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Energia solar cada vez mais barata “surpreende o mundo”

Você pode não estar por dentro da transformação que o mundo vem passando por conta das energias renováveis, mas nem pesquisadores, estudiosos e até mesmo organizações internacionais que estudam o tema estavam preparados para o tamanho do crescimento.

No último sábado, o jornal britânico The Guardian dedicou um de seus artigos à impressionante ascensão da energia solar no mundo. De acordo com a publicação, ela se tornou a energia mais barata que a humanidade já viu e está surpreendendo o mundo – sem que ninguém tenha previsto. Eram poucos os que acreditavam que o crescimento da geração de energia limpa fosse se tornar tão intensa nos últimos anos.

Em 2000, a Agência Internacional de Energia (IEA) fez uma previsão de que, em 2020, o mundo teria instalado um total de 18 gigawatts de capacidade solar fotovoltaica. Apenas sete anos depois, a previsão caiu por terra quando cerca de 18 gigawatts de capacidade solar foram instalados em um único ano.

Desde que a agência foi fundada em 1974 para medir os sistemas de energia do mundo e antecipar mudanças, o World Energy Outlook anual tem sido um documento de leitura obrigatória para formuladores de políticas em todo o mundo.

Nas últimas duas décadas, no entanto, a IEA tem falhado em ver o crescimento maciço das energias renováveis ​​chegando. A organização não apenas subestimou a aceitação da energia solar e eólica, mas também superestimou a demanda por carvão e petróleo.

A Agência Internacional de Energia Renovável diz que o custo da eletricidade da energia solar fotovoltaica caiu 82% na última década, enquanto os custos da energia eólica onshore e offshore caíram 39% e 29%, respectivamente.

Hoje, a Forbes destaca um novo relatório que aponta como as energias renováveis, que custam cada vez menos, ​​podem eliminar a eletricidade dos combustíveis fósseis até 2035.

As energias solar e eólica têm o potencial de atender 100 vezes a demanda global de eletricidade, e os custos dessas energias renováveis ​​estão caindo tão rapidamente que os combustíveis fósseis podem ser eliminados da geração de eletricidade até 2035, de acordo com o relatório da organização Carbon Tracker, do Reino Unido.

O relatório revela que as energias solar e eólica têm potencial para produzir milhares de petawatt-hora (PWh) de eletricidade por ano, enquanto a atual demanda mundial de eletricidade é de apenas 27 PWh.

Além disso, o Carbon Tracker mostra que, se todos optassem por obter a nossa energia apenas da energia solar, a terra necessária ocuparia apenas 450.000 km2 – apenas 0,3% da área terrestre total do mundo e menos do que o espaço ocupado atualmente por operações da indústria de combustível fóssil.

Com essa descoberta, a organização afirma que “a era dos combustíveis fósseis acabou”. Nas taxas de crescimento atuais, as energias solar e eólica poderiam eliminar os preços dos combustíveis fósseis dos mercados de eletricidade do mundo em meados da década de 2030 e, em 2050, poderiam substituir totalmente os combustíveis fósseis.

Brasil a caminho da energia solar

No Brasil, estima-se que até 2024 mais de 880 mil sistemas de energia solar estarão em funcionamento.

O mercado de energia solar vem crescendo consideravelmente no país, principalmente para uso residencial, de acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR). A redução dos gastos com faturas de energia contribui para economia do país e geração de empregos.

Vale destacar que uma usina solar de 100 MWp gera energia para 20 mil casas e evita a emissão de 175 mil toneladas de CO2 por ano.

Leia também: De um lado, a queda dos combustíveis fósseis. Do outro, o aquecimento global

Emissões de carbono vão disparar e atingir segunda maior taxa da história em 2021

Um relatório publicado hoje (20) pela Agência Internacional de Energia (IEA) aumenta a preocupação e coloca as esperanças climáticas ainda mais fora de alcance. As emissões de dióxido de carbono devem saltar este ano para o segundo maior aumento anual da história, à medida que as economias globais investem forte em combustíveis fósseis para recuperar as perdas econômicas causadas pela Covid-19.

