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Uma PBio pública pela transição energética justa

Uma PBio pública pela transição energética justa

Cinco dias antes do início da COP 29 (29a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – CQNUMC/ UNFCCC), a Diretoria Executiva da Petrobrás aprovou uma medida esperada há anos: a Petrobrás Biocombustível S.A. (PBio) não será vendida tão cedo. A decisão atende ao pleito de trabalhadores do setor de energia que se mobilizam nas últimas décadas em defesa da PBio.

Artigo de Opinião

Por Renata de Loyola Prata – advogada, assistente da Diretoria Executiva da ARAYARA

 

A PBio foi fundada em 2008 como subsidiária integral da Petrobrás e, desde então, houve sucessivas iniciativas de minguar a empresa, sempre resistidas pelos trabalhadores da PBio e petroleiros. Os trabalhadores da subsidiária, assim como da Transpetro, se organizam nos Sindipetros, tendo em vista que a atividade econômica preponderante da empresa matriz é a exploração, produção, refino e transporte de petróleo e gás. Em 2021, houve uma greve nacional contra a privatização da PBio, chegando à adesão, na Bahia, de 100% dos trabalhadores da usina. A Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) ingressou com uma ação popular contra a tentativa de privatização. Além disso, o Sindipetro/MG, Sindipetro/BA, Sindipetro CE/PI, em convergência, propuseram uma ação civil pública. No bojo dessa ação judicial, o Ministério Público Federal apresentou parecer favorável à suspensão do processo de concessão.

Atualmente, a PBio é proprietária de três usinas de biodiesel: duas em funcionamento localizadas na Bahia e em Minas Gerais e uma hibernada no Ceará. Segundo a Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET), a subsidiária foi pioneira no desenvolvimento de tecnologias e da produção de biodiesel no Brasil, atingindo a colocação de maior produtora de biodiesel no país, também atuando na produção de etanol.  Entretanto, em 2023, a subsidiária produziu o menor resultado em toda sua história: apenas 91 mil m³ de biodiesel. 

De acordo com a cartilha apresentada na COP 27, desenvolvida pelo Instituto Internacional ARAYARA, Sindipetro-RJ entre outras organizações de ensino e pesquisa e da sociedade civil, a empresa de economia mista é uma das melhores apostas para o Estado brasileiro de fato promover uma transição energética justa no país, mesmo após sua abertura para o investimento privado nos anos noventa, e o início dos leilões, possibilitando a venda de blocos de petróleo e gás para empresas privadas explorarem. Embora longe do cenário ideal, a empresa ainda é controlada pela União e, no início deste ano, o Estado detinha diretamente mais 50,26% de suas ações ordinárias.

A emergência climática é assunto de caráter público e coletivo, tendo em vista que gera danos para toda a população e perpetua injustiças sociais, raciais e de gênero. A necessidade de abandonar o petróleo, gás e carvão e zerar o desmatamento, como premissas para reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa, impõe tarefas transversais, coordenadas, robustas e que, necessariamente, reduzirão a margem de lucro do setor de combustíveis fósseis e da agropecuária insustentável e irresponsável. Inclusive, após anos de letargia desde o Rio 92, finalmente na COP do ano passado, constou no acordo aprovado no final da conferência, pela primeira vez na história da CQNUMC/ UNFCCC, que é necessária a “transição em direção ao fim dos combustíveis fósseis”. Devido a sua natureza, essas tarefas dificilmente serão orquestradas por outro ator senão o Estado imbuído de participação popular sobretudo de comunidades já afetadas pelo caos climático e poluição gerada por esses setores.

Por isso, a reversão de privatizações no setor elétrico é mais comum mundo afora. Em junho do ano passado, a França concluiu a reestatização da Électricité de France (EDF), geradora de energia. Desde o ano 2000, a Alemanha reestatizou 284 empresas do setor de energia, a Austrália 13, a Holanda 6, a Espanha 19, o Reino Unido 15 e os Estados Unidos 11. Nesse sentido, a luta dos trabalhadores da PBio e petroleiros continua, tendo em vista que o horizonte é mais ambicioso do que retirar a subsidiária do rol de privatizações. A demanda é para que os empregados da PBio sejam incorporados ao Sistema Petrobrás, havendo um plano de cargos único e firmando acordos coletivos unitários, assim valorizando os trabalhadores e fortalecendo a atividade.

Medidas como essa, que trazem maior potência à PBio contribuem para que o país aprimore sua estrutura institucional na mitigação climática. A nova NDC (Contribição Nacionalmente Determinada) que a delegação brasileira apresentou na COP hoje em curso, está longe de prever todas as medidas que de fato nos afastem do precipício climático e social. Entretanto, o destaque que o Brasil dotou aos biocombustíveis é um importante passo e precisa ser materializado em uma agenda de fortalecimento da PBio, dando continuidade às boas novas sobre a subsidiária. Essa tarefa, evidentemente, deve ser trilhada com salvaguardas, compreendendo que a indústria de biocombustíveis deve ser fortalecida para a mitigação climática e justiça ambiental.

