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Carta Aberta ao Presidente da República Federativa do Brasil

Carta Aberta ao Presidente da República Federativa do Brasil

A Abradee e diversas associações e entidades do setor elétrico, que representam os segmentos de geração, transmissão, distribuição, comercialização e consumo, assinaram carta aberta ao Presidente da República, manifestando preocupação com as emendas incluídas no PL 576/2021, recentemente aprovado pelo Congresso Nacional.

Os artigos 19, 22 e 23, incluídos no texto do PL, divergem do objetivo original do projeto, que é estabelecer um marco regulatório para a geração de energia eólica offshore, e acarretam impactos substanciais para o setor elétrico e para os consumidores de energia, através do comprometimento da estabilidade econômica e operacional do sistema elétrico e do aumento tarifário.

Estima-se que essas emendas impactem, no mínimo, R$ 545 bilhões até 2050 e um aumento de cerca de 9% no custo da energia elétrica.

Leia a carta aberta na íntegra

Carta Aberta ao Presidente da República Federativa do Brasil Brasília, 02 de janeiro de 2025.

Ao Excelentíssimo Senhor Luiz Inácio Lula da Silva Presidente da República do Brasil Senhor Presidente, As associações e entidades do setor elétrico, signatárias desta Carta, que representam os segmentos do setor: geração, transmissão, distribuição, comercialização e consumo, vêm a Vossa Excelência manifestar extrema preocupação com as emendas incluídas no PL 576/2021, recentemente aprovado pelo Congresso Nacional.

Os artigos 19, 22 e 23, incluídos no texto do PL, divergem significativamente do objetivo original do projeto, que é estabelecer um marco regulatório para a geração de energia eólica offshore, acarretando impactos substanciais para o setor elétrico e para os consumidores de energia, através do comprometimento da estabilidade econômica e operacional do sistema elétrico e do aumento tarifário.

São emendas que contrariam diretrizes previamente estabelecidas por Vossa Excelência na reunião com especialistas, realizada em 10 de abril de 2024, no Palácio do Planalto, na qual ficou determinado que medidas fossem tomadas para reduzir o custo da energia elétrica, em especial pela redução dos subsídios.

Entretanto, as emendas inseridas no PL geram um custo de, no mínimo, R$ 545 bilhões até 2050, o que corresponde a um custo anual de cerca de R$ 22 bilhões e aumento de 9% na energia elétrica. Esses custos adicionais agravarão a situação dos consumidores brasileiros, que já enfrentam uma das contas de energia mais elevadas do mundo. Além disso, essas emendas amplificam as pressões inflacionárias, uma vez que a energia elétrica é um insumo essencial para a indústria, o comércio e os serviços. Desta forma, o aumento das tarifas pode desacelerar o crescimento econômico e reduzir a geração de empregos, aprofundando os desafios enfrentados pelo Brasil em sua recuperação econômica.

As emendas, também, comprometem o compromisso brasileiro com a neutralidade climática até 2050, pois aumentam em 25% as emissões de gases de efeito estufa do setor elétrico, conduzindo o um passivo ambiental de 252 milhões de toneladas de CO₂ até 2050, justamente quando o Brasil busca a liderança climática global como anfitrião da COP 30, em Belém em 2025.

As emendas ao PL também interferem diretamente no planejamento do setor elétrico, que deve ser coordenado pelo Poder Executivo e suas entidades especializadas, ou seja, o Ministério de Minas e Energia (MME), a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), pois nenhuma delas decorre de recomendação ou determinação dessas instituições. Além disso, as emendas promovem mais benefícios para uma minoria privilegiada às custas da maioria dos consumidores, certamente aumentando ainda mais os encargos setoriais, que já alcançaram R$ 40,3 bilhões em 2023, o que representa 13,5% das tarifas residenciais.