O aumento deve afastar o planeta das metas climáticas, a menos que os governos ajam rapidamente, alertou a Agência Internacional de Energia.

O uso crescente de carvão – o combustível fóssil mais poluente – para eletricidade está causando o aumento das emissões, especialmente na Ásia, mas também nos Estados Unidos. A recuperação do carvão causa particular preocupação porque ocorre apesar da queda nos preços da energia renovável, que agora é mais barata do que o carvão.

Em entrevista ao jornal The Guardian, o diretor da IEA, Fatih Birol, considerado uma das maiores autoridades mundiais em energia e clima, disse: “Isso é chocante e muito perturbador. Por um lado, os governos hoje estão dizendo que a mudança climática é sua prioridade. Mas, por outro lado, estamos vendo o segundo maior aumento de emissões da história. É realmente decepcionante”.

As emissões precisam ser reduzidas em 45% nesta década, se o mundo quiser limitar o aquecimento global a 1,5 ° C (2,7 ° F), alertaram os cientistas. Isso significa que 2020 tem que ser a década da mudança de rumo, antes que o nível de carbono na atmosfera aumente muito, para evitar níveis perigosos de aquecimento. Mas a escala da atual recuperação das emissões da crise da Covid-19 significa que “nosso ponto de partida definitivamente não é bom”, disse Birol.

Birol comparou o atual aumento das emissões à crise financeira, quando as emissões aumentaram mais de 6% em 2010, depois que os países tentaram estimular suas economias por meio de energia de combustível fóssil barata. “Parece que voltamos a repetir os mesmos erros”, alertou ao jornal inglês. “Estou mais decepcionado desta vez do que em 2010.”

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, está convocando uma cúpula do clima esta semana, com a expectativa de participação de líderes de 40 países, na qual ele irá demandar os países a apresentarem compromissos firmes na redução das emissões nesta década.

Dados alarmantes do relatório

A IEA é considerada o padrão para dados de energia e suas projeções para 2021 são baseadas em sondagens abrangentes de todo o mundo, incluindo dados de fontes de energia existentes e novas usinas programadas para entrar em operação.

Os dados de energia do final do ano passado mostraram os combustíveis fósseis à frente dos níveis de 2019, e o aumento continuou na primeira parte deste ano.

Em seu Global Energy Review, a IEA descobriu que as emissões globais de carbono do uso de energia, que responde pela grande maioria das emissões de gases de efeito estufa, estavam em curso para aumentar em 1,5 bilhão de toneladas em 2021, depois de ter caído no ano passado.

Isso representa um aumento de 5% para 33 bilhões de toneladas de dióxido de carbono no ano. Após mais de meia década de declínio, a demanda global por carvão deve crescer 4,5%, aproximando-se do pico de todos os tempos em 2014.

A China planeja construir dezenas de usinas termelétricas a carvão, apesar de prometer no ano passado atingir emissões líquidas zero até 2060. O uso de carvão também está aumentando nos EUA, revertendo as quedas anuais desde 2013.

“Não adianta que os países tenham a intenção de consolidar uma agenda climática séria e concreta quando andam na completa contramão disso. Realizam-se reuniões, criam-se metas, mas continuam investindo no que deveriam estar cortando de qualquer plano futuro. E o que veremos pela frente, se as mudanças não ocorrerem agora, é uma catástrofe climática anunciada”, reforça o diretor do Instituto Arayara, Juliano Bueno de Araújo.

Porto Alegre lança Frente Parlamentar das Energias Sustentáveis e Renováveis nesta sexta-feira

A cidade de Porto Alegre dá um passo importante nesta sexta-feira (09), às 15h, com o lançamento da Frente Parlamentar das Energias Sustentáveis e Renováveis. A iniciativa, que contará com a participação do Instituto Internacional Arayara, tem como objetivo debater a geração de energia sustentável e todas as possibilidades econômicas, ambientais e culturais que isso implica para o município.

