“Riscos socioambientais são enormes. Vamos à Justiça para garantir a empresa fora desse negócio”, diz presidente da Associação dos minoritários
A Associação Nacional dos Petroleiros Acionistas Minoritários da Petrobrás (Anapetro) pedirá na assembleia de acionistas da companhia, a ser realizada no dia 27 de agosto, que a companhia não participe da 17ª Rodada de Licitações de 92 blocos marítimos que a Agência Nacional de Petróleo (ANP) planeja leiloar no dia 7 de outubro.
“A Anapetro vai recomendar a não participação da empresa pelos impactos futuros que possam ocorrer, como o impacto financeiro do passivo ambiental a ser gerado. Essa questão (dos possíveis impactos) está claríssima, tanto aqui (no Paraná) quanto lá em cima, na bacia do recôncavo, pelos berçários da Baleia Franca, mas também pelos impactos socioambientais , caso haja algum vazamento no futuro”, disse à www.arayara.org Mario Alberto Dal Zot, presidente da Associação.
“Também vamos dar entrada na Justiça com uma ação nesse sentido”, completou Dal Zot.
“A Petrobras já está investindo e precisa investir muito no pré-sal, onde ela já atua. Essas áreas que serão leiloadas (na 17ª Rodada) não são do pré-sal. São áreas (da 17ª) em que a Petrobras serve de locomotiva (a outras empresas) . O risco é muito grande”, afirmou. Serão leiloados pela ANP, que é submetida legalmente ao Ministério de Minas e Energia, blocos exploratórios em nas bacias sedimentares de Campos, Pelotas, Potiguar e Santos.
O risco a que Dal Zot se refere é provocado pela inexistência de Avaliação Ambiental Integrada (AAI) dos blocos a serem leiloados. A ANP decidiu não realizar as AAI, mesmo esse instrumento sendo aplicado para avaliar a situação ambiental das bacias e considerar os efeitos cumulativos sobre os recursos naturais e as populações humanas da exploração de petróleo e de gás natural.
“A Petrobras já tem passivos ambientais no País inteiro. Arriscar mais seria um prejuízo enorme”, estima Dal Zot.
Associação quer evitar passivo e defender a Petrobras
Fundada em 2020, a Anapetro defende os interesses dos funcionários da estatal que possuem ações da companhia e possui 500 trabalhadores filiados.
“A ideia é representar aquele acionista não especulativo, quer visa ao longo prazo e o futuro da companhia. Temos dificuldades para questionar enquanto representantes sindicais. Através de uma associação de acionistas, consegue-se questionar em órgãos como o Tribunal de Contas da União, a Comissão de Valores Mobiliários, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica e até a ANP. É uma forma de luta em defesa da companhia”, observou Dal Zot, que já presidiu por duas vezes o Sindicato dos Petroleiros no Paraná e m Santa Catarina e atualmente dirige o setor jurídico da Federação Única dos Petroleiros.
Zot também acredita que a participação da Petrobras na 17ª Rodada seria um erro estratégico para a empresa.
“A Petrobras, na contramão do mundo, tem-se concentrado somente na exploração de petróleo e está saindo da área de refino e da área de renováveis, ao vender a sua subsidiária integral Petrobras Biocombustíveis. A empresa está indo contra ela mesma, explorando um bem finito (o petróleo) e, assim, destinando-se a deixar de existir no futuro. A gestão da Petrobras é incoerente com o propósito dela”, afirmou.
Saída da Companhia pode evitar participação de outras empresas
A Anapetro, segundo Zot, defende que a Petrobras invista nos setores de energias renováveis e alternativas, além de se transformar em empresa produtora de energia. “Por isso não tem sentido a companhia destinar seus recursos a esses leilões, porque eles não têm estudos que nos deem segurança. Está tudo no achismo. O prejuízo ali na frente pode ser muito grande”.
Para ele, “retirar a Petrobras pode levar a saída de outras empresas. Será que as outras empresas têm capacidade financeira para cobrir passivos ambientais, na medida em que nem se sabe quanto custaria isso? Elas teriam capacidade financeira de compensar e remediar um estrago socioambiental grande? Seria importantíssimo para a causa socioambiental a Petrobras não participar desse leilão. A Petrobras conhece essas áreas. Se ela não participar, vai colocar uma interrogação para as outras empresas”.
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