+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

STF analisa constitucionalidade de lei que proíbe pesca de arrasto na costa gaúcha

O Supremo Tribunal Federal (STF) está em plenária desde a última sexta-feira, 23 de junho, para julgar a constitucionalidade da Lei estadual 15.223, de setembro de 2018, por meio da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 6218. A lei em questão proíbe a pesca de arrasto dentro de 12 milhas náuticas no litoral do estado do Rio Grande do Sul

(Atualizado em 30/06/23 às 17:02)

A pesca de arrasto é um tipo de pescaria que utiliza redes para capturar organismos marinhos, muitas vezes resultando na captura de espécies sem valor comercial, espécies ameaçadas ou em fase de crescimento, que são descartadas sem vida, gerando impactos ambientais significativos. Essas espécies descartadas são conhecidas como by-catch e são pescarias reconhecidamente predatórias.

Dados da Terceira Avaliação Global sobre o Descarte em Pescarias mostram que as pescarias de arrasto foram responsáveis por 26% das capturas mundiais (4 milhões de toneladas), ao mesmo tempo sendo responsáveis por 50% dos descartes em todo o mundo. Dependendo da localidade e da época do ano, pescarias desse tipo chegam ao percentual de 90% de descarte.

O Partido Liberal (PL), autor da ADI que questiona a constitucionalidade da Lei estadual 15.223, de setembro de 2018, argumenta que a competência do estado está restrita à legislação sobre as águas superficiais ou subterrâneas presentes em seu território.

A ADI está em pauta desde 2019, quando o ministro Celso de Mello optou por manter a lei em vigor. Na ocasião, o ministro defendeu que os estados possuem competência constitucional para legislar concorrentemente com a União em assuntos relacionados à defesa do meio ambiente e à pesca, inclusive estabelecendo medidas para a proteção do ambiente marinho.

Até o momento, a votação está em 5×1, apenas o relator da ADI, ministro Kássio Nunes Marques, foi favorável ao retorno da pesca de arrasto no litoral gaúcho. A ministra Rosa Weber e os ministros Roberto Barroso, Edson Fachin, Gilmar Mendes e Dias Toffoli já deram seus votos a favor da constitucionalidade da lei. Os demais ministros ainda irão se posicionar sobre a questão.

O Instituto Internacional Arayara – ARAYARA.org – está movendo uma ação a favor da Lei Estadual 15.223/2018 do Rio Grande do Sul. A organização entende que a pesca de arrasto é responsável pela perda de diversos animais que são devolvidos ao mar sem vida, desbalanceando o ecossistema marinho, colocando espécies em risco e, além disso, prejudicando intensamente o modo de vida dos pescadores artesanais locais. Dessa forma, o método do arrasto não só vai contra a preservação da vida, mas também afeta a cultura e economia de toda uma população.

“Globalmente, a pesca de arrasto é um problema que deve ser enfrentado. No Brasil, o relato de pescadores sobre a problemática do arrasto é muito comum. A decisão de regulamentar áreas de exclusão da pesca de arrasto é assertiva em áreas com nítida sobrepesca. É uma avaliação importante e que deve ser feita, não só no litoral Gaúcho, mas em todas as regiões com o mesmo cenário de sobrepesca. A gestão dos recursos pesqueiros no Brasil deve ser uma prioridade, frente a segurança alimentar, a garantia das economias das cadeias produtivas da pesca litorânea e frente às mudanças climáticas.” explica Juliano Bueno de Araújo, Diretor Técnico do Instituto Internacional Arayara.

Através de projeções econômicas feitas pelo governo do Rio Grande do Sul em 2018, é possível considerar um aumento de receita vinculado à pesca no Rio Grande do Sul, que aumentaria em R$32,4 milhões, para os pescadores gaúchos e em R$1,7 milhões para a indústria sul-rio-grandense.
Os pescadores do Rio Grande do Sul, por sua vez, afirmam que, desde a proibição da pesca de arrasto, espécies de peixes que haviam desaparecido voltaram a ser avistadas na costa e houve um aumento na quantidade de peixes que haviam reduzido significativamente.

A plenária do STF pode se estender até a próxima sexta-feira, 30 de junho, mas caso todos os ministros se manifestem mais rapidamente, o julgamento pode ser concluído antes dessa data. O resultado terá repercussão não apenas no estado do Rio Grande do Sul, mas também em relação à competência dos estados para legislar sobre questões ambientais e pesca dentro de suas áreas marítimas. Além de reforçar a Lei Estadual 0064/93, do Amapá, que proíbe a pesca de arrasto do camarão a menos de trinta milhas marítimas.

 

 

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Protagonismo LGBTQIA+ se destaca na defesa dos manguezais na Amazônia

O ARAYARA Amazon Climate Hub iniciou nesta quinta-feira (20) sua programação com o painel “Protagonismo LGBTQIA+ na defesa dos Manguezais no Estado do Pará”, reunindo representantes de redes e organizações amazônidas para debater a proteção ambiental e a preservação cultural na região. O evento trouxe relatos de jovens e lideranças que enfrentam desafios diários enquanto lutam pelo reconhecimento e pela

Leia Mais »

Jovens e líderanças indígenas destacam papel da Amazônia na COP30 e alertam sobre ameaças à vida e aos territórios

Enquanto a imprensa internacional discutia nesta quarta-feira (19/11) o rascunho da carta final da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que reforça a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C, jovens e lideranças indígenas participaram de um painel no ARAYARA Amazon Climate Hub para debater o papel central da Amazônia na implementação dessas metas. O evento

Leia Mais »

“Exploração na Foz do Amazonas é um experimento para testar a resistência estratégica das comunidades”, diz, especialista

No ARAYARA Amazon Climate Hub, a Rede Cuíra Jovens Protagonistas dos Manguezais promoveu nesta quarta-feira (19/11) o painel Nosso Mangue Tem Valor com Gente e Livre de Petróleo!. A iniciativa integra a campanha lançada em novembro por organizações e redes representativas de povos extrativistas e comunidades costeiras do litoral amazônico, com foco na proteção da sociobiodiversidade e na inclusão das

Leia Mais »

POSICIONAMENTO: TFFF, uma das iniciativas mais ambiciosas e controversas no financiamento climático global

Proposto pelo Brasil e lançado oficialmente durante a COP 30 em Belém. Este mecanismo busca mobilizar recursos permanentes para conservação de florestas tropicais através de um modelo financeiro que combina capital público e privado. O atual presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, apresentou essa iniciativa pela primeira vez durante a COP 28 em Dubai (2023). Liderado pelo Brasil

Leia Mais »