+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Seminário debate justiça climática e racismo ambiental com foco nas comunidades tradicionais

Representantes de povos e comunidades tradicionais denunciam exclusão nos processos decisórios e Arayara reforça luta contra violações socioambientais.

No dia 4 de setembro, em Brasília, foi realizado no auditório do Ibama o seminário “Justiça Climática e Racismo Ambiental: construção dos conceitos e políticas no Brasil”. O encontro foi organizado pela Câmara Técnica de Justiça Climática do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), e reuniu representantes da sociedade civil, pesquisadores, gestores públicos e lideranças comunitárias, com o objetivo de aprofundar o debate sobre justiça climática no país e avançar na formulação de políticas públicas para enfrentar o racismo ambiental.O Instituto Internacional Arayara esteve presente, acompanhando os diálogos e reafirmando seu compromisso na defesa dos direitos socioambientais.

Entre as falas de destaque do evento esteve a de Ana Paula Oliveira dos Santos, pescadora artesanal  da Rede de Mulheres Pescadoras da Costa dos Corais (AL) e representante do Conselho Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais (CNPCT). Ela lembrou a recente aprovação do Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, fruto de anos de luta e articulação, mas reforçou que a exclusão e a invisibilização dessas populações ainda persistem: “Pensar em justiça climática e racismo ambiental é falar do processo de exclusão, de invisibilidade dos nossos povos e comunidades tradicionais. Será que nossas vozes de fato estão sendo ouvidas?”, questionou.

Ana Paula também destacou o peso dos crimes ambientais sobre as comunidades, como o derramamento de petróleo no litoral do Nordeste, que atingiu diretamente pescadores, quilombolas e povos indígenas, afetando saúde, renda e ecossistemas inteiros. Em sua fala, trouxe ainda uma preocupação central em ano de mobilização para a COP30, que será realizada em Belém (PA):“Será que vamos ser visibilizados dentro da COP30? Porque os que mais são prejudicados, somos nós, povos e comunidades tradicionais. Estamos nos territórios, enfrentamos todos os dias o racismo ambiental e as mudanças climáticas, mas quando buscamos diálogo com o governo, não somos ouvidos.”

A coordenadora de Oceano e Águas da Arayara, Kerlem Carvalho, ressaltou que o seminário dialoga diretamente com as lutas da organização contra os impactos da indústria fóssil no Brasil. Ela citou como exemplo a UTE Brasília, cujo projeto de instalação em Samambaia e Ceilândia, áreas periféricas do Distrito Federal, evidencia o caráter de racismo ambiental desses empreendimentos: “Esta usina termelétrica, cuja instalação está prevista em áreas periféricas do Distrito Federal, como Samambaia e Ceilândia, torna-se um símbolo contundente do racismo ambiental ao recair sobre populações vulneráveis, marginalizadas e historicamente excluídas das decisões que afetam seus territórios. A escolha do local para a UTE Brasília ameaça direitos humanos fundamentais: implica na demolição de uma escola pública e agrava a já crítica poluição do Rio Melchior, além de expor milhares de pessoas a riscos aumentados de doenças respiratórias e cardiovasculares.”

Isadora Nakai, Estagiária de Advocacy do Arayara, lembrou ainda que a justiça climática e o enfrentamento ao racismo ambiental são centrais no trabalho da organização em defesa de uma transição energética justa para longe dos combustíveis fósseis. “Participar deste espaço de formulação de normas e políticas públicas é fundamental para fortalecer redes de mobilização, e garantir que as vozes das comunidades que sofrem de forma desproporcional com os impactos da indústria fóssil, e consequentemente da crise climática, sejam ouvidas nos processos de tomada de decisão”, apontou.

O seminário reforçou, assim, a necessidade de inserir a justiça climática no centro das políticas públicas, reconhecendo que a crise climática impacta de forma desproporcional comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas e pesqueiras. Dar visibilidade e voz ativa a essas populações foi apontado como passo essencial para que o enfrentamento à crise climática seja justo e inclusivo.


Foto: Kerlem Carvalho / ARAYARA.org

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Estudo lançado em audiência na Câmara expõe ameaça da indústria fóssil à pesca e à vida marinha

Brasília foi palco, nesta terça-feira (02/09), de uma audiência pública na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados que escancarou os riscos da expansão da indústria do petróleo sobre a pesca, a biodiversidade e a segurança alimentar do país. O evento, solicitado pelo deputado Raimundo Costa (Pode-BA), marcou o lançamento do estudo técnico inédito “Do

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Especialistas apontam qual será o principal impasse das negociações da COP30, em Belém

China, EUA e Índia lideram emissões de gases do efeito estufa, enquanto países vulneráveis sofrem impactos desproporcionais da crise climática A 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém (PA), em novembro deste ano, deve ter como principal ponto de impasse os combustíveis fósseis. A previsão tem sido feita por especialistas que analisam a relação

Leia Mais »