Reforçamos que a geração eólica offshore necessita de um marco regulatório que traga segurança jurídica e previsibilidade para investidores, mas que o PL que estabelece esse marco não contenha emendas que prejudiquem o equilíbrio do setor elétrico e sobrecarreguem a sociedade brasileira. O planejamento do setor elétrico exige visão de longo prazo e decisões baseadas em critérios técnicos, e não pode privilegiar interesses de segmentos específicos.

Por todo o exposto, solicitamos respeitosamente a Vossa Excelência que vete os artigos 19, 22 e 23 do PL 576/2021 que extrapolam o escopo original do PL, conforme posições externadas por vários Ministérios, como: Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e Comércio (MDIC), Ministério de Minas e Energia (MME) e Ministério da Fazenda (MF).

Respeitosamente,

Frente Nacional dos Consumidores de Energia
Associação Brasileira de Concessionárias de Energia Elétrica
ABRACE Energia
ABRACEEL – Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia
ABRAGE – Associação das Empresas Geradoras de Energia Elétrica
ANACE
UNIÃO PELA ENERGIA
ABRADEE
ABIAPE
ABRATE – Associação Brasileira das Empresas de Transmissão de Energia Elétrica
ABEEÓLICA
APINE

 

 

CRM estende contrato de carvão para Candiota 3 até 28 de fevereiro

CRM estende contrato de carvão para Candiota 3 até 28 de fevereiro

Ato em defesa da continuidade da usina foi realizado nesta segunda-feira (6)

 

Por Jefferson Klein – Jornal do Comércio 

Mesmo com a termelétrica Candiota 3 tendo sido desligada em 1º de janeiro, depois do término do seu acordo de comercialização de energia, a Companhia Riograndense de Mineração (CRM) formalizou a prorrogação do contrato de fornecimento de carvão para a usina por mais 60 dias, com validade de 31 de dezembro de 2024 a 28 de fevereiro de 2025. Em média, a térmica gaúcha consome aproximadamente 1,5 milhão de toneladas ao ano do mineral.

Essa medida possibilita que se ganhe mais tempo para observar qual será o encaminhamento que será dado para Candiota 3. Em nota, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), pasta à qual a CRM é vinculada, ressalta que, “atualmente, o futuro das usinas termelétricas a carvão, incluindo a Candiota 3, está condicionado à sanção do Projeto de Lei (PL) aprovado em meados de dezembro de 2024, que regulamenta a exploração de energia eólica offshore (em alto-mar). Este PL prevê a extensão dos contratos das termelétricas a carvão até 2050, e a sanção está prevista para ocorrer até 10 de janeiro de 2025, pelo presidente Lula”.

O projeto em questão trata-se do PL 576 e a situação das térmicas foi inserida no texto – o chamado ‘jabuti’, quando um assunto é colocado em uma matéria que inicialmente não tinha relação com aquele tema. Existe a probabilidade do artigo 22, que interessa às térmicas a carvão, ser vetado por Lula, o que faria a discussão retornar ao Senado. Para demonstrar apoio à sanção sem vetos, centenas de pessoas fizeram uma manifestação nesta segunda-feira (6) na cidade de Candiota.

O diretor de Comunicação do Sindicato dos Mineiros do município, Hermelindo Ferreira, considerou como positiva a ação. “Tivemos a participação dos trabalhadores e da comunidade também, que entenderam o problema que estamos passando”, enfatiza o dirigente. Ele acrescenta que a continuidade de Candiota 3 também é tema de reunião, em Porto Alegre, no Palácio Piratini, na tarde desta segunda-feira com o governador em exercício, Gabriel Souza. O objetivo é solicitar que Souza entre em contato com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para pedir que o PL 576 seja sancionado sem vetos.

Já o engenheiro ambiental do Instituto Internacional Arayara, John Fernando de Farias Wurdig, considera que manifestações como as feitas em Candiota vêm em um momento tardio para o contexto do panorama atual. “O que realmente precisava ter era uma articulação para uma transição ambiental, não tem condição de continuar operando. Segundo ele, se for sancionado o PL, com o apoio às termelétricas a carvão, o Brasil vai passar uma péssima imagem para o cenário internacional, em um ano que recebe a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP – que será realizada em novembro, na cidade de Belém, no Pará).

