+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Importação de gás de fracking argentino é contrassenso em relação às pautas ambientais e climáticas, advertem especialistas

Alerta foi feito após anúncio do presidente Lula de “criar condições” para financiar obra de gasoduto para integração energética entre Brasil e Argentina

A técnica de exploração não convencional do gás de xisto é rechaçada pelo terceiro setor, por conta dos danos irreversíveis ao meio ambiente e dos riscos à saúde das pessoas

O aceno do governo brasileiro para financiar, por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a construção de um gasoduto para trazer gás de xisto não convencional da Argentina para o Brasil foi duramente criticado por representantes do terceiro setor, que veem total contrassenso em relação aos compromissos climáticos, ambientais e de transição energética justa assumidos pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em declaração conjunta, oficializada em Buenos Aires na última segunda-feira (23/1), Brasil e Argentina se comprometeram a avaliar, com “prioridade e urgência”, o financiamento de projetos considerados “estratégicos” e de interesse binacional, entre os quais, o gasoduto argentino Néstor Kirchner, para escoar a produção de gás das reservas de Vaca Muerta, na província de Neuquén até Uruguaiana, município gaúcho do extremo Sul brasileiro.

A crítica dos ambientalistas se pauta, principalmente, no fato de que a exploração do gás argentino se dá pelo método de fraturamento hidráulico (fracking, em inglês), que já foi proibido em diversos países, por ser altamente poluente e causar graves e irreversíveis danos ao meio ambiente e à saúde das populações do entorno. Na Irlanda, por exemplo, a proibição se estende, inclusive, à importação do gás advindo desse tipo de exploração.

Para a diretora executiva do Instituto Internacional Arayara, Nicole de Oliveira, o financiamento do gasoduto e a importação do gás argentino dariam um sinal ao mundo de que o Brasil é conivente com sistemas de produção insustentáveis e socialmente injustos, o que vai na direção oposta do que tem pregado o novo governo.

“O governo brasileiro financiar projetos que estejam associados à exploração do fracking não condiz com os compromissos assumidos de enfrentamento à crise climática, de cumprimento das metas de redução de emissões de carbono e de transição energética justa. Tampouco oferece aos brasileiros uma opção de energia limpa e barata”, advertiu a ambientalista.

Danos ao meio ambiente e à economia

O diretor técnico do Instituto Arayara e do Observatório do Petróleo e Gás, Juliano Bueno de Araújo, lembra que a exploração não convencional do gás de xisto já causou enormes prejuízos à região de Vaca Muerta, na Argentina, afetando não só o meio ambiente e a saúde população como, também, a economia local, baseada na agricultura familiar. Dezenas de famílias produtoras de maçãs e peras enfrentaram perdas de produtividade, em razão da contaminação do solo e da água. Também perderam competitividade para outros países exportadores de frutas, como o Chile.

 

“O pretexto de trazer o gás da Argentina para baratear os custos de produção da indústria brasileira pode levar nosso país a pagar um preço alto em perda de credibilidade frente a outros mercados, além de sinalizar para a indústria do petróleo e gás que o governo também poderia vir a considerar a liberação do fracking em nosso território, o que seria um completo desastre”, apontou Araújo.

No Brasil, não há regulamentação para a exploração não convencional do gás de xisto e a sociedade civil luta para que, a exemplo de países como Alemanha, França, Espanha e Bulgária, o fracking seja proibido aqui.

No ano passado, a ARAYARA.org e a Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida (Coesus) lançaram uma versão atualizada da Cartilha Não Fracking Brasil, que integra as ações da campanha liderada pelas organizações há mais de 10 anos. A publicação reúne informações detalhadas sobre como se dá a exploração não convencional do gás de xisto por fraturamento hidráulico e os graves impactos ao meio ambiente e às pessoas.

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Dois times, duas medidas

Na semana passada, o Brasil apresentou sua nova meta climática, a famosa NDC, na Conferência do Clima que está ocorrendo em Baku, no Azerbaijão. A delegação está sendo liderada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, na ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que levanta questionamentos sobre o compromisso do governo com a agenda climática. Apesar de ter reduzido com sucesso

Leia Mais »

ANP atualiza cronograma da oferta permanente com Bacia do Amazonas

Duas áreas, na Bacia do Amazonas e no Paraná, seguem com cronograma suspenso por decisões judiciais A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) atualizou o cronograma do 4º Ciclo da Oferta Permanente de Concessão (OPC) para três blocos localizados na Bacia do Amazonas e que estavam com o cronograma suspenso devido a ações judiciais. A agência assinou

Leia Mais »

Seleções do Pacífico sofrem com o risco de desaparecer do futebol

Consequência das mudanças climáticas, elevação do nível do mar na região provoca suspensão de jogos e competições, além de enchentes, erosão do solo e deslocamentos forçados Por Rodrigo Lois — Rio de Janeiro Jordi Tasip tem o sonho de jogar a Copa do Mundo. Ele é o camisa 10 da modesta seleção de Vanuatu, país no Oceano Pacífico formado por cerca

Leia Mais »