+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Povos Indígenas: a luta pelo direito de existir

Neste dia 19 de abril, chamamos a atenção para a situação desses brasileiros

Estamos vivendo um momento em que diversas etnias indígenas estão sendo atacadas, estão sofrendo por diversos motivos. São ameaças de vários lados, por terra, água, ar. Por terra, milícias de grandes latifundiários no Pará, por água, garimpeiros e dragas chegaram a sugar duas crianças Yanomami em Roraima e por ar, até veneno foi pulverizado em cima de tribos no Mato Grosso do Sul. Cada estado brasileiro tem suas particularidades. Isso sem falar dos Projetos de Lei inconstitucionais e da estagnação nos processos de demarcação de terras. 

Para Kátia Barros, diretora do Instituto ARAYARA, as perdas enfrentadas pelos indígenas são alarmantes.  ‘As perdas reproduzem um novo genocídio de povos que são contaminados pelo mercúrio do garimpo ilegal, que sofrem com o desmatamento e a grilagem criminosas de seus territórios e com a exploração e a destruição e contaminação advindas da exploração da indústria petroleira, que avança em territórios e floresta,” afirma a advogada, que é membro do Conselho Nacional de Promoção e Igualdade Racial  . 

Isabel Tukano, coordenadora do levante pela terra e democracia, do Território Indígena Floresta Metropolitana de Piraquara, Paraná, diz que não há o que comemorar nessa data, pois nos últimos tempos só vem acontecendo retrocessos com relação aos direitos dos povos indígenas. Ela lembra o risco que significa a proposta do Projeto de Lei 490, que altera a forma de demarcação de terras indígenas entre outros assuntos. “Onde tem área verde e embaixo do solo, será afetado pela mineração. Isso tudo não vai afetar só os povos indígenas, mas todos brasileiros,” observa Isabel .

Telma Taurepang, coordenadora da União das Mulheres da Amazônia Brasileira, acredita que a política brasileira precisa mudar sua mentalidade de oprimir a mulher, principalmente indígena. “Hoje a luta das mulheres indígenas é bem visível,” afirma a líder. Para ela, o Congresso Nacional vem impondo situações inaceitáveis e indaga: “O que será de nós depois de 2022?” Telma, que é da TI Araçá, em Roraima, acredita que uma esperança é a força da juventude, onde tem despontado novas lideranças indígenas.

“O governo Bolsonaro parece que quer exterminar com tudo que é genuinamente brasileiro, inclusive seus povos, suas florestas. E ainda espalha notícias falsas, mentiras para que as pessoas tenham raiva desses povos que representam a sabedoria ancestral. Temos muito a aprender com os conhecimentos dos povos indígenas. E eles são fundamentais na conservação da Amazônia, de onde vem boa parte da chuva que cai no Brasil,” comenta o Engenheiro Juliano Bueno de Araújo, diretor técnico do Instituto ARAYARA, doutor em Riscos e Emergências Ambientais . 

Indígenas são protetores da natureza

O MapBiomas e o Observatório do Clima divulgaram hoje, relatório que aponta que a extensão da proteção da natureza proporcionada pelos indígenas brasileiros. Nas últimas três décadas, enquanto a perda de vegetação nativa em áreas privadas foi de 20,6%, nas terras indígenas (TIs) esse número foi de apenas 1%. A pressão sobre essas áreas, porém, está crescendo.

O relatório mostra que o desmate nesse período foi de 69 milhões de hectares, sendo que somente 1,1 milhão ocorreu nas terras indígenas (TIs). Outros 47,2 milhões de hectares foram desmatados em áreas privadas, e o restante da supressão vegetal ocorreu em outros tipos de terras, como florestas públicas ou unidades de conservação.

Getúlio Vargas promulgou a data

Vale lembrar que esta data _ 19 de abril _ foi o dia em que representantes de várias etnias de países como o Chile e o México, reuniram-se, em 1940, no Primeiro Congresso Indigenista Interamericano. Naquele tempo, o encontro teve o objetivo de debater a respeito da situação dos povos indígenas após séculos de colonização.

Na década de 40 do século XX, havia um interesse muito grande por essas etnias, sobretudo com o desenvolvimento da etnologia, isto é, o ramo da antropologia que se dedica aos estudos das chamadas “culturas primitivas”. O esforço pela compreensão dos hábitos e da importância dos povos indígenas para a História despertou a atenção também para o âmbito das políticas públicas que visassem à salvaguarda desses hábitos e costumes.

Os povos indígenas foram massacrados pelos europeus que ocuparam o Brasil. E, no caso do Brasil, foi um decreto-lei, em 1943, pelo então presidente Getúlio Vargas, que exercia o poder de forma autoritária no chamado Estado Novo, que definiu a data. Naquela época, o governo teve uma forte influência de sertanistas e estudiosos de comunidades indígenas, como o Marechal Cândido Rondon, que era também entusiasta do governo de Getúlio.

Neste ano, depois 79 anos da promulgação da data, constatamos todos os dias o quanto precisamos valorizar e compreender a importância dos Povos Indígenas. Para nós, da ARAYARA, esses povos têm extrema importância na preservação da vida, da biodiversidade, da perpetuação de saberes tradicionais e no enfrentamento à crise climática. 

Confira o vídeo de Isabel Tukano, sobre a data, para a ARAYARA

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Ministério do Meio Ambiente realiza oficina para construção do Plano Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais

Na última quarta-feira (13), o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) deu início à segunda oficina de construção do Plano Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais (PCTs). O Instituto Internacional ARAYARA marcou presença no encontro, que reuniu 27 das 28 representações de PCTs reconhecidos no Brasil para debater diretrizes de uma política pública capaz de transformar em

Leia Mais »

ARAYARA envia contribuições à Consulta Pública da FEPAM sobre áreas de risco e licenciamento ambiental 

O Instituto Internacional ARAYARA enviou suas contribuições à consulta pública promovida pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM), que discute a minuta da Diretriz Técnica sobre critérios e condições para o licenciamento ambiental de empreendimentos localizados em áreas suscetíveis a inundações, enxurradas e alagamentos. A consulta que estava disponível no site oficial da fundação foi encerrada no dia 16 de

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Linha de impedimento

Instituto ARAYARA protocola Ação Civil Pública contra preços abusivos para hospedagem na COP30 Na quinta-feira, 7 de agosto, o Instituto Internacional ARAYARA entrou em campo contra um adversário nada sustentável: os preços abusivos da hospedagem para a COP30, a ser realizada em Belém. A instituição protocolou uma Ação Civil Pública no Tribunal de Justiça do Pará para tentar frear a escalada especulativa

Leia Mais »

Inclusão de comunidades tradicionais e coerência nos compromissos climáticos são debatidos em encontro preparatório para a COP 30

Na tarde de ontem (14), em encontro promovido pelo PSOL para reunir contribuições da sociedade civil aos encaminhamentos brasileiros na COP 30, a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, abriu os trabalhos apresentando um panorama dos compromissos climáticos esperados para a conferência, com destaque para o fortalecimento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre. Guajajara ressaltou que o financiamento climático deve

Leia Mais »