MPE é contrário à cassação de registro de Comandante Nádia

MPE é contrário à cassação de registro de Comandante Nádia

Destinado a diversificar a matriz energética brasileira com incentivo a fontes limpas, o projeto de lei que regulamenta a exploração de energia eólica a partir de unidades instaladas no mar, o chamado PL das Eólicas Offshore, foi aprovado ontem pela Comissão de Infraestrutura do Senado. Os parlamentares aprovaram na íntegra o relatório do senador Weverton Rocha (PDT-MA), que, além de tratar da geração em alto mar, manteve parte das emendas que beneficiam matrizes poluidoras, como as termelétricas. O projeto deve ir à votação hoje no plenário do Senado e, se aprovado, seguir para sanção presidencial.

Entre os chamados “jabutis”, propostas que pegaram carona no projeto sem ter relação com o conteúdo do texto original, estão a manutenção da operação de térmicas a carvão mineral e a contratação de termelétricas a gás. Segundo a Frente Nacional dos Consumidores, o texto final provocará aumento nas contas de energia pagas pelos usuários. Além do ônus para o consumidor final, os “jabutis” terão impacto na inflação.

A presidente do Sindicato da Indústria de Energias Renováveis do Rio Grande do Sul, Daniela Cardeal, comemorou a aprovação do texto. “As empresas aguardam o projeto de lei para ter mais segurança jurídica. A demora está fazendo empresas importantes recuarem e possivelmente desistirem dos projetos”, afirmou Daniela. Segundo a colunista Giane Guerra, de GZH, somente o Rio Grande do Sul tem 27 solicitações de licenciamento para projetos de energia eólica, que podem desembocar em um investimento total de 200 bilhões de dólares.

As emendas, se mantidas, também terão impacto no estado, já que poderia prolongar a operação da termelétrica gaúcha Candiota 3, que tem seu contrato de comercialização de energia acabando neste mês de dezembro. Líder do Governo no Senado, o senador Jaques Wagner (PT-BA) comentou que havia o compromisso do Poder Executivo com o veto do artigo que diz respeito à continuidade das termelétricas. Para o engenheiro ambiental do Instituto Internacional Arayara, John Fernando de Farias Wurdig, a promessa, no entanto, não tranquiliza os ambientalistas, pois o veto poderia ser derrubado ao retornar ao Senado. Ao Jornal do Comércio, ele ressaltou que a manutenção do uso do carvão não pode ser considerada um processo de transição energética. “É um dos maiores retrocessos no campo ambiental e climático”, criticou.

MPE é contrário à cassação de registro de Comandante Nádia

O Ministério Público Eleitoral posicionou-se contrário à cassação do registro da candidatura da vereadora reeleita de Porto Alegre Comandante Nádia (PL). A parlamentar foi acionada por ter participado de um evento de inauguração da Brigada Militar em 30 de setembro, às vésperas da eleição.

O caso foi denunciado pelo vereador Roberto Robaina (PSOL) que vê infração à lei eleitoral na situação – o que é refutado pela defesa da vereadora, que também argumenta que ela não fez discursos públicos na ocasião. As partes esperam agora a decisão do juiz Roberto Behrensford da Silva, o que deve ocorrer ainda nesta semana. Independentemente da decisão, caberá recurso ao Tribunal Superior Eleitoral.

Casas de bombas 17 e 18, no centro, recebem nova etapa de obras

As Estações de Bombeamento de Águas Pluviais (Ebaps) 17 e 18, no Centro Histórico de Porto Alegre – justamente as estruturas cuja falha propiciou o alagamento do bairro – recebem, a partir da terça-feira, uma nova etapa em suas obras de qualificação. Trata-se da finalização, com concreto armado, de chaminés de equilíbrio que servem para proteger as casas de bombas em caso de nova elevação do nível do Guaíba. A primeira fica na esquina da rua Siqueira Campos com a avenida Padre Tomé, e a segunda está localizada na confluência da avenida Mauá com a rua Carlos Chagas, a duas quadras da rodoviária.

