+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Poluição do ar pode tornar as pessoas mais vulneráveis ao coronavírus

Uma coisa notável sobre o COVID-19, a doença causada por coronavírus que tem se espalhado pelo mundo, é que ela induz condições graves e mortais em algumas pessoas, enquanto outras ficam apenas levemente doentes. Até agora, sabemos que idade avançada ou condições de saúde preexistentes colocam uma pessoa em maior risco de sintomas graves. Infelizmente, para muitas pessoas, o ar poluído que respiram todos os dias provavelmente já danificou seus pulmões e as tornou mais vulneráveis ​​ao novo coronavírus.

A doença COVID-19 tende a apresentar febre e tosse seca. O vírus ataca o sistema respiratório e se torna fatal quando os pacientes sucumbem à síndrome do desconforto respiratório agudo, que faz com que os pulmões se encham de líquido. O vírus tem sido mais mortal para pessoas com mais de 60 anos de idade, além de pessoas com doenças cardiovasculares, câncer e doenças respiratórias crônicas.• Poluição do ar por combustíveis fósseis mata mais pessoas por ano do que cigarro
• Poluição do ar na China despenca após medidas para conter coronavírus
• Redução de poluição do ar salva vidas em questão de semanas, segundo pesquisa

Adivinhe qual é o principal fator de todas as doenças acima? Poluição do ar. E quem é mais provável de ser exposto à má qualidade do ar nos EUA? Famílias de baixa renda e comunidades de minorias étnicas. Quem tem maior probabilidade de morrer prematuramente devido à qualidade do ar reduzida? Os idosos. Hoje, os negros têm uma probabilidade três vezes maior de morrer de asma do que os brancos. Isso se torna 10 vezes mais provável para crianças negras. Os negros também sofrem as maiores taxas de mortalidade por doenças cardíacas.

É por isso que o surto de COVID-19 é uma questão de justiça ambiental, e a ex-administradora da Agência de Proteção Ambiental Gina McCarthy disse isso no Twitter na segunda-feira (16).

“Esta crise não é simplesmente uma questão de saúde pública. Está diretamente relacionada à equidade social e à justiça ambiental”, escreveu McCarthy. “Está diretamente relacionada à nossa luta por ar limpo, água potável, um ambiente saudável e comunidades saudáveis. #COVID19 está afetando todos nós — nossa saúde e nosso modo de vida, mas comunidades de baixa renda e comunidades de minorias étnicas podem enfrentar riscos adicionais.”

“A estimativa é que haverá taxas muito mais altas de infecção e morte em comunidades de baixa renda e ainda mais em comunidades de baixa renda de minorias étnicas.”

Até o momento, nenhuma pesquisa examinou a demografia das comunidades que observavam maiores incidências do coronavírus. Também não houve nenhuma pesquisa sobre como a má qualidade do ar poderia exacerbar os sintomas do vírus. A ironia do vírus ter começado na China, que tem uma das piores qualidades do ar do mundo, também foi observada por Stephanie Lovinsky-Desir, professora assistente de pediatria no Columbia Medical Center. Ela disse ao Gizmodo:

“É possível que uma das razões pelas quais o vírus tenha sido tão nocivo possa estar ligada a exposições ambientais como a poluição do ar”, disse Lovinsky-Desir.

Sabemos, porém, que a poluição do ar afeta o sistema imunológico respiratório quando partículas tóxicas entram e inflamam os pulmões. A má qualidade do ar mais o COVID-19 podem ser uma mistura mortal para as comunidades que já sofrem nas mãos de uma economia global que depende da queima de combustíveis fósseis tóxicos.

A recente suspensão das atividades diárias normais devido ao COVID-19 causou uma redução drástica na poluição do ar em toda a China e Itália, os dois países com o maior número de casos. No entanto, em situações normais e na ausência de uma crise global de saúde, veículos lançam toxinas no ar regularmente ao nosso redor, enquanto as refinarias e usinas que queimam combustíveis fósseis emitem ativamente material particulado e substâncias cancerígenas nos quintais de alguns selecionados.

“Se você está exposto à poluição, há um risco aumentado. Se houver um número desproporcional de norte-americanos de minorias raciais nessas áreas, então, por extensão, eles ficarão mais doentes, com certeza”, Rey Panettieri, médico do pulmão e vice-chanceler do Instituto de Medicina e Ciência Translacional da Universidade Rutgers, disse ao Gizmodo. “Populações vulneráveis ​​– e eu uso isso em um sentido mais amplo — certamente são desproporcionalmente afetadas por todas as doenças e, com a natureza rápida da disseminação do vírus, acho que essas serão afetadas desproporcionalmente, então sim, estou preocupado.”

O resultado de toda essa poluição do ar, globalmente, é de 7 milhões de mortes por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde. Nos EUA, a poluição do ar tem aumentado pela primeira vez em uma década. (Obrigada, Donald Trump.)

As melhorias na qualidade do ar de 1999 a 2013 reduziram o número de mortes prematuras entre os idosos, resultando em US$ 24 bilhões por ano em economia, mas eles continuam sendo os que apresentam maior risco. A poluição do ar é tão mortal que os profissionais de saúde a chamam de pandemia, observando que os combustíveis fósseis são a principal fonte dessa morte e desespero em todo o mundo.

Agora, o COVID-19 provavelmente está aumentando ainda mais o risco de morte para essas comunidades.