A proposta é da vereadora Cláudia Araújo (PSD) – que vem realizando reuniões periódicas com a Arayara para planejar ações municipais voltadas para as energias renováveis, o meio ambiente e as mudanças climáticas – como a criação da frente parlamentar e a geração de empregos dentro da indústria de energias renováveis.

Com apoio do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), se trata de uma importante iniciativa da maior capital da região Sul do Brasil, que toma a decisão de não só investir na qualidade de vida da população, mas incentivar a economia local, já que a proposta pode gerar mais de 100 mil empregos dentro da área de energia e sustentabilidade nos próximos anos.

No requerimento, a vereadora destaca que a utilização de recursos renováveis é benéfica para a economia também por exigir menos investimentos que a indústria de combustíveis fósseis.

Ressalta, ainda, que fontes limpas de energia são aliadas do meio ambiente, por preserveram recursos esgotáveis, garantirem a manutenção dos ecossistemas e ainda reduzirem a emissão de gases poluentes. A criação da frente parlamentar foi aprovada por unanimidade.

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“Hoje, a energia limpa é extremamente urgente e necessária. Falamos em fontes renováveis de energia, como a solar, eólica, fonte de biomassa, que estão disponíveis através dos nossos recursos naturais. Temos algumas discussões importantes para trazer com essa frente e esse assunto precisa ser incluído cada vez mais porque é o futuro”, ressaltou a vereadora na aprovação do projeto.

Com intuito de criar e debater as novas formas de buscar e gerar energia, a Frente Parlamentar das Energias Sustentáveis e Renováveis buscará acolher as discussões para ampliar as benfeitorias para o município.

Queremos avançar com esta pauta, que é extremamente importante e irá proporcionar ganhos quanto à redução das emissões de gases de efeito estufa, sobre a alto geração de energia e a geração de empregos para o clima. Quando realizamos uma política pública consistente de descarbonização, estamos gerando uma transição justa de energia que beneficia todos”, reforça o engenheiro e diretor do Instituto Internacional Arayara, Juliano Bueno de Araújo.

Vale lembrar o estudo recente liderado pelo WRI Brasil e pela iniciativa New Climate Economy, que apontam que, ao integrar a sustentabilidade como uma política transversal no planejamento e implementação de decisões de investimento, o Brasil pode se beneficiar das tendências dos mercados financeiros e ampliar o acesso ao financiamento privado.

Após analisar uma série de ações sustentáveis, como implementação de veículos híbridos a etanol e elétricos, ônibus elétricos, caminhões a célula de combustível, biocombustível e eficiência energética, alguns resultados constatam que o Brasil pode obter benefícios econômicos cumulativos de R$ 2,8 trilhões em valor do PIB até 2030 – o dobro da poupança obtida pela reforma da Previdência.

“Responder de forma integral como o Brasil deve construir uma economia mais eficiente, resiliente, justa e sustentável é algo a ser feito em sociedade. O que este estudo se propõe é mostrar uma série de elementos contundentes que evidenciam como o Brasil nunca esteve tão apto a implementar esta novo economia e o quanto o país e seu povo têm a ganhar com ela”, aponta.

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Dia Mundial da Água: Como a exploração de combustíveis fósseis ameaça nosso bem mais vital

Dia Mundial da Água. Dia de conscientizar, mobilizar, alertar e ressaltar a importância de proteger o bem mais precioso do planeta e que corre riscos de contaminação e escassez por todos os lados.

Dados da UNICEF e da Organização Mundial da Saúde apontam que uma em cada três pessoas no mundo não possui acesso à água potável e três bilhões de pessoas não possuem instalações básicas para lavar as mãos de forma adequada.

