Entre o fim de setembro e o início de outubro de 2025, o Instituto Internacional ARAYARA realizou a Missão Transição Energética Justa e Sustentável Chile-Brasil, uma agenda estratégica que colocou a organização no centro do debate latino-americano sobre o phase out do carvão e o avanço das energias limpas no continente.
Durante dez dias, o gerente de Transição Energética da ARAYARA, John Wurdig, e o analista técnico e climático Joubert Marques participaram de eventos, reuniões e visitas de campo que revelaram tanto os avanços quanto os desafios do Chile em seu processo de descarbonização — uma experiência que reforça o papel da sociedade civil na defesa de uma transição energética verdadeiramente justa e sustentável.
Diálogo regional e cobrança política pelo fim do carvão
A missão teve início com a participação no I Encuentro de Juventudes de América Latina y el Caribe en Energía, espaço que reuniu jovens lideranças, pesquisadores e organizações sociais em torno de soluções concretas para acelerar a transição energética justa na região.
Na sequência, durante a X Semana de la Energía, organizada pela OLADE e pelo Ministério de Energia do Chile, a ARAYARA teve um momento de destaque ao questionar diretamente o ministro Diego Pardow sobre os desafios do descomissionamento das usinas a carvão no país.
“O carvão não pode continuar sendo a base da matriz energética de países que se dizem comprometidos com o clima. O Chile mostra caminhos, mas a América Latina ainda precisa transformar discurso em ação”, afirmou John Wurdig, gerente de Transição Energética da ARAYARA.
A intervenção trouxe à tona um ponto crítico: enquanto diversos países latino-americanos assinaram um acordo para não instalar novas termelétricas a carvão, o Brasil ficou de fora do compromisso. A ausência revela a distância entre as políticas nacionais e as metas regionais de descarbonização.
Cooperação Chile-Brasil e as lições de uma “zona de sacrifício”
Em diálogo com Sara Larraín, diretora da organização Chile Sustentable, a equipe da ARAYARA aprofundou o debate sobre os impactos da queima de carvão na saúde e no meio ambiente. Estudos apresentados por Larraín indicam que cidades próximas a termelétricas registram 300% mais doenças respiratórias que a média nacional — um alerta que também se aplica ao contexto brasileiro.
A missão culminou com uma visita de campo à região de Quintero-Puchuncaví, no litoral central chileno, símbolo da resistência comunitária e dos impactos da poluição industrial. Recebidos pela ativista Cristina Ruiz, integrante do movimento Mujeres de Zona de Sacrificio en Resistencia, os representantes da ARAYARA testemunharam os efeitos visíveis da contaminação por carvão — praias poluídas, cinzas no solo, escolas removidas por má qualidade do ar e comunidades adoecidas.
“Estar em Quintero foi encarar de perto o que chamam de zona de sacrifício: um território degradado em nome da energia. Essa visita reforça a urgência de um processo de transição que não repita os mesmos erros no Brasil”, relatou Joubert Marques, analista técnico e climático da ARAYARA.
Transição justa é transição participativa
A ARAYARA também participou do evento “Salvaguardas para una Transición Energética Justa en Chile y Colombia”, promovido pela Alianza Potencia Energética, que reuniu organizações da América Latina para debater os princípios de uma transição justa: participação comunitária, justiça de gênero, direitos territoriais e proteção social.
As trocas abriram novas frentes de cooperação com entidades como o Fundo Socioambiental Emerger e o coletivo colombiano Transforma, reforçando o papel das energias comunitárias e das salvaguardas socioambientais como pilares de uma transição inclusiva e democrática.
“A justiça climática precisa ser construída a partir dos territórios. O Chile nos mostra que só há transição justa quando as comunidades participam das decisões e são as protagonistas das soluções”, destacou Joubert Marques.
Brasil: entre o discurso e a ação
Nos encontros com representantes do Ministério de Minas e Energia do Brasil, a ARAYARA questionou a ausência do país em compromissos regionais de descarbonização. Embora o governo reconheça o tema como prioritário, ainda não há metas concretas para o fechamento das usinas a carvão.
A organização entregou o estudo Candiota 2050, propondo um plano de transição justa para o Sul do país e oferecendo cooperação técnica para a construção de políticas públicas que garantam o futuro das comunidades impactadas pela indústria fóssil.
“O Brasil precisa aprender com o Chile e adotar um cronograma de fechamento das térmicas a carvão. A transição justa não pode esperar — é uma questão de saúde pública, de clima e de dignidade para as populações impactadas”, reforçou John Wurdig.
Pontes latino-americanas pela justiça climática
A Missão Chile consolidou a ARAYARA como ponte entre experiências latino-americanas de transição energética e voz ativa na luta pelo fim dos combustíveis fósseis. As alianças firmadas durante a viagem fortalecem o caminho para uma atuação regional articulada — que une incidência política, ciência, ativismo e solidariedade internacional.