Essas Ebaps integram um lote de quatro estações que terão elevação de painéis elétricos, substituição de motores e instalação de geradores permanentes. A licitação deve ser aberta nas próximas semanas.

Matinal revelou, ainda no dia 10 de maio, uma semana depois que a inundação atingiu o centro da capital, que o conserto do sistema que já havia falhado na enchente de 2023 andava a passos lentos desde 2018. A reportagem de Gregório Mascarenhas é uma das finalistas do Prêmio Associação Rio-grandense de Imprensa (ARI).

Usuários criticam atendimento e condições de central de medicamentos

Sob gestão da prefeitura há dois anos, o Centro Logístico de Medicamentos Especiais em Porto Alegre têm sido alvo de reclamações devido às condições do local, conforme reportagem do Correio do Povo. Segundo os relatos, a ventilação do ambiente não suporta a alta concentração de pessoas – o Celme chega a atender até mil pessoas por dia. Além disso, também há reclamações sobre falta de medicação e a necessidade de reagendar horários.

Procurada pelo jornal, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) admitiu que ocorreram transtornos no fim de novembro, quando houve restrição de horários, “resultado de ajustes operacionais necessários”, mas afirma que o fluxo de atendimentos já foi normalizado. A pasta observa que os usuários do Celme que precisam solicitar a renovação de processos podem fazê-lo via WhatsApp (51) 3433-0156 ou no aplicativo 156+. A SMS pontua que o estabelecimento do estoque é de responsabilidade da Secretaria Estadual da Saúde e que o órgão municipal faz a distribuição.

 

Fonte: Matinal News I Foto reprodução: Milton Ostetto

ARAYARA NA MÍDIA | Sequestrado pelo carvão e gás, debate sobre energia eólica offshore no Brasil omite elementos-chave

ARAYARA NA MÍDIA | Sequestrado pelo carvão e gás, debate sobre energia eólica offshore no Brasil omite elementos-chave

Apesar do papel crucial na transição energética do país, um projeto de lei brasileiro que regulamenta a energia eólica offshore está paralisado por emendas relacionadas a usinas termelétricas movidas a combustíveis fósseis, atrasando investimentos e negligenciando impactos socioambientais.

 

Originalmente publicado em gasoutlook.com por Amanda Magnani 14.10.2024

Um dos países com a matriz elétrica mais descarbonizada do mundo, o Brasil caminha para o acordo global de triplicar a produção de energia renovável até 2030, tendo ativado 13 novas usinas solares fotovoltaicas e 25 parques eólicos somente em 2023.

Na América Latina, a capacidade eólica instalada em 2022 ultrapassou 44,7 GW , e o Brasil tem papel de liderança. Embora o continente seja atualmente responsável por pouco mais de 5% da produção global de energia eólica, o país está entre os dez primeiros do mundo em capacidade instalada.

Os 316 MW de energia eólica adicionados em 2023, no entanto, são apenas a ponta do potencial iceberg eólico offshore. De acordo com um estudo do World Bank Group, ele ultrapassa 1.200 GW no país. O mesmo estudo estima que, até 2050, a indústria de energia eólica pode gerar mais de 516.000 empregos e render pelo menos R$ 900 bilhões para a economia brasileira.

Apesar de ser uma indústria fundamental para a transição energética, a produção de energia eólica também traz impactos e conflitos socioambientais. Questões como contratos de ocupação de terras que afetam comunidades tradicionais, ameaças à vida selvagem e desmatamento são alguns exemplos.

A exploração offshore ainda não ocorreu no país, que atualmente discute seu arcabouço regulatório. No entanto, minimizar os impactos socioambientais dessa indústria não é o foco do debate legislativo.

Aprovado pelo Senado e encaminhado à Câmara dos Deputados em agosto de 2022, o Projeto de Lei 576/2021 , conhecido como Projeto de Lei da Eólica Offshore, ainda está longe de alcançar consenso para ratificação.

