+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Sentença histórica suspende licenciamento de usina a carvão no Rio Grande do Sul

A 9.ª Vara Federal de Porto Alegre determinou a suspensão do processo de licenciamento da Usina Termelétrica (UTE) Nova Seival, pertencente à Copelmi e Energia de Campanha, até que sejam apresentados novos estudos de impacto ambiental (EIA-RIMA), contemplando as interferências de ordem climática e os riscos à saúde da população decorrentes da operação do empreendimento, entre outras análises.  A usina  movida a carvão mineral seria instalada nos municípios gaúchos de Candiota e Hulha Negra.

A sentença da Justiça Federal, publicada no dia 12 de agosto, atende à Ação Civil Pública proposta pelo Instituto Preservar, pela Cooperativa Agroecológica Nacional Terra e Vida (Coonaterra/ BIONATUR), pelo Centro de Educação Popular e Pesquisa em Agroecologia (CEPPA), pela Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN) e pelo Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (INGÁ). O Instituto Internacional Arayara participou da ação na condição de amicus curiae, que é uma forma de contribuir para a melhor resolução do processo.

Para as instituições que propuseram a ação, a decisão é histórica, pois determina que os  termos de referência para licenciamento de termelétricas passem a considerar as diretrizes previstas na Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), na Lei n.º 12.187/09 e na Lei Estadual n.º 13.594/10, que criou a Política Gaúcha sobre Mudanças Climáticas (PGMC). 

“Essa exigência torna a decisão da 9ª Vara Federal de Porto Alegre um importante marco na litigância climática no país, consolidando a necessidade de incorporação, nos Termos de Referência do Ibama para licenciamentos de termelétricas, do componente climático, da avaliação ambiental estratégica e dos riscos desta atividade à saúde humana”, afirmou a advogada popular Alice Hertzog Resadori (RENAP), que assessora as entidades autoras da ação, em nota divulgada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

“A sentença reforça um entendimento que foi inicialmente construído no TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4.ª Região) de que o componente climático deve sempre ser considerado no processo de licenciamento ambiental de termelétricas. A decisão é igualmente histórica e pioneira pois menciona recentes e valiosos precedentes do Supremo Tribunal Federal (APDF 760 e 708), que destacam a emergência climática que infelizmente vivemos”, complementou o advogado da Arayara, Luiz Carlos Ormay Júnior.

Na sentença, a Justiça Federal determinou, ainda, a realização de, ao menos, três audiências públicas, em Porto Alegre, Hulha Negra ou Candiota e Bagé, após a apresentação e análise técnica pelo Ibama do novo EIA/RIMA e do Estudo de Análise de Risco. A audiência pública virtual, realizada no dia 20 de maio de 2021, foi anulada.

Pressão sobre recursos hídricos

Além do impacto climático e para a saúde da população, as entidades autoras da ação contra a UTE Nova Seival (726 MW) questionam o impacto do empreendimento sobre os recursos hídricos e sobre a produção agrícola na região, que já enfrenta problemas recorrentes de escassez de água.

A operação da UTE Nova Seival demandaria mais de 38 milhões de litros de água por dia, quase oito vezes o consumo diário de água de todo o município de Candiota ou o equivalente ao dobro do consumo diário de água de uma cidade como Bagé, conforme dados disponibilizados no Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS).

Ainda de acordo com informações divulgadas pelo MST, a decisão judicial garante a proteção de centenas de famílias assentadas entre a região de Candiota e Hulha Negra, que seriam diretamente afetadas pela barragem prevista no projeto da UTE Nova Seival. Na região estão instalados, também, o Centro de Educação Popular e Pesquisa em Agroecologia (Ceppa) e a Cooperativa  Bionatur, referência na produção de sementes agroecológicas, que também poderiam ter suas atividades prejudicadas.

(Com informações do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)

Foto: Ilustração/Reprodução Internet

 

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

“O nosso mangue tem valor com gente”

Grito de  povos extrativistas e comunidades costeiras do litoral amazônico ecoa na COP30   Comunidades da costa amazônica lançaram neste sábado (15/11) o  documento “O GRITO DO MANGUE PELO CLIMA”. Elaborado por organizações e redes representativas de povos extrativistas e comunidades costeiras do litoral amazônico, o material reúne análises e reivindicações de populações que vivem na linha de frente da

Leia Mais »

Territórios indígenas sob pressão: impactos de petróleo, mineração e agronegócio são debatidos durante a COP30

No dia 14 de novembro, o Arayara Amazon Climate Hub sediou a mesa-redonda “Territórios indígenas na mira de grandes empreendimentos: do petróleo à mineração”, organizada por organizações de base indígena de diversas regiões e biomas do Brasil. O encontro reuniu lideranças de diferentes regiões do país para debater os impactos de empreendimentos de desenvolvimento — como mineração, petróleo, gás, hidrelétricas

Leia Mais »

Risco de Sacrifício: Amazônia Debate a Mineração Estratégica e a Corrida por Minerais na Transição Energética

A crescente demanda global por minerais essenciais à descarbonização coloca a Amazônia diante de uma encruzilhada perigosa. O painel “Amazonía y Transición Energética Justa: Propuestas para Abordar la Minería y los Derechos de Pueblos Indígenas y Comunidades Locales”, realizado no ARAYARA Amazon Climate Hub, reuniu lideranças pan-amazônicas e especialistas para debater como garantir que a busca por cobre e lítio

Leia Mais »

Workshop no Amazon Climate Hub debate impactos do fracking e pressiona setor de petróleo e gás por responsabilidade ambiental

Oito países entre Europa e América Latina já aboliram a técnica de extração por fracking. Na Colômbia, ambientalista e sociedade civil  tentam extinguir a prática, mas País continua vulnerável e sob pressão do governo que defende o fracking como ferramenta de soberania energética.  O Arayara Amazon Climate Hub sediou, na manhã desta sexta-feira (14/11), o workshop “Making Polluters Pay: How

Leia Mais »