+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

“Sem Mulher Não Tem Clima”: mulheres lideram debate sobre justiça climática na COP 30

O ARAYARA Amazon Climate Hub sediou na tarde desta segunda-feira (17/11) o painel “Sem Mulher Não Tem Clima”, que discutiu o papel central das mulheres na construção de soluções para a crise climática. 

O evento reuniu ativistas indígenas, negras, quilombolas, periféricas e representantes institucionais, destacando como meninas e mulheres em situação de vulnerabilidade são desproporcionalmente afetadas pelas mudanças climáticas.

A deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG), primeira indígena eleita por Minas Gerais, chamou atenção para os impactos da mineração e da exploração de petróleo e gás sobre mulheres e territórios. Segundo dados da Fiocruz citados pela parlamentar, em áreas afetadas pela expansão fóssil, a violência contra mulheres aumentou, assim como o uso de ansiolíticos e soníferos. Ela relatou ainda que mães de Brumadinho ainda aguardam notícias de parentes desaparecidos.

“Quando se explode um território, nada mais pode viver ali. Não se trata apenas de deslocamento climático, mas de consequências de políticas que legalizam a devastação e a morte”, afirmou Célia.  Presidenta da Comissão de Defesa dos Direitos das Mulheres, Célia defendeu o Projeto de Lei 3640/2025, que propõe a organização e divulgação de dados sobre os impactos da crise climática na vida de mulheres e meninas brasileiras. Ela também destacou a campanha “Sem mulher não tem clima”, que promove o protagonismo feminino na luta por justiça climática.

A parlamentar também mencionou a PEC que reconhece a natureza como sujeito de direitos, ampliando a proteção ambiental e fortalecendo o papel dos povos indígenas na conservação da biodiversidade.

Mariana Galdino, advogada e cofundadora do Instituto Decodifica, representou territórios de favelas do Rio de Janeiro e destacou a importância de reconhecer as favelas como bioma. Ela ressaltou o papel das mulheres negras na reconstrução e preservação ambiental, afirmando que são elas quem enfrentam diretamente os impactos das mudanças climáticas e das violências sociais.

“Nossa luta é por justiça social, que abrange justiça ambiental, de gênero e racial”, disse Galdino, lembrando que mais de 16 milhões de mulheres afrodescendentes vivem em favelas e periferias no Brasil, mas sua representação nas negociações internacionais ainda é limitada. “Não há como construir uma transição energética justa e antirracista sem que as mulheres estejam presentes, cuidando das casas, dos biomas e liderando grande parte do enfrentamento.”

Ela também destacou a importância da participação masculina para fortalecer essas lideranças e do acesso de parlamentares indígenas e negras a espaços de decisão política. “Sem nós nesses lugares, não é possível falar de justiça climática de forma verdadeira.”

Caterin, ativista colombiana, destacou a importância da participação das mulheres em sua comunidade“Crescemos em comunidade e buscamos envolver mulheres de todas as idades. Represento as mulheres do meu território e acredito que mulheres empoderadas são fundamentais para transformar realidades. Se queremos levar essa pauta para a construção de políticas públicas, é essencial nos fortalecermos em rede.

Pamela, estudante boliviana de Biologia, Ecologia e Meio Ambiente, compartilhou sua experiência com o ecofeminismo. “Como podemos cuidar do planeta se nossos próprios corpos e territórios estão sob ataque? Sem mulheres, não há justiça climática. Precisamos trabalhar como irmãs, unidas na luta por justiça climática e proteção dos nossos territórios”, afirmou, lembrando que em seu país já foram registradas cerca de 40 mil denúncias de abusos contra mulheres.

Foto: Oruê Brasileiro/ ARAYARA

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

“O nosso mangue tem valor com gente”

Grito de  povos extrativistas e comunidades costeiras do litoral amazônico ecoa na COP30   Comunidades da costa amazônica lançaram neste sábado (15/11) o  documento “O GRITO DO MANGUE PELO CLIMA”. Elaborado por organizações e redes representativas de povos extrativistas e comunidades costeiras do litoral amazônico, o material reúne análises e reivindicações de populações que vivem na linha de frente da

Leia Mais »

Territórios indígenas sob pressão: impactos de petróleo, mineração e agronegócio são debatidos durante a COP30

No dia 14 de novembro, o Arayara Amazon Climate Hub sediou a mesa-redonda “Territórios indígenas na mira de grandes empreendimentos: do petróleo à mineração”, organizada por organizações de base indígena de diversas regiões e biomas do Brasil. O encontro reuniu lideranças de diferentes regiões do país para debater os impactos de empreendimentos de desenvolvimento — como mineração, petróleo, gás, hidrelétricas

Leia Mais »

Risco de Sacrifício: Amazônia Debate a Mineração Estratégica e a Corrida por Minerais na Transição Energética

A crescente demanda global por minerais essenciais à descarbonização coloca a Amazônia diante de uma encruzilhada perigosa. O painel “Amazonía y Transición Energética Justa: Propuestas para Abordar la Minería y los Derechos de Pueblos Indígenas y Comunidades Locales”, realizado no ARAYARA Amazon Climate Hub, reuniu lideranças pan-amazônicas e especialistas para debater como garantir que a busca por cobre e lítio

Leia Mais »

Workshop no Amazon Climate Hub debate impactos do fracking e pressiona setor de petróleo e gás por responsabilidade ambiental

Oito países entre Europa e América Latina já aboliram a técnica de extração por fracking. Na Colômbia, ambientalista e sociedade civil  tentam extinguir a prática, mas País continua vulnerável e sob pressão do governo que defende o fracking como ferramenta de soberania energética.  O Arayara Amazon Climate Hub sediou, na manhã desta sexta-feira (14/11), o workshop “Making Polluters Pay: How

Leia Mais »