Além disso, o mundo ainda enfrenta, diariamente, questões urgentes ligadas à contaminação e poluição dos recursos hídricos, ainda mais agravadas pela exploração de combustíveis fósseis e, consequentemente, as mudanças climáticas.

Não é nenhuma novidade que a exploração de combustíveis fósseis está diretamente ligada à contaminação da água por todo o mundo. O desenvolvimento de carvão, petróleo e gás representa inúmeras ameaças aos cursos de água e lençóis freáticos.

Derramamentos e vazamentos de óleo durante a extração ou transporte poluem as fontes de água potável e colocam em risco toda a água doce e ecossistemas oceânicos.

Vale lembrar que ainda nem se completaram dois anos do mega acidente petroleiro que atingiu mais de 2 mil quilômetros do litoral das regiões Nordeste e Sudeste, gerando prejuízos bilionários para a indústria do Turismo, a indústria da Pesca e ao Meio Ambiente.

Agora, enfrentamos um novo desafio. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) quer colocar em risco as águas que banham o Parque Nacional de Fernando de Noronha e outros santuários naturais para explorar petróleo e gás. Junte-se à nossa campanha e #SalveFernandodeNoronha.

Os perigos da exploração

Todas as operações de perfuração, fraturamento e mineração geram enormes volumes de águas residuais, que podem ser carregadas com metais pesados, materiais radioativos e outros poluentes.

As operações de mineração de carvão impactam o abastecimento de água, geralmente com efeitos de longa duração. A questão fundamental envolve a contaminação de rios, lagos e aquíferos próximos à mina de carvão – geralmente água altamente ácida contendo metais pesados ​​como arsênico, cobre e chumbo.

A maioria das cinzas de carvão ainda é armazenada em tanques ou fossos sem revestimento. Com o tempo, os metais pesados ​​nas cinzas podem escapar para os cursos d’água próximos e contaminar a água potável.

No Rio Grande do Sul, estamos lutando contra a instalação de uma mina de carvão que traz riscos graves de abastecimento e contaminação da água que abastece milhões de pessoas, além de uma série de danos ambientais que podem ser irreversíveis na região.

O licenciamento ambiental concedido para a Mina Guaíba não previu uma série de riscos e impactos na qualidade da água do Rio Jacuí, responsável por 86,3% da vazão média de aporte ao Lago Guaíba, ou seja, é o maior responsável pela quantidade de água. Participe da campanha.

O fracking – fraturamento hidráulico – e seus fluidos tóxicos também contaminam a água potável. Dentre os químicos estão benzeno, diesel, naftaleno, cloreto de benzilo, formaldeído, bário e chumbo.

Estes são só alguns dos problemas causados pelo fracking:

  • Declínio de água de lençóis freáticos
  • Altas concentrações de químicos nos lençóis freáticos devido a derramamentos de fluídos de fracking e químicos, e à injeção em poços
  • Injeção de fluídos de fracking diretamente nos lençóis freáticos
  • Despejo de fluído de fracking em águas de superfície
  • Despejo de fluído em lagoas não impermeabilizadas que levam à contaminação dos lençóis freáticos

As indústrias ainda armazenam resíduos de fracking em fossos a céu aberto ou poços subterrâneos que podem vazar ou transbordar para os cursos d’água e contaminar os aquíferos com poluentes ligados ao câncer, defeitos congênitos, danos neurológicos e muito mais.

A queima do petróleo, carvão e gás ainda é responsável pela alteração química básica do oceano, tornando-o mais ácido. Nossos mares absorvem até um quarto de todas as emissões de carbono causadas pelo homem. As mesmas emissões estão diretamente ligadas às mudanças climáticas que ameaçam o planeta.

Forte impacto das mudanças climáticas

Para quem não sabe, a água é o principal meio pelo qual sentiremos os efeitos das mudanças climáticas. A disponibilidade de água está se tornando menos previsível em muitos lugares, e o aumento da incidência de inundações ameaça destruir os pontos de água e instalações de saneamento, além de contaminar as fontes de água.