Nesse sentido, conforme idealizado desde seu início, o Programa Nacional de Biodiesel, a produção de biocombustíveis deve ser integrada à agricultura familiar, priorizando pequenos fornecedores locais produtores de óleos (mamona, macaúba, caroço de algodão, entre outras), evitando monoculturas, gerando emprego e renda, fortalecendo uma cadeia de suprimentos sustentável e estimulando uma economia regenerativa. Aliado a isso, deve haver um firme compromisso da Petrobrás para afastar definitivamente de sua política a possibilidade de privatizar a PBio e que a subsidiária, bem como a Petrobrás sejam 100% estatais.

As soluções para a mitigação climática devem ser articuladas com ampla participação de comunidades atingidas e das categorias laborais mais próximas aos setores geradores de gases de efeito estufa. Essa troca mútua historicamente rendeu bons frutos, conforme argumenta Stefania Barca em “Workers of the Earth: Labour, Ecology and Reproduction in the Age of Climate Change” (2024). Recentemente no Brasil, experiências como as mobilizações contra os leilões de petróleo e gás da oferta permanente são escolas de ação climática, agitadas por quilombolas, indígenas, trabalhadores do Sindipetro-RJ e organizações da sociedade civil. Muito também nos ensina a luta vitoriosa dos petroleiros contra a privatização da PBio.

 

Procuradoria Geral do Município de Macaé reconhece eleição de Thiers Wilberger como Vice-Presidente do COMMADS

Procuradoria Geral do Município de Macaé reconhece eleição de Thiers Wilberger como Vice-Presidente do COMMADS

COMUNICADO DE IMPRENSA

Macaé, 22 de junho de 2023 

A Procuradoria Geral do Município de Macaé emitiu uma determinação hoje, reconhecendo a eleição de Thiers Wilberger, representante da ARAYARA, para incorporar a vice-presidência do Conselho Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (COMMADS). Essa decisão representa uma vitória para o Instituto Internacional Arayara e para todos os ativistas ambientais engajados na luta pela preservação do meio ambiente.

Desde o dia 15 de agosto de 2022, a ARAYARA tem lutado pela garantia do direito de representar os interesses da comunidade no Conselho de Meio Ambiente de Macaé. A organização propôs uma ação legal contestando o parecer favorável da Procuradoria Geral do Município ao pedido da Câmara de Dirigentes Lojistas de Macaé (CDL) para invalidar não apenas a eleição dos conselheiros para o biênio 2022-2024, realizada em 25 de abril, mas também todos os atos praticados pelo órgão desde então.

Através de uma eleição legítima, Thiers Wilberger, renomado biólogo e ambientalista, foi eleito por uma ampla margem de oito votos a favor e dois contra para incorporar a vice-presidência do COMMADS. Com essa conquista, a ARAYARA assegurou sua presença no conselho, reforçando sua capacidade de fiscalizar e promover a preservação ambiental na cidade de Macaé.

Como membro do COMMADS, a ARAYARA tem se dedicado a defender iniciativas que visam proteger o rio Macaé e áreas de preservação permanente, como as restingas. Uma das preocupações centrais diz respeito ao rio, que está sob pressão devido à anunciada expansão de usinas termelétricas. Atualmente, existem planos para a construção de 11 usinas na cidade, o que representa um risco para a segurança hídrica do município, que já enfrenta problemas críticos de escassez de água.

A alegação do CDL, acolhida pela Procuradoria de Macaé, para anular uma eleição legítima, é uma tentativa ilegal e inconstitucional de violar um direito adquirido pela ARAYARA. No entanto, por meio de uma liminar concedida pela justiça de Macaé, a instituição conseguiu manter seu representante na vice-presidência do COMMADS e suspendeu os atos do conselho desde o dia 15 de agosto, quando deliberadamente tentaram anular ilegalmente a eleição de Thiers Wilberger.

A ARAYARA continua empenhada em sua missão de proteger o meio ambiente e defender os interesses da comunidade de Macaé. A organização acredita que a decisão da Procuradoria Geral do Município é um passo importante para garantir a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável da região.

 

Para mais informações, favor entrar em contato com:

Nome: Sara Ribeiro

Cargo: Gerente de Mídias, Produtos, Comunicação e Eventos

Empresa: Instituto Internacional Arayara

Endereço: Rua Gaspar Carrilho Junior, 001 – Bosque Gutierrez – Memorial Chico Mendes 80810210 Curitiba, PR.

E-mail: sara.ribeiro@arayara.org