A governança global, atualmente estruturada pela Carta das Nações Unidas de 1945, está defasada e falha em garantir uma resposta efetiva à crise climática. Essa foi a provocação central do painel “Youth for UN Charter Review and Climate Democracy: Towards a Thriving Future for All Peoples and Our Planet” (Juventude pela Revisão da Carta da ONU e Democracia Climática), realizado no ARAYARA Amazon Climate Hub. O debate, que teve a mediação de Helen Pazmay (Equador), defendeu o clamor por uma democracia climática que dê voz e poder de voto direto à juventude e aos cidadãos em fóruns como a ONU e as COPs.
A promessa que não incluiu “nós, as pessoas”
Vernita Fort (CUNCR Board) iniciou o debate examinando a Carta das Nações Unidas, a constituição global escrita há 80 anos. Ela destacou que, embora as primeiras palavras do documento sejam “Nós, as Pessoas das Nações Unidas”, essas pessoas não estavam representadas na mesa em 1945.
“Um terço do mundo ainda vivia sob colonialismo, apenas cinco nações negras eram reconhecidas e permitidas a participar”, pontuou, indicando a exclusão histórica.
A promessa de representação, segundo ela, foi transferida para os jovens embaixadores, mas a estrutura ainda impede a participação direta. Vernita Fort celebrou a notícia de que líderes como Lula já manifestaram interesse em avançar na reforma da ONU, sublinhando que não existe uma assembleia de povos ou de juventudes dentro da organização.
O direito de participar e votar
Damianos GIannis (Youth Climate Ambassador) reforçou o coro da juventude por um espaço de poder, dada a urgência das crises mundiais. Ele ressaltou que a juventude é quem sofrerá as piores consequências da crise, mesmo sendo menos responsável pelas causas, o que lhes confere o direito transgeracional de participar das discussões.
Giannis alertou que a participação vai além do ativismo: a juventude enfrenta desafios de recursos para participar de forma mais “profissional,” e ativistas sofrem intensas ameaças virtuais e físicas.
“Votar é uma parte integral, talvez mais importante da democracia global e climática, precisamos deixar os povos e as juventudes votarem na ONU e em esferas como a União Europeia, além de participar e votar em COPs.”
O mito da liderança climática estatal
Hanna Lein-Mathisen trouxe uma visão crítica sobre a falha da governança global baseada na soberania estatal. Ela citou o caso de seu próprio país, a Noruega, que se apresenta como líder climática, mas é um dos maiores produtores de petróleo — suas emissões só não entram na conta nacional porque o petróleo é queimado em outros lugares.
Para Hanna, essa falha demonstra a necessidade de rever os acordos mundiais e buscar uma real colaboração internacional. Ela argumentou que a juventude, que herdará o planeta, é ouvida em um âmbito muito limitado, especialmente a de países menos desenvolvidos.
“Com a estatização, e com essa visão de soberania dos estados como a questão mais importante no mundo hoje, não vamos ter ação efetiva em relação às mudanças climáticas,” alertou.
A saída, para ela, reside em “real cooperação entre estados e mais poder à ONU, e mais poder de voto para juventude e cidadãos planetários,” garantindo que novas estruturas da ONU deem espaço para intervenções reais da juventude, e não apenas modelos de aprendizado.
Foto: Odaraê Filmes






