O que o desmatamento tem a ver com a aceleração no ritmo das epidemias e pandemias, como a atual de coronavírus? Tudo. E quem diz isso não faz parte de nenhum grupo ecologista radical. A afirmação está, por exemplo, em artigo publicado pelo Fórum Econômico Mundial, entidade que reúne uma vez por ano os líderes empresariais e políticos do mundo em Davos (Suíça). Segundo pesquisa, 31% dos 12.012 surtos em todo mundo entre os anos de 1980 e 2013 estão ligados diretamente a ambientes que foram devastados.
O cálculo é que 65% das doenças que surgiram nas últimas quatro décadas sejam zoonoses. Animais silvestres, seja por caça, comércio ou perda de habitat, entraram em contato com o homem, passando doenças que antes estavam restritas à selva. Foi assim com o ébola, zika, Aids e agora com o coronavírus.
A origem mais aceita cientificamente é que o Covid-19 contaminou humanos a partir do mercado de Wuhan, na China, que comercializava animais (vivos ou mortos) como morcegos, cobras, civetas, entre outros animais silvestres. E essa é uma história que se repete. O surto de ébola de 2014 na África Ocidental se deu por contato com macacos. Já as mortes pelo nipah em Bangladesh, em 2004, aconteceram pela proximidade com fluídos de morcegos chamados de “raposas voadoras”. Esses dois vírus têm letalidade bem maior que o coronavírus e são classificados como “bombas-relógio” que também podem causar pandemias.
Por outro lado, o aquecimento global está derretendo geleiras que preservaram vírus antigos que estavam encapsulados e eram desconhecidos até agora. “Esses desequilíbrios e desregulações criam fenômenos que depois a ciência tem que se preocupar e correr para resolver”, afirma Ricardo Abramovay, professor sênior do Programa de Ciência Ambiental da USP.
A crise climática torna-se ainda mais urgente.
Fonte: RODRIGO BERTOLOTTODE ECOA, EM SÃO PAULO