas chegaram de helicóptero no final da tarde de terça-feira (2) ao polo Base de Surucucu e que de lá foram enviados na manha desta quarta (3) para Waphuta e Kataroa, levando os imunizantes e pessoal do corpo médico.

Outras comunidades da mesma região só começaram a ser vacinadas na semana passada com a CoronaVac – do laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan (SP).

Desde 26 de janeiro, o Ministério da Saúde já sabia das suspeitas de que as mortes decorrem da COVID-19. Naquela data, Júnior informou o Ministério das mortes, através de ofício da Conduisi-YY timbrado como “urgente”. O documento foi enviado ao Secretario Especial de Saúde Indígena, Robson Santos Silva, com cópia ao Coordenador Distrital de Saúde Indígena Yanomami, Rômulo Pinheiro de Freitas.

Contatado na tarde da terça-feira (2), Freitas não retornou as ligações e mensagens da Arayara.

De acordo com a Rede Pró Yanomami e Ye’kwana, que inclui pesquisadores e outros profissionais que apoiam as comunidades, “foram registrados em nosso monitoramento 1.641 casos confirmados de Covid-19 na Terra Indígena Yanomami, entre eles16 óbitos. Outros 14 óbitos foram registrados como suspeitos – aqui não estão contabilizadas as nove mortes das crianças Yanomami ocorridas em janeiro de 2021”.

A população em Waputha é de 816 Yanomami e em Kataroa, 412. Em toda a região vivem 28.141 indígenas em 371 aldeias ou pequenas comunidades isoladas no meio da floresta.

Em nota, a Rede também denuncia que “antes mesmo da pandemia chegar a esse território, os Yanomami e Ye’kwana já sofriam com um atendimento de saúde ineficiente e que não leva em conta as especificidades socioculturais e linguísticas dos grupos indígenas atendidos”.

“Com a virada do ano, o que vemos é mais do mesmo – omissão e descaso –e os casos confirmados de Covid-19 continuam aumentando. Mesmo com o início da vacinação entre os Yanomami e Ye’kwana na TIY, a Covid-19 ainda é uma forte preocupação para os indígenas que ainda sofrem com o aumento vertiginoso da malária, principal comorbidade que tem acometido essa população”, completa.

A Terra Yanomami, localizada entre Roraima e Amazonas, é a maior reserva indígena do Brasil. Foi homologada em 25 de maio de 1992 e possui área contínua de 9.419.108 hectares de floresta tropical úmida com relevo montanhoso. As associações indígenas da região vêm denunciando, desde o início da pandemia, que a COVID-19 chegou aos indígenas isolados no meio da floresta através de garimpeiros que exploram a área ilegalmente.