+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

ARAYARA apresenta contribuições à Carta do Bioma Pampa e crítica retrocessos ambientais no Rio Grande do Sul

Organização cobra coerência climática do governo estadual, denuncia arquivamento do Zoneamento Ecológico-Econômico e propõe inclusão de medidas sobre mineração do carvão, emergência climática e povos indígenas

O Instituto Internacional ARAYARA, referência em justiça climática e transição energética justa, apresentou suas contribuições à consulta pública da Carta do Bioma Pampa, promovida pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul, por meio da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), em parceria com o Consórcio Brasil Verde – Governadores pelo Clima.

A minuta do documento foi apresentada em 9 de outubro, durante a Conferência do Bioma Pampa, realizada no 12º Fórum Gaúcho de Mudanças Climáticas, na sede da Fiergs, em Porto Alegre. A consulta pública tem o objetivo de reunir propostas e manifestações da sociedade para aprimorar o texto que será apresentado na COP30, em Belém (PA). 

Incoerência climática e arquivamento do ZEE-RS

O gerente de Transição Energética da ARAYARA, John Wurdig, chama atenção para o arquivamento do Projeto de Lei do Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE-RS) pelo governo estadual.

“É inaceitável que o governo do Estado, sob a gestão de Eduardo Leite, tenha investido mais de R$ 5 milhões na elaboração do Zoneamento Ecológico-Econômico e, em seguida, tenha optado por arquivar o projeto. Ao mesmo tempo, promoveu alterações em mais de 200 dispositivos do Código Estadual do Meio Ambiente — e pouco depois o Rio Grande do Sul foi palco de uma tragédia climática sem precedentes. É urgente que haja coerência entre o discurso climático e as decisões do governo”, afirmou Wurdig.

Principais contribuições apresentadas pela ARAYARA

A ARAYARA propôs ajustes e acréscimos ao texto da Carta do Bioma Pampa, com foco na proteção ambiental, justiça social e fortalecimento da governança climática. Entre as contribuições enviadas estão:

-Reconhecimento da diversidade ecológica: inclusão da referência às “zonas de transição com o Bioma Mata Atlântica”, ressaltando a variedade paisagística e ecológica do Pampa.

-Reforço da emergência climática: inserção de menções ao Decreto nº 56.347/2022, à adesão do Estado às campanhas “Race to Zero” e “Race to Resilience”, e à aprovação do PL 23/2023, que propõe declarar Estado de Emergência Climática permanente no Rio Grande do Sul.

-Recuperação ambiental: destaque para a necessidade urgente de restauração das Áreas de Preservação Permanente (APPs) Hídricas, fundamentais para a proteção de rios e aquíferos.

-Planejamento territorial: inclusão do reconhecimento de que o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE-RS) é uma ferramenta estratégica para compatibilizar o desenvolvimento econômico com a conservação ambiental.

-Justiça socioambiental: inserção da frase “especialmente através da recuperação das áreas degradadas e contaminadas pela atividade de mineração do carvão”, e menção à inclusão de trabalhadoras e trabalhadores da cadeia do carvão mineral nas políticas de Transição Energética Justa e Sustentável (TEJS).

-Valorização dos povos indígenas: solicitação de menção explícita às etnias Kaingang e Mbya Guarani, reconhecendo sua presença e importância histórica no território do Bioma Pampa.

Compromisso com uma transição energética justa

Para o diretor técnico da ARAYARA Juliano Bueno, Doutor em Riscos e Emergências Ambientais e conselheiro do CONAMA, a Carta do Bioma Pampa representa uma oportunidade de o Rio Grande do Sul demonstrar liderança climática e responsabilidade socioambiental, mas apenas se incorporar medidas concretas que assegurem a justiça ambiental e a inclusão social.

“A transição energética deve ser justa, limpa e baseada na ciência. O Rio Grande do Sul tem potencial para ser referência em políticas climáticas subnacionais, desde que o governo priorize a recuperação ambiental e a proteção das comunidades afetadas pelos impactos da mineração e das mudanças climáticas”, destacou Bueno.

Sobre a Carta do Bioma Pampa

A Carta do Bioma Pampa é uma iniciativa do Governo do Estado em conjunto com o Fórum Gaúcho de Mudanças Climáticas e o Consórcio Brasil Verde. O documento consolidará compromissos para a preservação do bioma e o fortalecimento da governança climática, representando o Rio Grande do Sul nas discussões da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30).

Foto: reprodução/ Creative Commons

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

“O nosso mangue tem valor com gente”

Grito de  povos extrativistas e comunidades costeiras do litoral amazônico ecoa na COP30   Comunidades da costa amazônica lançaram neste sábado (15/11) o  documento “O GRITO DO MANGUE PELO CLIMA”. Elaborado por organizações e redes representativas de povos extrativistas e comunidades costeiras do litoral amazônico, o material reúne análises e reivindicações de populações que vivem na linha de frente da

Leia Mais »

Territórios indígenas sob pressão: impactos de petróleo, mineração e agronegócio são debatidos durante a COP30

No dia 14 de novembro, o Arayara Amazon Climate Hub sediou a mesa-redonda “Territórios indígenas na mira de grandes empreendimentos: do petróleo à mineração”, organizada por organizações de base indígena de diversas regiões e biomas do Brasil. O encontro reuniu lideranças de diferentes regiões do país para debater os impactos de empreendimentos de desenvolvimento — como mineração, petróleo, gás, hidrelétricas

Leia Mais »

Risco de Sacrifício: Amazônia Debate a Mineração Estratégica e a Corrida por Minerais na Transição Energética

A crescente demanda global por minerais essenciais à descarbonização coloca a Amazônia diante de uma encruzilhada perigosa. O painel “Amazonía y Transición Energética Justa: Propuestas para Abordar la Minería y los Derechos de Pueblos Indígenas y Comunidades Locales”, realizado no ARAYARA Amazon Climate Hub, reuniu lideranças pan-amazônicas e especialistas para debater como garantir que a busca por cobre e lítio

Leia Mais »

Workshop no Amazon Climate Hub debate impactos do fracking e pressiona setor de petróleo e gás por responsabilidade ambiental

Oito países entre Europa e América Latina já aboliram a técnica de extração por fracking. Na Colômbia, ambientalista e sociedade civil  tentam extinguir a prática, mas País continua vulnerável e sob pressão do governo que defende o fracking como ferramenta de soberania energética.  O Arayara Amazon Climate Hub sediou, na manhã desta sexta-feira (14/11), o workshop “Making Polluters Pay: How

Leia Mais »