Bancos brasileiros, dentre eles Itaú, BTG e BNDES, investiram US$6,92 bilhões na expansão da indústria do combustível fóssil na América Latina e no Caribe. É isso que mostra o relatório “The Money Trail Behind Fossil Fuel Expansion in Latin America and the Caribbean”, lançado pelo Instituto Internacional Arayara e pela organização alemã Urgewald. O estudo, feito em parceria com a Conexiones Climáticas (México), a Farn (Argentina) e a Amazon Watch (Peru), expõe de forma inédita a rota financeira que sustenta a expansão de petróleo e gás na região.
O levantamento mostra que os empréstimos bancários para a América Latina e Caribe vieram de 297 instituições, totalizando US$ 138,5 bilhões. Estados Unidos, Canadá, Europa, China e Japão forneceram 92% do financiamento fóssil entre 2022 e 2024. Os bancos dos EUA sozinhos representaram 25%, seguidos pelo Canadá com 14% e Espanha com 11%.
Uma década após o Acordo de Paris, bancos canalizam bilhões em projetos que levam o mundo além do limite de 1,5°C
A Petrobras aparece como a maior empresa da região em captação de recursos para petróleo e gás. Entre 2022 e 2024, a estatal recebeu US$8,02 bilhões em financiamentos bancários e US$40,83 bilhões em investimentos de acionistas. Do montante injetado por bancos, destacam-se os principais financiadores: Bank of China (US$ 0,93 bilhão), Bank of America (US$ 0,69 bilhão), HSBC (US$ 0,69 bilhão), Morgan Stanley (US$ 0,69 bilhão) e Santander (US$ 0,68 bilhão).
O relatório aponta que a empresa é responsável por 29% de toda a expansão exploratória de petróleo e gás da América Latina e Caribe. “A Petrobras tem investido pesado em publicidade se autodenominando líder em transição energética justa, enquanto pressiona órgãos sérios como o Ibama a liberar a exploração da costa amazônica, em confronto direto com a ciência e até com seu próprio corpo técnico. O que está em jogo não é transição: é a perpetuação do petróleo, sem justiça, às custas do futuro climático do Brasil e do planeta”, afirma Nicole Oliveira, diretora executiva da Arayara.
Enquanto a Petrobras opera como gigante estatal, a Eneva desponta como a maior empresa privada brasileira na expansão fóssil amazônica. De acordo com o estudo, a Eneva responde por 72% da área de exploração fóssil na Amazônia brasileira e pretende expandir sua produção para 66,4 milhões de barris de óleo equivalente em novos blocos. A companhia se consolidou como a principal operadora de campos de gás na região, ampliando rapidamente sua presença em áreas de alta sensibilidade socioambiental.
Entre 2022 e 2024, a Eneva captou US$ 2,72 bilhões em financiamentos, sendo 75% desse montante fornecido por bancos nacionais — com destaque para Itaú, BTG, Bradesco e Grupo XP. O relatório denuncia um paradoxo: enquanto o Brasil assume compromissos climáticos em fóruns internacionais, como a próxima COP em Belém, o país canaliza recursos públicos e privados para expandir a fronteira fóssil.
“A Eneva é a nova bandeirante: avança sobre territórios sensíveis da Amazônia. Faz isso com apoio direto dos maiores bancos privados do país. É um projeto de destruição e alto impacto climático financiado pelo próprio sistema financeiro brasileiro”, alerta Nicole Oliveira. Os cinco maiores financiadores da Eneva entre 2022 e 2024 foram: Itaú Unibanco (US$ 0,90 bilhão), Bradesco (US$ 0,53 bilhão), BTG Pactual (US$ 0,51 bilhão), Santander (US$ 0,19 bilhão), Citigroup (US$ 0,14 bilhão).
O estudo mostra como os bancos ainda canalizam bilhões em projetos que levam o mundo além do limite de 1,5°C, quase uma década depois de os governos terem assinado o Acordo de Paris. Ao continuar a financiar a expansão dos combustíveis fósseis, gigantes financeiros aprofundam a crise do clima e da biodiversidade. sustentável.
“Através de suas políticas enganosas e promessas, os bancos estão tentando fazer uma lavagem verde na extração de combustíveis fósseis na Amazônia”, declara no estudo o diretor da Stand.Earth, Todd Paglia: “Eles afirmam se preocupar com as mudanças climáticas, a biodiversidade e os povos indígenas, mas estes compromissos não significam nada até que os bancos parem de canalizar bilhões de dólares na expansão do petróleo e do gás na região.“
Fonte: Central da COP
Foto: Reprodução / Central da COP