Oito países entre Europa e América Latina já aboliram a técnica de extração por fracking. Na Colômbia, ambientalista e sociedade civil tentam extinguir a prática, mas País continua vulnerável e sob pressão do governo que defende o fracking como ferramenta de soberania energética.
O Arayara Amazon Climate Hub sediou, na manhã desta sexta-feira (14/11), o workshop “Making Polluters Pay: How to use oil and gas cleanup obligations as a tool to accelerate the energy transition” (“Fazendo os Poluidores Pagarem”), que discutiu como as obrigações de descomissionamento da indústria de petróleo e gás podem acelerar a transição energética. O encontro reuniu especialistas, lideranças comunitárias e representantes de organizações latino-americanas que enfrentam os efeitos do fracking em seus territórios.
Representantes da Aliança Colômbia Livre de Fracking (ACLF) apresentaram a mobilização que, desde 2018, articula entidades ambientalistas, setores acadêmicos, sindicatos e movimentos sociais em defesa do território. A estratégia central da aliança tem sido influenciar decisões legislativas para aprovar leis que proíbam a técnica no país.
A ACLF destacou que oito países já baniram o fracking — Alemanha, Bélgica, Bulgária, Escócia, Espanha, França, Irlanda e Uruguai — após comprovarem seus graves impactos. Entre eles: uso intensivo e contaminação de água, danos ao ar e ao solo, abalos sísmicos, radioatividade e riscos à saúde, além de contribuir para a crise climática.
A colombiana Amarilys Llanos, da Aliança Colombiana contra o Fracking, expressou preocupação com o avanço da técnica em seu país. Ela denunciou que o governo tem defendido o fracking como ferramenta de soberania energética, apesar de estudos que apontam impactos graves sobre a água, a saúde pública e as emissões de metano. “Não podemos aceitar projetos cujo custo para os direitos humanos é tão alto. Não queremos repetir o que aconteceu na Argentina. Queremos uma Colômbia livre de fracking”, afirmou.
Na região colombiana de Madalena, a situação é ainda mais delicada. A ativista Youvelis Morales relatou que o território, rico em recursos hídricos e biodiversidade, enfrenta a expansão do fracking em meio a um contexto de conflito armado.
“O fracking impacta o ambiente, a saúde e as relações sociais. Muitas pessoas não conseguem lutar por medo de represálias”, explicou.
Ela alertou que o discurso de “transição energética” tem sido distorcido para justificar a ampliação da exploração fóssil, aprofundando vulnerabilidades.
Vaca Muerta: contaminação, conflitos e resistência dos povos Mapuche
O documentarista Maxi Goldschmidt, diretor de La Vida Fracturada, relatou mais de 17 anos de trabalho com comunidades Mapuche na Argentina. Segundo ele, a expansão do fracking em Vaca Muerta resultou em um cenário “de enorme contaminação”, acumulada ao longo dos anos.
“Os impactos são vastos e seguem crescendo. Falta um plano real para conter essa técnica destrutiva, enquanto novos projetos seguem avançando”, disse.
O workshop exibiu o documentário La Vida Fracturada, que retrata os efeitos socioambientais do fracking e a resistência das comunidades Mapuche em Neuquén. O fotógrafo Pablo Ernesto Piovano reforçou a importância de espaços como a COP para articular lutas locais em uma agenda global:
“Os desafios são internacionais. Precisamos desses espaços para fortalecer nossa resistência coletiva.”
Uma luta global pela vida
O diretor técnico da ARAYARA e da COESUS, Juliano Bueno, reforçou o caráter global da mobilização contra o fracking.
“É uma só luta, em defesa da vida e da Mãe Terra fraturada. O progresso prometido pelas indústrias fósseis chega mascarado — entrega devastação e rouba nossos bens mais preciosos”, afirmou.
Bueno destacou que a trajetória brasileira mostra que a resistência pode gerar vitórias concretas. Segundo ele, a mobilização de 13 anos no país demonstra que é possível impedir o avanço da técnica. Ele encerrou com um poema de sua autoria, em homenagem às comunidades que seguem resistindo.
Impactos sobre a saúde agravam urgência do debate
A pesquisadora Patrícia Rodriguez, da Earthworks, chamou atenção para os efeitos do fracking sobre a saúde das populações expostas.
“Em nossas comunidades, começamos a ver casos de leucemia infantil — algo que antes não existia. Esse não é um debate apenas técnico. A participação das comunidades é essencial”, afirmou.
Ela destacou que iniciativas de educação e formação têm sido desenvolvidas para apoiar uma transição justa e fortalecer a defesa dos direitos das populações afetadas.
COESUS: uma década de mobilização e conquistas no Brasil
A ARAYARA, por meio da Coalizão Não Fracking Brasil (COESUS), lidera desde 2014 a campanha nacional contra o fraturamento hidráulico. O movimento já realizou mais de 1.800 atividades públicas — entre palestras, oficinas, seminários e audiências — em 17 estados e no Distrito Federal, mobilizando milhões de pessoas.
Essa atuação contribuiu para uma moratória técnica de mais de dez anos e para diversas ações judiciais do Ministério Público Federal e da própria ARAYARA. Atualmente, 524 municípios brasileiros possuem leis que restringem o fracking, e outros 100 estão em processo de atualização de suas legislações para também proibir a técnica.
A iniciativa busca proteger a saúde pública, o meio ambiente e setores essenciais como agricultura e pecuária — todos vulneráveis aos impactos do fraturamento hidráulico.
O workshop reforçou que, em toda a América Latina, a resistência ao fracking cresce como resposta aos danos ambientais, sociais e de saúde pública, e como estratégia central para uma transição energética verdadeiramente justa.














