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Representante da ANP recebe brinquedo do futuro que já vem “sujo de petróleo”

Há quase seis meses as praias do litoral nordeste brasileiro foram invadidas por toneladas de petróleo cuja origem ainda segue desconhecida. Já são mais de 10.000 toneladas de óleo e resíduos recolhidas da costa brasileira. A maior parte desses resíduos foram retirados por voluntários. O poder público segue sem dar à sociedade uma resposta concreta sobre o maior vazamento de óleo da história brasileira.

Diante desse cenário de total inoperância do poder público para conter o vazamento e de silêncio sobre os devastadores impactos do desastre ambiental, a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) realizou, no Rio de Janeiro, na tarde desta quarta-feira, 5, uma audiência pública de preparação novas rodadas de licitação de exploração de combustíveis fósseis.

Na audiência, Renan Andrade, gestor ambiental e representante da 350.org, provocou os agentes públicos. “Quanto custa explorar petróleo, gás e carvão? Quanto mais teremos que pagar com vidas para que poucos ganhem muito dinheiro e tenham uma vida confortável em detrimento da natureza e da vida de milhões? Quanto mais os estados e municípios terão que arcar com os prejuízos desta indústria atrasada e obsoleta? Pois o lucro é privado e os prejuízos coletivos”, disse.

O ativista cobrou respostas da ANP e das autoridades e, ao fim da audiência, entregou à presidente da audiência pública, um oil toy: um cavalo marinho de pelúcia manchado, simbolicamente, de óleo: “Ano passado lançamos uma campanha chamada Oil Toys em que pedimos que o maior vazamento de óleo da história não vire brincadeira. Se a ANP e a indústria fóssil insistir nessa postura, comprometerá o futuro de milhões de brasileiros. Por isso, entregamos o cavalo marinho à ANP como um símbolo de nossa luta pelo futuro das novas gerações, para que não tenham o seu futuro condenado pela ganância de quem ignora dados concretos sobre mudanças climáticas e insiste na exploração dos combustíveis fósseis”. A presidente da audiência pública se prontificou a entregar ao presidente da ANP, Décio Odone, o oil toy símbolo da campanha #MarSemPetróleo.

Suelita Röcker, diretora do Instituto Arayara e que também participou da audiência pública no Rio de Janeiro, cobrou da ANP licitude e transparência. “A Constituição é clara: a recusa a fornecer informações requeridas nos termos da Lei de Acesso à Informação, retardar deliberadamente o seu fornecimento ou fornecê-las intencionalmente de forma incorreta, incompleta ou imprecisa comprovam crime improbidade administrativa. A ANP faz isso ao cobrar valores estratosféricos para a obtenção de dados técnicos”, destacou.

Requerimento protocolado pede explicações

Antes da audiência, Suelita Röcker protocolou na ANP um requerimento do Instituto Arayara pede “o franqueamento gratuito de todas as informações e documentos atinentes ao certame – em especial ao conteúdo do pacote de dados técnicos para blocos exploratórios – aos cidadãos interessados em acompanhar o procedimento licitatório, inclusive sinalizando postura de deferência à Carta Política do Estado e à Lei Federal n. 12.527/2011, que regula o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5º , no inciso II do § 3º do art. 37 e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal”.

Oil Toys

Criada ainda em 2019, a campanha cobra ações do poder público e convida a sociedade para uma mobilização social para impedir que o vazamento vire brincadeira. O primeiro vídeo da parceria entre o Instituto Arayara e agência INNOCEAN Worldwide foi exibido, na COP-25, em Madri, durante a exposição #MarSemPetróleo. O recado é claro: NÃO DEIXE O MAIOR VAZAMENTO DE OLEO DO BRASIL VIRAR BRINCADEIRA!

“Ouvimos que os peixes são inteligentes e fogem do petróleo no mar. Então, decidimos responder com humor ácido a esse tipo de manifestação. Não é brincadeira. Não pode ser tratado como brincadeira. Tudo isso diz respeito à vida de milhões de pessoas que dependem da pesca, do turismo e outras fontes de subsistência que vem do mar. Essas pessoas precisam sobreviver e estão sem resposta, sem dinheiro e não merecem ouvir piadas. Merecem respeito e dignidade”, enfatizou Nicole Oliveira, diretora da 350.org América Latina.

Veja aqui a campanha Oil Toys.

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