“A estimativa é que haverá taxas muito mais altas de infecção e morte em comunidades de baixa renda e ainda mais em comunidades de baixa renda de minorias étnicas por causa de todas as condições pré-existentes — tanto médicas como sociais”, disse Mark Mitchell, um professor associado de mudança climática, energia e saúde ambiental da Universidade George Mason e presidente do Conselho Nacional de Associação Médica de Legislação Médica, ao Gizmodo.

Essas condições sociais incluem taxas mais altas de pobreza, desigualdades na assistência à saúde e disparidades no acesso a férias remuneradas. Existem também práticas de estilo de vida, como moradias multigeracionais, onde avós, filhos e netos podem viver sob o mesmo teto. Isso é mais comum entre famílias de imigrantes e pessoas de minorias étnicas. O mesmo acontece com o uso regular de transporte público.

É por isso que alguns organizadores comunitários em cidades que enfrentam taxas mais altas de poluição do ar devido à atividade da indústria estão fazendo todo o possível para se conectar com os locais e mantê-los informados sobre o vírus.

Em Richmond, Califórnia, sede da Refinaria Chevron Richmond, que foi alvo de críticas nos últimos anos por liberar gases tóxicos, a Rede Ambiental da Ásia e do Pacífico (APEN, na sigla em inglês) tenta fornecer aos membros informações vitais sobre como se proteger contra o vírus.

Muitos dos membros do grupo são idosos e muitos sofrem de asma ou câncer. Até agora, a organização não relatou nenhum caso confirmado de COVID-19. Como a APEN trabalha com asiáticos-americanos, também se preocupa especialmente com o aumento do preconceito racial e crimes de ódio, disse Megan Zapanta, diretora organizadora da rede em Richmond, ao Gizmodo. Por fim, os recursos de que essas comunidades precisam durante o período do COVID-19 — habitação estável, acesso à saúde, empregos seguros — são o que precisam sempre, independente da pandemia.

“Queremos realmente pensar em resiliência em todos os tipos de termos, onde não é apenas resiliência quando há um desastre ou pandemia gigante”, disse Zapanta. “Ou também resiliência quando há uma crise econômica, com todas essas coisas relacionadas, ou quando há uma crise imobiliária.”

O governo dos EUA tem um controle limitado sobre a disseminação do COVID-19. No entanto, a resposta do governo — melhorar a limpeza do transporte público e injetar mais de um trilhão de dólares no mercado — mostra o que é possível, haja uma pandemia ou não. A resposta ao coronavírus nos dá uma ideia do que o governo dos EUA está disposto a fazer quando entra no modo de emergência. A vergonha é que nossos líderes tenham que esperar pelo desastre para implementar essas políticas.

“Sabemos que agora temos a tecnologia para fechar essas instalações [poluentes] e mudar para energias renováveis ​​mais limpas e parar essa exposição que afeta predominantemente comunidades de baixa renda e comunidades de minorias étnicas”, disse Mitchell. “E que isso terá efeito imediato na melhoria da saúde e ajudará a reduzir a suscetibilidade a outras doenças como o COVID-19.”

O governo federal pode optar por salvar vidas o ano todo, se também enfrentar essa pandemia de poluição do ar. Fazer isso pode salvar vidas em semanas. Comunidades mais saudáveis ​​são sempre a resposta certa e estão melhor equipadas para sobreviver a esses tipos de desastres globais de saúde. Vamos começar por aí.

Fonte: Gizmodo

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Novos blocos buscam turbinar óleo e gás em territórios tradicionais, sob temor de fracking

Técnica de fraturamento hidráulico leva risco a aquíferos, e não há clareza sobre intenção de empresas em adotar a prática nas novas frentes de combustíveis fósseis Os muras de Sissaíma, uma pequena terra indígena à espera de demarcação na região de Careiro da Várzea, no leste do Amazonas, estão cercados por fazendas e búfalos. O fogo está incorporado à rotina

Leia Mais »

Pesquisa internacional aponta pane em ciclo hídrico global

Desde o início do século 20, o padrão de chuva no mundo está cada vez mais imprevisível, com aumento de secas ou tempestades extremas. Aumento na variabilidade da precipitação coloca em risco os ecossistemas e a existência humana Precipitação de Cumulonimbus arcus sobre Zhuhai, China – (crédito: GAO Si) Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade da Academia Chinesa de

Leia Mais »

5 anos de derramamento de petróleo: audiência discute consequências do maior desastre ambiental na costa marítima brasileira

Nesta terça-feira (10/9),  acontece a  Reunião Conjunta das Comissões de Amazônia e dos Povos Originários e Tradicionais; Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. A Audiência Pública será realizada na Câmara dos Deputados, em Brasília, às 13 horas, no plenário 12, atendendo ao pedido do deputado Túlio Gadêlha (Rede-PE), que preside a  Frente Ambientalista Parlamentar e o Grupo de Trabalho para Uso

Leia Mais »

Leilão do Juízo Final: estudo técnico motiva a ANP a adotar novos critérios socioambientais para a inclusão de blocos exploratórios e de área com acumulações marginais da Oferta Permanente de Concessão – OPC

Na última terça-feira, 3 de setembro, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) realizou a Audiência Pública nº 02/2024, onde foram discutidas as alterações propostas na minuta do edital da Oferta Permanente sob o Regime de Concessão (OPC). O evento recebeu contribuições de 11 organizações , entre elas, o Instituto Internacional ARAYARA, em colaboração da Coalizão Não

Leia Mais »