+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Cegos pela poeira do carvão, mas de olho em 2022

Foto: Reprodução

É de comover o mais duro dos corações o palavrório de autoridades públicas e de representantes bem pagos de empresas ultrapoluidoras quando enchem a boca para falar uma expressão vazia de sentido e cheia de segundos interesses: transição justa.

A cena – patética – reproduziu-se em quase duas horas de uma reunião online da Comissão de Economia da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, que debateu com urgência formal um plano do governo do Estado para atender as empresas da cadeia de produção do carvão mineral.

A indústria carbonífera degrada profundamente o Estado há pelo menos uns 70 anos – mas só agora Vossas Excelências resolvem tratar da “urgência” do assunto. Não havia na reunião um convidado sequer das populações impactadas pelas crateras de aparência lunar, pelas inúmeras vítimas das doenças respiratórias causadas pela extração do carvão, nem pela ingestão da água putrefata dos rios onde antes a vida se manifestava.

Mas, a Comissão fez questão de convidar os representantes da Engie, a empresa dona da usina termelétrica Jorge Lacerda, um monstrengo instalado em Santa Catarina, ultrapassado e anti-econômico, que sobrevive há anos dos subsídios fartos que escorrem anualmente dos cofres arrombados do Ministério das Minas e Energia (MME).

Ah, estava lá também uma técnica de enorme presteza e capacidade a defender que o Estado brasileiro cumpra célere o seu papel de sustentar Jorge Lacerda e todas as usinas a carvão que permanecem no século 17. O discurso era o de sempre: “temos de manter empregos”, “os subsídios se estendem até 2027” etc.

Sim, anualmente, esses dinossauros elétricos engolem quase 800 milhões de reais em subsídios – e só disso sobrevivem, porque o carvão brasileiro tem baixo poder calorífico e, afinal, quem precisa ser eficiente se os subsídios são bons, fartos e contam que parlamentares ávidos por entrar no circuito do dinheiro sujo de carvão e sabe-se lá de que mais.

Enfim, a indústria do carvão mineral – que pouco se importa com trabalhadores que morrem das doenças laborais e só deles se lembra na hora de esconderem-se atrás do discurso de uma suposta necessidade de lhes manter o emprego -, em verdade é uma espécie de buraco negro estelar, a sugar recursos financeiros, vidas humans, água dos rios e o azul dos céus.
É um fim em si mesmo.

E Vossas Excelências? Aquelas que esquecem de convidar o povo para reuniões na casa supostamente do povo?

Cegos pela poeira carbonífera mortal que emana à noite das chaminés, já estão de olhos bem abertos nas eleições de 2022!

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

ARAYARA NA MÍDIA | Apenas 7% das prefeituras gaúchas participaram dasetapas municipais da Conferência Nacional do MeioAmbiente

Apenas 7,4% das prefeituras gaúchas participaram da etapa municipal da 5ªConferência Nacional do Meio Ambiente. Isso representa 37 de 497 cidades do RioGrande do Sul. Os encontros antecedem o evento estadual, que ocorrerá entre 12 e 13de março, e o nacional, que ocorrerá em maio em Brasília (DF).   O levantamento é do Instituto Internacional Arayara, uma organização da sociedadecivil

Leia Mais »

Cresce oposição à conclusão de Angra 3

De norte a sul do país, a sociedade civil brasileira reivindica a imediata e definitiva desistência de concluir a usina atômica Angra 3 em manifesto enviado ontem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinado por mais de 450 entidades, movimentos sociais e populares, políticos, cientistas do clima, militantes socioambientais e outras personalidades, inclusive três ex-ministros do meio ambiente. A

Leia Mais »

O planeta em alerta: a luta contra o colapso climático

O Brasil, ao sediar a COP 30, tem uma oportunidade única de impulsionar a transformação em direção a uma transição energética justa e a um futuro sustentável para todos JULIANO BUENO DE ARAÚJO — Doutor em urgências e emergências ambientais e diretor técnico do Instituto Internacional ARAYARA À medida que as evidências científicas sobre a gravidade das mudanças climáticas se

Leia Mais »

Soluções para os desafios climáticos no Norte Pioneiro do Paraná são debatidas em conferência 

A 1ª Conferência Livre Intermunicipal de Meio Ambiente de Sapopema, Figueira e Ibaiti ocorreu em 25 de janeiro, reunindo representantes da sociedade civil, do setor público e do meio empresarial para debater soluções locais e regionais diante dos desafios das mudanças climáticas. O evento, promovido pelo Instituto ARAYARA, Observatório do Carvão Mineral e a ONG Fé, Paz e Clima, foi

Leia Mais »