A movimentação na área de desembarque do hotel Grand Hyatt, na Barra da Tijuca, onde acontece o leilão de quatro áreas de petróleo, a chamada cessão onerosa , na manhã desta quarta-feira. Representantes de sindicatos de petroleiros chegaram para tentar se credenciar, a uma hora do evento, foram orientados a permanecer na área externa.
Do lado de fora, ativistas seguravam faixas com mensagens “Mar Sem Petróleo”, “Salve Abrolhos” e “Nem um poço a mais” em defesa do meio ambiente. Dentre eles, uma indígena tinha maquiagem que simulava manchas de petróleo no rosto, em alusão ao vazamento que atingiu as praias do Nordeste.
Outros manifestantes, representantes das ONG 350.org, Arayara e COPUS, vestidos de macacões e capacetes também com tintura preta pelo corpo, carregavam mensagens pelo fim da exploração de combustíveis fósseis.
Carta à ANP
A ONG 350.org encaminhou uma carta ao presidente da Agência Nacional de Petróleo,
Décio Odone, solicitando o cancelamento do leilão junto com uma petição com mais de 50 mil assinaturas de signatários endossando o pedido.
Para a diretora regional da organização, Nicole Oliveira, a exploração de combustíveis fósseis não condiz com a crise climática que o mundo está enfrentando.
– Está evidente que o governo brasileiro não está preparado para lidar com contingências em caso de vazamento de petróleo. O impacto que o petróleo traz a comunidades pesqueiras, marisqueiras e no turismo é imenso. Do ponto de vista climático, se queimarmos todo o petróleo que está previsto para ser explorado, o Brasil vai emitir gases de efeito estufa substanciais – diz Nicole Oliveira – Estamos em uma crise climática seríssimas e não podemos continuar fazendo leilões fósseis, mas investir em energia limpa.
Segundo a dirigente, a organização ambiental deu entrada em uma ação civil que reinvindica um terço da verba arrecadada seja direcionada para limpeza das praias do nordeste e para as comunidades impactadas.
Choque de realidade
As comunidades indígenas no litoral brasileiro são as primeiras impactadas com os efeitos das mudanças climáticas, de acordo com a presidente do conselho nacional de saúde indígena, Andrea Takua.
– A extração do petróleo não nos atinge só na questão de vazamento, mas influência o nosso sustento, nossa subsistência. Nos preocupamos com esse mega leilão, pois o impacto não será só quando o peixe morrer, mas com as mudanças climáticas, quando o nível do mar subir, quando os animais começarem a morrer. E seremos os primeiros atingidos – conta Takua, integrante da etnia Guarani.
O protesto realizado nesta quarta-feira tem como objetivo, segundo os ativistas, alertar a população dos impactos sociais e ambientais da atividade econômica.
– Falta um choque de realidade. Talvez eles nunca tenham visto uma pessoa toda suja de petróleo e não tem ideia do que é isso. Talvez eles nem imaginem que os indígenas saibam o que e petróleo. Também temos que ter a nossa opinião em um processo como esse – comenta a indígena Andrea Takua.
Fonte: Jornal O Globo