+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Conferência Nacional do Meio Ambiente é retomada após 11 anos, mas ausência de Lula escancara contradição entre discurso e prática climática do governo

Após mais de uma década de hiato, a 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente começou nesta terça-feira (6), em Brasília, com o objetivo de reconstruir o diálogo entre sociedade civil e governo sobre políticas ambientais e enfrentamento da emergência climática. No entanto, o retorno do maior evento ambiental do país veio acompanhado de uma ausência notável: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem defendido nos palcos internacionais o protagonismo ambiental do Brasil, não compareceu à cerimônia de abertura.

A ausência de Lula, às vésperas da COP30 — que será realizada em Belém (PA) em 2025 —, gerou desconforto entre ativistas e especialistas, levantando dúvidas sobre o real compromisso do Executivo com a pauta socioambiental. A abertura da conferência foi transmitida pelo canal oficial do governo no YouTube e contou com a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin, da ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima),  entre outras autoridades, porém, o vazio deixado pela cadeira presidencial foi interpretado por muitos como um sinal de descompasso entre discurso e prática.

Com o tema “Emergência Climática e o Desafio da Transformação Ecológica”, a conferência se organiza em cinco eixos temáticos: Mitigação, Adaptação e Preparação para Desastres, Justiça Climática, Transformação Ecológica e Governança e Educação Ambiental. Até o dia 9 de maio, mais de mil delegados debaterão cem propostas resultantes de etapas preparatórias que mobilizaram 2.570 municípios em conferências municipais, intermunicipais e livres.

Segundo Marina Silva, o forte engajamento popular nas etapas anteriores demonstra a demanda reprimida por espaços de participação, suprimidos nos últimos anos. Para Juliano Bueno de Araújo, diretor técnico do Instituto Internacional ARAYARA e um dos delegados eleitos na etapa distrital do Distrito Federal, a retomada do evento é positiva, mas não suficiente.“O Brasil precisa de mais do que retórica ambiental em fóruns internacionais. É preciso coerência entre o que se diz lá fora e o que se pratica internamente”, afirmou.

 

Equipe da ARAYARA recepciona o presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho, durante a abertura da 5º Conferência Nacional do Meio Ambiente.

 

Fracking e mobilização popular

A ARAYARA, reconhecida como uma das principais entidades da sociedade civil na agenda ambiental do país, promoverá quatro atividades autogestionadas durante a conferência. Uma delas, que acontece nesta quarta-feira (7), debate estratégias de advocacy climático e o combate ao fraturamento hidráulico — o fracking — técnica utilizada para extrair gás de xisto, fortemente criticada por seus impactos ambientais.

A advogada Renata Prata, coordenadora de advocacy da ARAYARA, destaca que o encontro é uma oportunidade para incidir sobre políticas públicas.“Este é o momento de unir forças e influenciar decisões que garantam um futuro sustentável para os territórios.”

Prata participou da conferência livre “Em Defesa das Águas e dos Povos do Oeste Baiano”, que tratou de injustiças socioambientais nos biomas do Cerrado e Caatinga. A etapa reforçou os riscos do fracking, como contaminação de aquíferos, consumo excessivo de água potável e risco sísmico — em um contexto de crescente estresse hídrico. A própria Agência Nacional do Petróleo (ANP) já admitiu desconhecer plenamente os impactos da técnica no solo brasileiro.

A ARAYARA, que integra o Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), lidera há mais de uma década a Coalizão Não Fracking Brasil (COESUS), que  já mobilizou mais de 250 parlamentares, 1.500 vereadores e 700 prefeitos contra a técnica. Já são 527 municípios com leis que restringem o fracking e 3 estados que já proibiram e outros 4 que tem legislação em andamento na comissões , mas ainda não há uma proibição federal.

O presidente da ARAYARA Juliano Bueno de Araújo  comemora estes mais de 10 anos de vitória sobre o Fracking com esta moratória jurídica e de mobilização sócio ambiental .

Em dezembro de 2024, a organização participou do protesto global “Pare o Lobby do Gás – FRACK OFF!”, durante a Stop Gas Summit, reafirmando o compromisso com a justiça climática para além das fronteiras brasileiras.

“Enquanto a sociedade civil se mobiliza e propõe soluções concretas em Brasília, a ambiguidade do governo federal diante de temas como fracking e exploração na Margem Equatorial  tem lançado dúvidas sobre o verdadeiro grau de compromisso com a transformação ecológica, mas não ficaremos de braços cruzados”, conclui Araújo.

SERVIÇO

Atividade Autogestionada da ARAYARA na 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente

Tema: Combate ao Fracking – Estratégias de advocacy climático para proteger a água, o clima e a vida
Data: 7 de maio de 2025
Horário: 12h30 às 14h
Local: Centro Internacional de Convenções do Brasil, Brasília – DF, Sala 25 – 1º andar

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Relatório da REDESCA reforça a urgência de um plano estadual de transição energética no RS

O Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) realizou nesta quarta-feira uma audiência pública para debater os impactos da crise climática sob a ótica dos direitos humanos, com foco especial nas enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul em 2024. O evento, transmitido ao vivo pelo canal do CNDH no YouTube, teve como destaque a apresentação do relatório da Relatoria

Leia Mais »

FNCE promove seminário sobre transição energética rumo à COP

A Frente Nacional dos Consumidores de Energia (FNCE) realiza, no dia 14 de maio, das 9h às 13h, o seminário online e gratuito “Clima, sociedade e energia: oportunidades e desafios da transição energética no Brasil rumo à COP30”. O evento reunirá autoridades, especialistas e representantes da sociedade civil para discutir caminhos e soluções para a transição energética brasileira. Entre os

Leia Mais »

Câmara dos Deputados promove seminário para debater impactos socioambientais da UTE Brasília

A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados realizará, no próximo dia 13 de maio, às 10h, um seminário para discutir os impactos socioambientais da instalação da Usina Termelétrica de Brasília (UTE Brasília). O evento acontecerá no Plenário 2, Anexo II, da Câmara dos Deputados, com transmissão ao vivo, por meio do YouTube da Câmara. A

Leia Mais »

ARAYARA denuncia riscos da expansão fóssil na Amazônia durante a 5º Conferência Nacional do Meio Ambiente

Na tarde desta quinta-feira (7), a diretora executiva do Instituto Internacional ARAYARA, Nicole Figueiredo de Oliveira, ministrou a terceira atividade autogestionável promovida pela instituição durante a 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente (CNMA). Com o tema “A expansão da indústria fóssil com fins energéticos e os riscos climáticos em 2050”, o painel destacou os impactos crescentes da exploração de petróleo

Leia Mais »