Pesquisadores do Instituto de Avanço da Biociência, em Grenoble, na França, publicaram um novo estudo na revista Environmental Pollution que relaciona a poluição do ar a uma diminuição na fertilidade feminina. Os testes foram feitos com amostras de urina de 184 mulheres em grandes cidades e o ciclo menstrual completo foi analisado. A equipe, então, associou os resultados aos níveis de exposição à poluição nos 30 dias que precederam o ciclo. O que eles observaram é que quanto mais a mulher estivesse exposta a partículas finas, mais durava a fase folicular, aquela que antecede a ovulação. Dessa forma, concluiu-se que a poluição atrapalha a ovulação fisiológica e isso pode causar riscos à fertilidade.
A fase folicular é aquela em que o corpo se prepara para ovular e há um aumento de hormônios nesse processo. Ela começa na menstruação e acaba na ovulação. “Em um ciclo de 26 a 28 dias, a mulher começa a ficar fértil no décimo dia, e no décido primeiro ou décimo segundo estará ovulando”, explica o médico Marcio Coslovsky, membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida. “Com a fase folicular mais longa, a ovulação não se dá no dia que deveria, e acontece apenas de três a seis dias depois. Na prática, a ovulação pode ser imperfeita e isso pode dessincronizar a capacidade receptiva do útero, o que aumenta a dificuldade para gravidez espontânea”, completa.
Para o especialista, o estudo comprova algo que os pesquisadores já suspeitavam: “Sempre soubemos que lugares muito poluídos favorecem a má formação de bebês, seja por inalação ou por ingestão de produtos tóxicos ou químicos. O interessante é que o estudo mediu partículas no ar com produtos poluentes e conseguiu correlacionar com o ciclo menstrual de maneira satisfatória”.
Embora a pesquisa tenha se concentrado no sistema reprodutor feminino, já há estudos que avaliam a influência da poluição do ar na fertilidade masculina. “Nos homens podemos fazer uma ilação com o que já se sabe. Cigarro, maconha, qualquer coisa inalável, qualquer coisa que passe para o sangue muito rápido, diminui a espermatogênese, que é a quantidade e mobilidade do espermatozoide. Esse estudo sobre a poluição aponta uma relação também com essa produção”, afirma Coslovsky
Fonte: O Globo