+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Mato Grosso: 88% do desmatamento é ilegal

No Mato Grosso, estado campeão de produção da soja, 88% do desmatamento é ilegal, concentrado em grandes propriedades. Os assentamentos responderam por apenas 9% da área desmatada no período. Agronegócio e sensação de impunidade impulsionam desflorestamento, dizem especialistas.

De agosto de 2018 a julho de 2019, o desmatamento mapeado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) no Cerrado foi de 6,4 mil quilômetros quadrados, o equivalente a quatro vezes o território da cidade de São Paulo. O estado foi o terceiro estado que mais destruiu, sendo responsável por 14% de todo o desmatamento detectado. Os números são do Instituto Centro de Vida (ICV).

O principal motivo do desmatamento alto, de acordo com o instituto, é o elevado grau de ilegalidade: no período apurado, 88% do desmatamento no Cerrado mato-grossense foi ilegal. Em alguns municípios, 100% do desmatamento foi criminoso.

Para o engenheiro florestal e coordenador de inteligência territorial do instituto, Vinicius Silgueiro, chama atenção a crescente concentração do desmatamento ilegal em latifúndios, à medida que foi se reduzindo a fiscalização. Pouco mais de 60% do desmatamento no Cerrado foi em imóveis registrados no Cadastro Ambiental Rural (CAR) e, do desmatamento ilegal detectado nesses imóveis, 64% se concentrou em áreas maiores que 1.500 hectares, um aumento em relação ao período anterior, quando esse número era de 56%. Apenas 1% ocorreu em terras indígenas, e 1%, em áreas de conservação.

“É caro desmatar, precisa de maquinário, mão de obra; custa em torno de dois ou três mil reais por hectare, então isso está sendo feito por gente com poder, ao mesmo tempo em que há menor fiscalização e maior sensação de impunidade”, diz o engenheiro florestal. Desde 2015 o número de autuações do Ibama vem caindo no estado, passando de mais de mil naquele ano para 411 em 2019.

Especulação e agronegócio impulsionam desmatamento

Segundo a professora do departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB) Mercedes Bustamante, o padrão de desmatamento ilegal está associado a obras de infraestrutura e ao agronegócio. “Quando você olha os municípios mais afetados, é onde há obras de infraestrutura, como abertura de estradas, para facilitar o escoamento de produção agrícola. Então, tem um braço de infraestrutura, associado à especulação, mas é uma especulação que também está ligada a condições mais favoráveis para a produção agrícola”, explica.

Segundo a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), nos últimos três anos “todos os frigoríficos que operam no bioma amazônico e cerrado no Mato Grosso assinaram Termos de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público, comprometendo-se a não comprar gado de produtores que realizam desmatamento nestas áreas”.

Segundo o geólogo Sales, com o desmatamento, a água da chuva não se infiltra mais no solo como antes, o que provoca a diminuição drástica dos lençóis subterrâneos, por sua vez causando a diminuição da vazão dos rios e fazendo com que eles desapareçam aos poucos.

“A cada ano que passa, a gente constata pelo menos o desaparecimento de dez pequenos rios na região”, diz o professor. Ele ressalta que os pequenos vestígios de Cerrado intacto que ainda existem no país estão sendo preservados em algumas áreas indígenas, mas mesmo estas estão sob ameaça.

A professora da UnB Bustamante ainda lista a mudança local do clima, já que há redução do retorno de água para a atmosfera, erosão da biodiversidade e mais emissões de carbono, combinando efeitos locais e globais.

Segundo Sales, pecuária e monoculturas como a da soja são atividades incompatíveis com a sobrevivência do Cerrado. “Anteriormente, quando o Cerrado ainda estava preservado, isso [cultivar soja e pastagens] seria perfeitamente possível com um planejamento adequado de ocupação do espaço”, afirma.

Para a preservação do que restou do bioma, a estratégia mais aceita é fortalecer e ampliar áreas de conservação e terras indígenas. “Foi uma estratégia que funcionou muito bem para a Amazônia, mas no Cerrado é um pouco mais complicado porque lá a área é majoritariamente privada. Então, parte da solução do problema passa também pelo setor privado”, afirma Bustamante.

Além disso, seria preciso haver fortalecimento da fiscalização, fazer valer a lei ambiental e eventualmente fazer o manejo das áreas já desmatadas e usadas para o agronegócio para melhor aproveitamento e elevação da produtividade.

Fonte: Deutsche Welle

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Movimentos territoriais, costeiros e energéticos debatem justiça climática em evento do ARAYARA Amazon Climate Hub

Na manhã desta quarta-feira (12), o ARAYARA Amazon Climate Hub sediou o diálogo “Construindo Ação Coletiva pela Justiça Climática: Vozes dos Movimentos Territoriais, Costeiros e Energéticos”, reunindo líderes de povos indígenas, pescadores artesanais e comunidades tradicionais da América Latina, Caribe e África. O encontro teve como objetivo discutir estratégias de justiça climática e compartilhar soluções concretas para um futuro sustentável

Leia Mais »

Proteção dos direitos humanos é central na corrida por uma transição energética justa

No contexto da urgência climática, a transição energética tem avançado em escala global, com a expansão de projetos renováveis e o aumento da demanda por minerais de transição, como lítio, cobalto e níquel. No entanto, grande parte dessas iniciativas ocorrem em territórios indígenas e camponeses do Sul Global, gerando denúncias de violações de direitos humanos e impactos ambientais significativos. Para

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Véget ért a szénalapú energiatermelés korszaka Brazíliában: az Ouro Negro erőmű engedélyezési eljárását lezárták

Belém, COP30 nyitónapja: Az Ibama, Brazília környezetvédelmi hatósága hivatalosan bejelentette az Ouro Negro széntüzelésű termelőerőmű (UTE) engedélyezési folyamatának végleges lezárását. Ez a döntés egyben az utolsó, Latin-Amerikában vizsgált fosszilis szénalapú projekt lezárását is jelenti, amely jelentős mérföldkő a régió energetikai átmenetében. A projekt és az engedélyezési folyamat háttere Az Ouro Negro projekt egy 600 MW teljesítményű széntüzelésű erőmű megépítését célozta Pedras

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Khi than đá vẫn trụ vững ở Brazil giữa thời kỳ năng lượng tái tạo

Tại Brazil, nơi năng lượng tái tạo chiếm hơn 80% sản lượng điện, ngành than vẫn tồn tại nhờ lợi ích địa phương và thiếu chiến lược chuyển đổi, phơi bày những thách thức khi nền kinh tế xanh phải dung hòa với sinh kế của hàng nghìn lao động.   ổng thống Brazil Luiz Inacio Lula da Silva phát

Leia Mais »