O Instituto Internacional ARAYARA intensificou, nos últimos dias, sua mobilização contra a instalação da Usina Termelétrica Brasília (UTE Brasília), participando de uma série de eventos e encontros comunitários no Distrito Federal que evidenciaram o desconhecimento da população sobre o empreendimento e seus potenciais impactos socioambientais.
No dia 31 de maio, durante o seminário “Debatendo as Cidades”, promovido pelo gabinete do deputado distrital Max Maciel, no Sol Nascente, a mobilizadora da ARAYARA, Larissa Cordeiro, alertou para a falta de informação da comunidade sobre o projeto da termelétrica. Segundo ela, a ausência de comunicação eficiente sobre o empreendimento revela a fragilidade dos mecanismos de transparência e participação pública.

Larissa Cordeiro, mobilizadora da ARAYARA, fala sobre os impactos da UTE Brasília para a comunidade do Sol Nascente.
Durante o evento, foi reforçada a importância da presença da população na audiência pública marcada para 17 de junho, às 19h, no Complexo Cultural de Samambaia. Também foi destacada uma contradição evidente: enquanto a ADASA havia concedido outorga hídrica para a UTE Brasília, a Floresta da Nazaré, referência em agroecologia urbana há mais de 15 anos, enfrenta dificuldades para obter autorização de uso da água para irrigação por cisterna — comprometendo a produção de hortaliças que alimentam famílias em situação de insegurança alimentar.
Já no dia 5 de junho, Larissa participou do seminário Justiça Climática e Saúde nas Periferias, promovido pelo Ministério da Saúde, Fiocruz e Secretaria-Geral da Presidência. Em ato silencioso, ela exibiu a bandeira com os dizeres “Tem cheiro de gás”, chamando atenção para os riscos à saúde que a usina traria à população do DF.
Apesar de abordar temas como racismo ambiental e vulnerabilidade climática, o seminário não mencionou a instalação da usina, o que motivou a intervenção da ARAYARA. “Como um evento dessa magnitude não discute uma termelétrica que pode afetar diretamente a saúde de milhares na capital do país?”, questionou a mobilizadora.
Impactos ambientais e na saúde
De acordo com estudos da ARAYARA, o Relatório de Impacto Ambiental da usina termelétrica em Brasília, elaborado pela empresa Ambientare, identificou 26 impactos, sendo 22 negativos e apenas 4 positivos. Entre os principais danos estão alterações na qualidade do ar, ruídos, poluição da água e riscos à fauna e à saúde da população. O engenheiro John Wurdig, do Instituto Internacional ARAYARA, alerta que o DF já sofre com doenças respiratórias durante a seca, e a termelétrica agravaria o quadro. O relatório também aponta interferências diretas em áreas como Ceilândia e Sol Nascente.
No último domingo (8), a ARAYARA se reuniu com o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras por Direitos (MTD), em uma roda de conversa sobre os impactos da UTE Brasília. A discussão ocorreu na horta comunitária da QR 127 de Samambaia Norte, localizada próxima ao aterro sanitário de Brasília e uma das áreas que será diretamente impactada caso a usina seja instalada.
O MTD, que promove segurança alimentar por meio da agricultura urbana, relatou preocupação com o agravamento das condições ambientais e sociais na região, que já carece de infraestrutura básica, como unidades de saúde, escolas e espaços de lazer. Com a chegada da termelétrica, teme-se o aumento de doenças respiratórias — já intensificadas no período seco do DF — sem o devido suporte da rede pública de saúde, que enfrenta déficit de cobertura e colapso nos serviços essenciais.