Mais de 260 organizações de diversos países divulgaram, na última terça-feira (18), uma carta exigindo da presidência da COP30 a adoção de medidas concretas para garantir transparência e conter a influência indevida do lobby dos combustíveis fósseis e do agronegócio nas discussões da conferência. Em meio a um cenário global de crise climática, o documento destaca a necessidade de impedir que esses setores continuem a travar a transição energética mundial.
A pressão sobre a presidência da COP30, que será realizada em Belém (PA) em novembro, se intensificou após a divulgação da primeira carta oficial do embaixador André Corrêa do Lago, escolhido pelo presidente Lula para liderar o evento. No documento de 11 páginas, que trata das emergências climáticas, a expressão “combustíveis fósseis” foi mencionada apenas uma vez, o que gerou críticas de ambientalistas e especialistas da área.
Contradições políticas
A preocupação com o posicionamento do Brasil com a política de transição energética não é recente. Em fevereiro, o presidente Lula criticou a demora do Ibama em autorizar estudos sobre a exploração de petróleo na Foz do Rio Amazonas, classificando a resistência do órgão ambiental como “lenga-lenga”. A declaração gerou polêmica e reforçou a percepção de um descompasso entre o discurso oficial e as ações do governo em relação à agenda climática.
Em contraponto, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, defendeu um “balanço ético” para a COP30. Durante a conferência global da Coalizão Clima e Ar Limpo (CCAC), realizada em Brasília esta semana, a ministra destacou a necessidade de um plano para eliminar progressivamente os combustíveis fósseis e mobilizar US$1,3 trilhão em financiamento climático, especialmente para países mais vulneráveis.
Críticas ao lobby dos combustíveis fósseis
Para organizações ambientais, a presença de lobistas da indústria do petróleo nas negociações climáticas tem sido um dos principais entraves à implementação de políticas eficazes para a transição energética.
“A interferência desse setor nas discussões da COP não é novidade e tem um objetivo claro: ganhar tempo para expandir novas fronteiras de exploração. A COP29 teve o maior número de lobistas desse setor já registrado, e a COP30 não pode ser mais um palco para essa agenda”, afirmou Nicole Figueiredo de Oliveira, diretora do Instituto Internacional ARAYARA.
A ARAYARA também alerta para os riscos de uma política que privilegia a expansão da indústria petrolífera em detrimento de uma transição energética justa, limpa e sustentável. “O Brasil deveria estar liderando a descarbonização da economia, e não incentivando ainda mais a dependência dos combustíveis fósseis”, criticou Figueiredo.
Povos tradicionais exigem protagonismo
Outro ponto de tensão nas discussões da COP30 é a necessidade de garantir maior representatividade para povos indígenas e comunidades tradicionais. Para Sara Ribeiro, gerente de Relações Institucionais da ARAYARA, é fundamental que esses povos tenham um papel de destaque na conferência.
“Eles são os verdadeiros guardiões das florestas, manguezais, rios e corais, e seu protagonismo é essencial para garantir que as decisões tomadas na conferência estejam alinhadas com a preservação ambiental”, afirmou. Segundo ela, a falta de reconhecimento e empoderamento dessas comunidades compromete a efetividade do evento.
Expectativas para a COP30
Com a pressão crescente de grupos ambientais, lideranças indígenas e especialistas em clima, a expectativa é que a conferência seja um marco na luta por soluções concretas para a crise climática. No entanto, ativistas alertam que o sucesso da conferência dependerá da postura do Brasil e do compromisso real do governo em combater a influência dos setores que freiam a transição energética.
“A COP30 é a maior oportunidade que temos para colocar a justiça climática no centro das decisões. Essa carta assinada por 260 organizações reforça a necessidade de o Brasil assumir uma posição de liderança e mostrar que está comprometido com um futuro sustentável para todos”, concluiu Figueiredo.
Foto: reprodução / Creative Commons