Conforme tramitava na Câmara dos Deputados, a proposta original para regulamentar a alocação de áreas para exploração de energia offshore recebeu as chamadas emendas “jabuti” — termo usado no Brasil para se referir a propostas incluídas em um projeto de lei que não têm relação com o tópico principal. Na maioria das vezes, procedimentos legislativos importantes são usados ​​para contornar decisões impopulares ou controversas.

“Nosso parlamento tende a aproveitar projetos de lei e anexar questões não relacionadas, os chamados jabutis, para que sejam aprovados em conjunto”, disse Anton Schwyter, gerente de energia do Instituto Arayara, ao Gas Outlook .

Entre as mudanças aprovadas na Câmara está a contratação obrigatória de 4,2 GW de termelétricas movidas a combustíveis fósseis. Inflexíveis, essas usinas estariam em operação por pelo menos 70% das horas do ano, independentemente da demanda.

Esta proposta é consequência das emendas do “jabuti” que foram aprovadas juntamente com a Lei nº 14.182 de 2021, que privatizou a Eletrobras, a maior empresa de energia da América Latina. O principal ponto de controvérsia na lei era a exigência de contratação de 8 GW produzidos por termelétricas a gás inflexível.

Risco para a saúde

O texto também inclui a contratação obrigatória de 4,9 GW de pequenas centrais hidrelétricas, além de estender de 2028 a 2050 os contratos com termelétricas a carvão, a fonte de energia mais poluente e ineficiente disponível.

“Entre os minerais fósseis, o carvão é o mais prejudicial. Além da alta quantidade de gases de efeito estufa emitidos e seus efeitos ambientais e climáticos, nosso carvão nacional contém muita fuligem, que é altamente prejudicial à saúde humana”, disse Schwyter.

Ele explica que essa fonte de energia também é mais cara e menos competitiva, exigindo subsídios para sua geração. Em um contexto de crescimento de fontes renováveis, isso torna o carvão uma opção “ainda mais anacrônica”, acrescentou.

Além de prejudiciais em termos ambientais, as emendas do “jabuti” ao projeto de lei causarão atrasos em sua aprovação e, consequentemente, perda de investimentos . “O arcabouço legal para parques eólicos offshore é extremamente importante para o setor, pois dá segurança para os investidores alocarem recursos de forma eficaz”, disse Edlayan Passos, especialista em transição energética do Instituto E+, à Gas Outlook .

As emendas do “jabuti” também “reduzem a competitividade e o potencial de descarbonização da indústria brasileira, dificultando o potencial do Brasil de se firmar como fornecedor global de produtos de baixa emissão de carbono”, disse Passos.

Um debate sequestrado

Embora o Projeto de Lei da Eólica Offshore tenha sido listado como prioridade no pacto de transformação ecológica firmado pelos Três Poderes, desde a inclusão das emendas do “jabuti” pela Câmara dos Deputados, a energia eólica em si é o tema menos discutido , apesar de seu papel crucial na transição energética nacional.

Em fevereiro, a estatal Petrobras, uma das maiores empresas de óleo e gás do mundo, anunciou que aguardava uma definição da legislação para iniciar investimentos em parques eólicos offshore, um dos pilares da transição energética da empresa. Em julho, representantes do setor elétrico criticaram as emendas do “jabuti” no projeto de lei.

Até o Ministério de Minas e Energia, que continua defendendo a exploração de petróleo , apoia o veto às emendas relacionadas aos combustíveis fósseis.

“Chegamos a uma situação rara em que, durante fóruns e audiências públicas, até mesmo stakeholders do setor de gás concordaram que a proposta de contratação de termelétricas inflexíveis não faz sentido”, disse Ricardo Baitelo, gerente de projetos do Instituto de Energia e Meio Ambiente, ao Gas Outlook .

Baitelo explicou que, em termos numéricos, não há déficit energético. “Na verdade, atualmente há mais contratos de venda do que consumo real, a ponto de parte da energia produzida acabar sendo desperdiçada. No entanto, há, sim, momentos específicos em que ocorre uma lacuna.”