Em algumas regiões, as secas estão aumentando a escassez de água, afetando a saúde e a produtividade das pessoas. Garantir que todos tenham acesso a serviços sustentáveis ​​de água e saneamento é uma estratégia crítica de mitigação das mudanças climáticas para os próximos anos.

Já passou da hora de tratarmos as mudanças climáticas como pauta prioritária e urgente. Elas não esperam por consensos institucionais, afetam toda a vida do planeta e o nosso recurso mais vital, que é a água. Estamos falando de um futuro muito próximo em que se chega ao fim da vida como conhecemos hoje”, ressalta Nicole Oliveira, diretora do Instituto Internacional Arayara.

A Arayara é uma das organizações que fazem parte do Acordo de Glasgow, um compromisso de pessoas e organizações em todo o mundo com a tomada de medidas concretas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa de forma estratégica.

Conheça alguns dados importantes sobre o impacto das mudanças climáticas:

  • Os impactos das mudanças climáticas são mais sentidos por meio de mudanças nas condições hidrológicas, incluindo mudanças na dinâmica da neve e do gelo. (ONU, 2020)
  • As mudanças climáticas terão seu impacto mais direto na sobrevivência infantil por meio de três canais diretos: mudança no ambiente de doenças, maior insegurança alimentar e ameaças à água e ao saneamento. (UNICEF, 2019).
  • As mudanças climáticas devem aumentar o número de regiões com escassez de água e exacerbar a escassez em regiões já com escassez de água. (ONU, 2020)
  • Em 2050, o número de pessoas em risco de inundações aumentará de seu nível atual de 1,2 bilhão para 1,6 bilhão. Do início a meados da década de 2010, 1,9 bilhão de pessoas, ou 27% da população global, vivia em áreas com potencial de escassez de água. Em 2050, esse número aumentará para 2,7 a 3,2 bilhões de pessoas. (ONU, 2020)
  • Mais de um quinto das bacias do mundo experimentaram recentemente aumentos rápidos em sua área de água superficial indicativo de enchentes, um crescimento em reservatórios e terras recentemente inundadas; ou declínios rápidos na área de água superficial, indicando o esgotamento de lagos, reservatórios, pântanos, várzeas e corpos d’água sazonais. (UN-Water 2021)

O que se projeta é que temperaturas mais altas e condições climáticas mais extremas e menos previsíveis afetem a disponibilidade e distribuição da chuva, derretimento da neve, fluxos dos rios e lençóis freáticos, deteriorando ainda mais a qualidade da água.

Comunidades de baixa renda, que já são as mais vulneráveis ​​a quaisquer ameaças ao abastecimento de água, provavelmente serão as mais afetadas.

Prevêem-se mais inundações e secas severas. Mudanças na disponibilidade de água também afetarão a saúde e a segurança alimentar e já provaram desencadear a dinâmica dos refugiados e a instabilidade política.

Neste Dia Mundial da Água, reforçamos ainda mais a urgência de se tratar tantas pautas que são vitais para o planeta e a vida.

“Banho-maria nuclear por uma década”, aponta Roberto Kishinami

Aparentemente, o principal foco da Medida Provisória (MP) 988, aprovada no dia último e enviada à sanção do Presidente Jair Bolsonaro, deveria tratar dos critérios de reajuste de tarifas de energia elétrica nos próximos anos. Mas, esmiuçada por quem monitora há décadas o setor energético, a MP revela outros objetivos.

“O que a 998 fez mesmo foi consolidar as térmicas a gás natural liquefeito importado operando na base as próximas grandes obras do sudeste, em substituição às hidrelétricas do passado”, analisa o físico paulista Roberto Kishinami, coordenador do Instituto Clima e Sociedade, um dos principais pesquisadores brasileiros no tema da transição energética.

