Documento foi produzido pelas organizações ambientais Instituto Internacional Arayara e Urgewald, em parceria com as ONGs latinas Conexiones Climaticas, Amazon Watch e FARN
Por: Avenida Comunicação
O relatório Urgewald, divulgado no dia (29/09), traz dados inéditos sobre o financiamento da expansão de combustíveis fósseis na América Latina e no Caribe (ALC). O estudo, intitulado O Rastro do Dinheiro por Trás da Expansão de Combustíveis Fósseis na América Latina e no Caribe“ (The Money Trail Behind Fossil Fuel Expansion in Latin America and the Caribbean), expõe as instituições financeiras globais que apoiam as empresas por trás do aumento de projetos de petróleo e gás na região, além de mostrar os impactos devastadores nas comunidades afetadas.
Entre 2022 e 2024, bancos locais e estrangeiros destinaram cerca de US$5,23 bilhões às companhias com sede na Argentina que atuam no setor de combustíveis fósseis. A maior delas é a estatal de capital misto YPF S.A., com US$2,77 bilhões captados no período – o que representa mais de um terço do total de financiamentos obtidos por empresas do país. Os principais financiadores da YPF são o Santander (US$0,97 bi), Citigroup (US$0,34 bi), JPMorgan Chase (US$0,34 bi) e Bank of America (US$0,09 bi).
Em seguida, a Pampa Energía S.A., maior companhia privada de energia da Argentina, recebeu US$1,29 bilhão no mesmo período. Entre seus principais financiadores estão o Santander, Deutsche Bank, Citigroup e JPMorgan Chase. De acordo com o relatório, entre 2016 e 2025, a área destinada à exploração de petróleo e gás no país alcançou 162.357 km², a terceira maior da América Latina, atrás apenas de Brasil e México.
De acordo com o documento, entre 2016 e 2025, a área destinada à exploração na Argentina alcançou 162.357 km² – a terceira maior da América Latina, atrás apenas do Brasil e México. A expansão dos combustíveis fósseis se intensificou com o início do governo Milei, que rebaixou o Ministério do Meio Ambiente a uma Subsecretaria, reduziu em 80% o orçamento da pasta e promoveu mudanças legais para facilitar o fracking, ampliar a perfuração offshore e viabilizar nova infraestrutura petrolífera.
Um dos projetos mais simbólicos é o Oleoduto Vaca Muerta, previsto para entrar em operação em 2026, com capacidade para transportar 550 mil barris de petróleo por dia até o Golfo de San Matías. O empreendimento é uma joint venture formada por oito empresas, entre elas Shell e Chevron, sob liderança da YPF, e conta com um acordo preliminar de financiamento de US$2 bilhões, fechado em julho de 2025.
O documento também aponta o papel dos bancos argentinos na manutenção da indústria fóssil. Entre 2022 e 2024, o volume total de crédito concedido por instituições nacionais ao setor atingiu US$ 2,59 bilhões, com destaque para o Grupo Financiero Galicia (US$ 0,54 bi), Allaria Fondos (US$ 0,32 bi) e Banco Hipotecario (US$ 0,26 bi)
No campo dos investimentos, a Administración Nacional de la Seguridad Social (ANSES), fundo estatal de previdência pública, aparece como o principal investidor argentino, com US$750 milhões aplicados integralmente na Pampa Energía. Até junho de 2025, as empresas argentinas receberam US$2,22 bilhões em investimentos, concentrados em YPF e Pampa Energía.
Consequências ambientais
Desde dezembro de 2024, incêndios sem precedentes atingiram a região da Patagônia, na Argentina. Desde então, as queimadas devastaram cerca de 25.100 hectares na área, além de 10.300 hectares nas áreas de Los Manzanos e El Ganso. Segundo o relatório, desastres ambientais possuem relação direta com às mudanças climáticas e à degradação ambiental causadas pelos investimentos em combustíveis fósseis.
Para o diretor do Instituto Internacional Arayara, Juliano Bueno, a transição energética justa é essencial para restaurar a estabilidade climática no país.
“A Argentina tem um enorme potencial de realizar uma transição energética justa. Isso não se resume apenas a reduzir emissões, mas a repensar o modelo de desenvolvimento. Cada vez que insistimos em ampliar a exploração de petróleo offshore ou flexibilizar leis ambientais, perdemos a chance de gerar empregos sustentáveis em energias renováveis e de proteger comunidades costeiras e ecossistemas frágeis. A mitigação, por meio da transição energética, é a única forma de restaurar o equilíbrio climático e garantir um futuro viável para as próximas gerações.”, afirma Juliano.
Foto: reprodução/ Creative Commons