É nesses momentos, em situações de emergência, que as termoelétricas representam uma solução. “Mas elas devem operar como um seguro de carro”, explicou Schwyter. “Elas devem permanecer em standby e, assim como acontece com o seguro, esperamos não ter que usá-las.”

Ele acrescentou que, com o avanço da geração por fontes renováveis, o sistema energético do país está mudando, junto com a necessidade do dito “seguro”.

Além disso, como Baitelo explicou, a energia produzida por usinas termelétricas é muito mais cara do que a de fontes hidrelétricas, solares ou eólicas. Se as emendas “jabuti” ao Projeto de Lei da Energia Eólica Offshore forem aprovadas, os custos operacionais podem ultrapassar 650 bilhões de reais (US$ 117 bilhões) até 2050.

“Isso representa um aumento de 11% nas contas de luz brasileiras, impactando diretamente o orçamento doméstico das famílias e as cadeias produtivas do país”, disse Carlos Faria, presidente da Associação Nacional dos Consumidores de Energia, à Gas Outlook . “Não podemos ter representantes cujas decisões favoreçam lobbies específicos do setor energético e vão completamente contra os interesses dos consumidores.”

Transição energética inclusiva

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) já tem 96 pedidos de licenciamento para projetos de parques eólicos offshore, totalizando 234 GW.

“Os pedidos de licenciamento representam quase a mesma quantidade de energia que o Brasil produz hoje. Essa equação não fecha”, disse Cristina Amorim, coordenadora do Projeto Nordeste Potência, à Gas Outlook . “Enquanto isso, muito pouca atenção é dada aos impactos ambientais dos próprios parques eólicos offshore e ao que eles significam para as comunidades e seus territórios.”

Da construção à operação, os parques eólicos representam ameaças , especialmente para aves e ecossistemas marinhos. Suas linhas de transmissão, múltiplas e mais dispersas que as de grandes hidrelétricas, também impactam um número maior de comunidades.

Além disso, o projeto de lei propõe licenciamento separado para o que acontece offshore, sob a jurisdição do Ibama, e para as áreas costeiras, tipicamente sob jurisdição estadual ou municipal. “É importante entender que há um continuum; é tudo uma coisa só”, diz Amorim.

Em termos sociais, um dos principais impactos ocorre entre comunidades tradicionais de pescadores no nordeste do Brasil — onde a maioria das usinas eólicas offshore são construídas — onde as pessoas usam veleiros em vez de motorizados. Dependendo das correntes de vento, os pescadores tradicionais se encontram à mercê do raio de segurança ao redor das turbinas.

“Muitas vezes, quando o raio de duas ou mais turbinas se sobrepõe, cria-se uma barreira que os pescadores não conseguem atravessar para sua própria segurança”, explicou Amorim. “Mas o que acontece se as áreas onde a pesca é melhor estiverem além dessa barreira?”

Ela observou que, mesmo em estados onde ainda não existem parques eólicos offshore, os conflitos territoriais e a violência contra as comunidades já aumentaram. À luz disso, organizações como a Pastoral dos Pescadores, uma associação religiosa que apoia pescadores artesanais por justiça social, já se posicionaram contra esses projetos, acrescentou.

“O que precisamos é que a transição energética, e este projeto de lei como parte dela, seja uma transição para um modelo diferente de geração de energia que seja justo, inclusivo e popular”, diz ela.

 

Esta história foi produzida como parte do Programa de Indústrias Verdes do Climate Tracker.

 

Arayara participa de painéis nos Diálogos Oceânicos do G20

Arayara participa de painéis nos Diálogos Oceânicos do G20

Representantes do Departamento de Oceanos e Clima do Instituto Internacional Arayara participaram, na última quinta-feira (8), de dois painéis do Ocean 20 no Brasil, em série de eventos junto à sociedade civil para debater o futuro sustentável dos oceanos.