Esmiuçar os objetivos e definições dessa MP – que saiu do Palácio do Planalto em 2020, tramitou rapidamente pela Câmara dos Deputados e o Senado e já retornou à sanção presidencial – é importante para compreender as políticas públicas que serão adotadas nos próximos anos em matéria de energias renováveis, hidroeletricidade e conservação de energia.

Mas, fundamentalmente, também ajuda a entender as entrelinhas da MP 998 ajuda a montar o quebra-cabeças do setor nuclear, área em que predomina a opacidade institucional e por onde fluem bilhões de reais de dinheiro público com pouquíssima supervisão do público e até dos órgãos de controle interno do Estado Brasileiro, como a Controladoria-Geral da União, o Tribunal de Contas da União e o Ministério público federal.

Segundo Kishinami, que entre 1994 e 2001 dirigiu o Greenpeace Brasil, com a MP 998 o Ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, está “garantindo que esse setor continue pendurado no Orçamento por mais algumas décadas”.

De fato: entre outras medidas, a MP possibilitará ações de longo alcance, como a transferência para a União das ações de titularidade da Comissão Nacional de Energia Nuclear (a CNEN, que deve ser substituída parcialmente nos próximos anos por uma agência reguladora do setor nuclear, ainda a ser criada, e que assumirão parte das atribuições da Comissão).

Além de indicar a criação de um novo ente regulatório, a 998 também possibilitará uma reorganização do capital e dos contratos sociais das empresas estatais Indústrias Nucleares do Brasil S.A. (INB, encarregada da pesquisa e lavra de minerais radioativos), e da Nuclebrás Equipamentos Pesados S.A. (Nuclep).

A seguir, Kishinami aponta alguns rumos que podem seguir o setor de energia no Brasil a partir da provável sanção da MP por Bolsonaro.

O que a MP 998 significa especificamente para a área de energias renováveis, que vêm tendo uma boa expansão nos últimos anos, no Brasil?

Para as renováveis em geração centralizada o efeito não é imediato. Como o crescimento delas está acelerado no mercado livre, o impacto vai ser sentido nos novos empreendimentos.

E para o setor nuclear, que parece ser o principal obejtivo da MP?

Angra 3 não vai ser privatizada e tampouco completada. O que a 998 fez foi manter o “banho maria” por mais uma década. O mandato do (Ministro das Minas e Energia) Bento Albuquerque é consolidar o Programa Nuclear Brasileiro, algo que ele está fazendo “pelas beiradas”, ajeitando a INB e encaminhando a mineração em (Santa) Quitéria, no Ceará (onde a INB quer explorar urânio e fosfato, em consórcio com a empresa privada Galvani), ao mesmo tempo em que arruma o tapete que esconde Caetité, na Bahia (onde há seríssimos problemas ambientais e sociais deccorrentes de anos de mineração do urânio). Como ele não sabe quando sai – com o Centrão de olho na cadeira dele -, está garantindo que esse setor continue pendurado no Orçamento por mais algumas décadas.

O que a 998 fez mesmo foi consolidar as térmicas a gás natural liquefeito importado operando na base as próximas grandes obras do Sudeste, em substituição às hidrelétricas do passado. Elas vão inclusive deslocar o Mecanismo de Realocação de Energia (o MRE, instrumento para compartilhar os riscos hidrológicos no Sistema Elétrico Integrado nacional) e criar uma conta gigantesca para os consumidores daqui a alguns anos.

Pela sua argumentação, o programa nuclear virou um fim em si mesmo? Ou seja, ele visa somente a se refinanciar e manter um fluxo mínimo de recursos orçamentários, é isso?

Exatamente. Em todo mundo essa é uma área que só orçamentos federais conseguem manter. É uma “mamação” eterna.

O que os críticos do Programa Nuclear Brasileiro argumentam é que, por trás dele e de suas frequentes renovações, há o interesse dos militares em dar escala ao setor para viabilizar técnica e economicamente os seus próprios interesses na área atômica. Mesmo que não seja para viabilizar a bomba, mas para viabilizar navios e submarinos com propulsão nuclear. O que o Sr. Acha disso?

