Na manhã desta quarta-feira (12), o ARAYARA Amazon Climate Hub sediou o diálogo “Construindo Ação Coletiva pela Justiça Climática: Vozes dos Movimentos Territoriais, Costeiros e Energéticos”, reunindo líderes de povos indígenas, pescadores artesanais e comunidades tradicionais da América Latina, Caribe e África. O encontro teve como objetivo discutir estratégias de justiça climática e compartilhar soluções concretas para um futuro sustentável e equitativo.
O evento contou com a participação da Aliança Global das Comunidades Territoriais (GATC), plataforma que representa 35 milhões de pessoas em territórios florestais de 24 países, guardiãs de mais de 958 milhões de hectares de florestas. A coalizão é formada pela Aliança Indonésia dos Povos Indígenas do Arquipélago (AMAN), Aliança Mesoamericana de Povos e Florestas (AMPB), Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Coordenadora das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA) e a Rede de Populações Indígenas e Locais para o Manejo Sustentável dos Ecossistemas Florestais da África Central (REPALEAC).
A mediação ficou a cargo da ONG colombiana Movilizatorio, reconhecida por fortalecer a liderança coletiva e a participação cidadã em causas relacionadas à democracia, direitos humanos e sustentabilidade.
Vozes da resistência
O líder guarani do Equador relatou sua trajetória de vida e luta pela defesa dos povos indígenas na Amazônia. Vindo das montanhas, onde sua comunidade não tinha acesso à educação ou saúde, ele aprendeu espanhol aos 16 anos para se comunicar fora do território. Hoje, lidera três províncias com mais de dois milhões de hectares reconhecidos pelo Estado equatoriano.
“Tenho enfrentado perseguição e ameaças de morte, mas junto com nossas comunidades continuamos firmes na defesa da vida. Podemos não ser considerados ambientalistas ou ecologistas, mas somos guerreiros, defensores da vida desde o nascimento”, afirmou. Ele destacou que o Estado equatoriano foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos por violar os direitos dos Guaranis, e que esse resultado é fruto de uma ação coletiva e de resistência histórica.
Do Chile, Ingrid reforçou a necessidade de reação frente às ameaças que afetam os povos costeiros. “Não fomos consultados sobre leis e decisões políticas que impactam diretamente nossos territórios, não temos estudo formal e não somos respeitados. Entretanto, a nossa comunicação é oral, e por meio dela preservamos um conhecimento ancestral importante— sobre ciclos lunares, navegação, medicina, alimentação. Hoje, fortalecemos alianças com outros povos e organizações para proteger nossos territórios. Não precisamos desse desenvolvimento promovido pela indústria fóssil. Durante as COPs, governantes falam e tomam decisões sem nos consultar, mas a realidade dos nossos territórios é outra — somos nós que vivemos e sentimos os impactos, porque somos o território e precisamos ser ouvidos e participar dessas decisões”, disse.
Lupita, líder de uma comunidade de apenas 60 pessoas, ressaltou a importância da colaboração entre comunidades. ““O desenvolvimento promovido pela indústria fóssil contaminam nossos rios e invade nossos territórios, mas seguimos firmes na luta para restaurar nossos bosques e recuperar a vida dos rios. Empoderamos mulheres e jovens para que contem suas histórias e fortaleçam nossa comunidade. Alimentamos a terra para que ela continue nos alimentando.
O Norte Global raramente considera nossas necessidades; os financiamentos destinados à crise climática chegam quase nada às nossas comunidades. Mas nós, mulheres indígenas, temos nos unido e transformado pequenas ações em grandes conquistas. Quem disse que somos pobres? Precisamos mostrar que não somos — temos conhecimento, autonomia e soberania alimentar. Nosso desafio agora é fortalecer a juventude para que a luta continue”, declarou.
Da África, Bety falou sobre a união feminina e a importância de fortalecer comunidades de pescadores. “Represento um coletivo de associações de mulheres em 48 países. Quando treinamos uma mulher, fortalecemos toda uma comunidade — ela cuida da casa, dos filhos, da alimentação. O peixe é nossa economia, nossa segurança alimentar. Precisamos do apoio do governo para garantir um futuro digno, e nossa ação coletiva significa caminhar juntas”, afirmou.
Um chamado à ação coletiva
O diálogo evidenciou a urgência de proteger territórios frente à expansão de atividades fósseis e à crise climática. As discussões abordaram desde a importância do conhecimento ancestral e das práticas tradicionais até a necessidade de articulação internacional e ações coletivas para fortalecer a justiça climática e energética.
O encontro reforçou que, em um contexto de mudanças climáticas, desenvolvimento econômico e exploração de recursos naturais, a proteção da biodiversidade, a segurança alimentar e o protagonismo das comunidades locais são fundamentais para construir um futuro sustentável.
Foto: Oruê Brasileiro/ ARAYARA