O Instituto Internacional Arayara teve a oportunidade de participar de duas importantes agendas do Ocean Dialogues (Diálogos Oceânicos), série de encontros do grupo Ocean 20 no Brasil. Os eventos, realizados na última quinta-feira (8/8), debateram a energia eólica offshore e a importância do fator “justo” na transição energética, reunindo especialistas, cientistas e lideranças jovens em torno das agendas globais de clima, energia e meio ambiente. 

O dia de ativismo começou no Rio de Janeiro, durante o painel Oceans Dialogues: Agentes transformadores da Economia Azul, no Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES). O encontro reuniu atores-chave da sociedade para discutir o desenvolvimento sustentável aliado à conservação dos oceanos. 

Neste evento, o painel Mar sustentável – Transição energética Justa contou com a fala do gerente de Oceanos e Clima do Instituto Internacional Arayara, Vinicius Nora, e debateu a importância da perspectiva socioambiental no desenvolvimento das novas indústrias de energias renováveis, especialmente a eólica offshore. 

A mesa foi organizada pela Global Wind Energy Coalition (GWEC), coalizão global de organizações em prol da energia eólica, e contou com as participações da Ocean Energy Pathway (OEP), Corio Generation, WWF-Brasil, Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e Instituto Internacional Arayara. 

Em suas falas, painelistas pontuaram as oportunidades da “economia azul” em âmbito econômico e climático, reforçando, porém, que novas indústrias devem respeitar salvaguardas socioambientais a fim de protegerem o mar, as zonas costeiras e os serviços ecossistêmicos desenvolvidos nessas esferas.

Vinícius Nora, gerente de Oceanos e Clima do Instituto Arayara, relembrou que a pesca na costa brasileira é uma indústria já estabelecida e lucrativa, capaz de movimentar bilhões de reais em apenas um ano. “O desenvolvimento da ‘blue economy’ deve impulsionar projetos que não estejam apenas preocupados em compensar danos, mas em deixar um impacto positivo, em advogar por melhorias nos territórios”, pontuou.

Oceans Dialogues Youth: Transição para uma Energia Limpa e Acessível

Organizado pela Aliança Jovem da Sustainable Ocean Alliance Brasil (SOA Brasil), o evento Energia Justa: Transição para uma Energia Limpa e Acessível reuniu jovens líderes globais envolvidos em agendas de expansão da energia limpa com justiça social.

A oceanógrafa do Instituto Internacional Arayara, Kerlem Carvalho, apresentou as contribuições da Arayara à sociedade brasileira na produção de conhecimento e de instrumentos que qualificam a gestão dos territórios em relação aos impactos de atividades econômicas de alto custo ambiental para os ecossistemas marinhos, como a indústria de petróleo e gás – que vem impedindo, sistematicamente, o avanço da transição energética justa no Brasil.

Na oportunidade, também foi apresentado em primeira mão os primeiros insights do Monitor Oceano, nova ferramenta de monitoramento criada pelo Instituto Arayara que será lançada em 14 de agosto para o público geral. “Acredito que o anúncio de uma nova ferramenta trouxe muita curiosidade aos participantes. Alguns já conheciam e faziam uso das nossas plataformas, outros terão a chance com o novo Monitor e isso é positivo”, avaliou a oceanógrafa.

Integrando a mesa, a líder indígena Luene Karipuna, da Terra Indígena Uaça e coordenadora-executiva da Articulação dos Povos e das Organizações Indígenas do Amapá e Norte do Pará (APOIANP) falou sobre um crescimento na mobilização dos povos indígenas para frear a abertura de novas fronteiras de petróleo, em especial na costa brasileira. “Isso se deve muito aos monitores e às análises que a Arayara vem desenvolvendo, diagnosticando os impactos para as comunidades”, pontuou. 

Oceans Dialogues – Diálogos Oceânicos do O20

O Oceans 20 é o grupo de engajamento para o tema dos Oceanos do G20. Os encontros Oceans Dialogues fornecerão insumos que farão parte da construção do relatório que será apresentado ao G20 em novembro.