Eles estão se divertindo o suficiente com o submarino nuclear (os cascos de vários deles está sendo construído no estaleiro da Odebrecht na cidade de Itaguaí, no Rio de Janeiro, como resultado do programa militar desenvolvido com o governo da França). Navios não teriam qualquer utilidade prática. Seriam só bons alvos, dependendo de onde estivessem.

O que conta para a armada é ter um programa que lhes permita fazer parte dos vários comitês internacionais sobre nuclear, desarmamento etc. Hoje, acredito que nunca quiseram ter, de fato, um artefato nuclear. Sempre falaram em “ter a capacidade de fazer”. Algo como “saber ler as receitas que o Google oferece”.

Então, a rigor, os militares não querem ter a capacidade atômica? Querem ter a esses espaços e acesso a recursos muito grandes do orçamento público?

É isso mesmo.

De um lado, a queda dos combustíveis fósseis. Do outro, o aquecimento global

De um lado, a queda dos combustíveis fósseis. Do outro, o aquecimento global

A notícia boa é que a previsão é sombria para as emissões de carbono e o consumo de carvão e petróleo no mundo. A ruim é que ainda caminhamos para um aquecimento global de mais de 3 graus em menos de 100 anos, e devemos fazer o que for preciso para mudar esse cenário.

É o que aponta a New Energy Outlook 2020 – análise anual da BloombergNEF sobre o futuro da economia de energia.

De acordo com o estudo, as emissões globais de carbono relacionadas ao consumo de energia caíram 8% em 2020.

Apesar de subirem novamente com a recuperação da economia, nunca mais irão atingir os níveis de 2019.

A queda na demanda de energia durante a pandemia removerá cerca de 2,5 anos de emissões do setor até 2050.

A demanda de carvão também está em queda livre em toda a Europa e nos Estados Unidos, tendo atingido seu pico em 2018. A de petróleo vai atingir o pico em 2035 e tecnologias de energia limpa só tendem a avançar.

Novas alternativas de energia

O crescimento dos veículos elétricos compensa o crescimento da demanda na aviação, navegação e petroquímica, e molda o futuro do petróleo. A eficiência energética em outros setores só aumenta.

As energias eólica e fotovoltaica crescerão para atender 56% da demanda mundial de eletricidade em 2050. Os países líderes podem chegar a 80%.

Essas formas de energia limpa – junto às baterias – vão levar 80% dos 15,1 trilhões de dólares investidos em nova capacidade de energia nos próximos 30 anos, de acordo com a análise.

Fonte: BloombergNEF New Energy Outlook 2020

Altas temperaturas e mudanças climáticas

O mundo ainda caminha para um aumento de temperatura.

Apesar da recente queda, as emissões de carbono aumentam novamente com a recuperação econômica em 2027. Depois diminuem 0,7% ano a ano até 2050, levando o mundo a caminho de um aquecimento de 3,3 graus até 2100.

Segundo o relatório, para conter as mudanças climáticas e manter o aquecimento global abaixo de dois graus, as emissões precisam cair 10 vezes mais rápido, em 6% ano a ano até 2050. Para 1,5 grau, a taxa exigida é 10%.

Leia também: Eleições e os riscos climáticos no Brasil

Um dos principais componentes da NEO 2020 é buscar direções para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Este ano, a energia limpa e o hidrogênio verde foram os pontos de abordagem para encontrar direções que levem à descarbonização profunda.

Temos um longo caminho pela frente para pular de 0,7% para 10% na queda das emissões. Por isso, a sociedade precisa agir e cobrar agora.

O Instituto Arayara vem buscando todas as formas de mudar essa previsão, através de ações públicas, petições, elaborando iniciativas com a população e organizações, e participando de movimentos mundiais de combate às mudanças climáticas, como o Acordo de Glasgow.