No último sábado (16), o Instituto Internacional ARAYARA participou do Local Conference of Youth (LCOY), evento organizado pelos coletivos Jovens Pelo Clima Brasília e ONG A Vida no Cerrado, que reuniu jovens de diferentes regiões para discutir ações climáticas e justiça socioambiental.
A LCOY, etapa preparatória da Conferência Global da Juventude (COY), busca dar visibilidade a perspectivas plurais e horizontais sobre mudanças climáticas, destacando os impactos sobre comunidades tradicionais e áreas urbanas vulneráveis. A edição Centro-Oeste trouxe o bioma Cerrado e seus povos para o centro do debate, com ênfase na construção coletiva de soluções e na inclusão de demandas históricas marginalizadas.
Mesas temáticas e painéis
Entre os destaques do evento, Larissa Brenda Cordeiro e Nádia Nádila apresentaram a mesa sobre Empoderamento para Ação Climática, abordando o racismo ambiental e a organização comunitária frente à ausência do Estado. Foram apresentados exemplos da desigualdade no Distrito Federal, incluindo o acesso desigual a arborização, saneamento e água, e o histórico de segregação urbana que transforma bairros periféricos em zonas de sacrifício, com instalação de estações de esgoto, aterros sanitários e projetos de usinas termelétricas, como o que ameaça a Escola Classe Guariroba.
Rayandra, por sua vez, abordou o contexto das NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) no histórico do Acordo de Paris, explicando sua importância para articular políticas climáticas e alertando para a crise atual causada pela entrega insuficiente de compromissos pelos países-membros.
A perspectiva da transição justa
Raíssa Felippe, mobilizadora socioambiental da ARAYARA, participou da mesa “Transição Justa para o Empoderamento Climático”, onde discutiu a importância da transição justa. Felippe destacou a necessidade de uma mudança gradual das fontes fósseis — carvão, petróleo e gás — para energias renováveis e sustentáveis, levando em conta a justiça social entre pessoas e países.
Ao comparar o contexto europeu e brasileiro, ela apontou diferenças significativas. “Na Europa, o descomissionamento de usinas a carvão cresceu quatro vezes entre 2023 e 2024, com a Alemanha liderando em capacidade desativada, Irlanda e Espanha programando o fim da geração a carvão até 2025, e o Reino Unido já concluindo a eliminação gradual da fonte fóssil”, destaca.
De acordo com dados do Monitor do Carvão Mineral, no Brasil, o carvão mineral responde por apenas 4% da geração elétrica, mas foi um dos principais fatores do aumento das emissões por GWh nas termelétricas em 2023. Além disso, o setor recebe mais de R$ 1,07 bilhão por ano em subsídios, valor superior aos incentivos concedidos às energias renováveis. Os dados são do Monitor do Carvão Mineral da ARAYARA , que disponibiliza informações qualificadas sobre os impactos do carvão no Brasil e no mundo.
Felippe destacou ainda a contradição entre os compromissos brasileiros de redução de gases de efeito estufa e leilões recentes de petróleo e gás, como a 5ª Oferta Permanente de 2025 na Foz do Amazonas, que oferece 172 blocos — 34 já arrematados, 19 deles sobre Terras Indígenas, Unidades de Conservação e habitats de espécies ameaçadas, estimando emissões de 90 milhões de toneladas de CO₂.
Justiça social e energia
O evento também evidenciou desigualdades estruturais: municípios que recebem royalties do petróleo figuram entre os que têm piores indicadores de educação, saúde e saneamento, enquanto regiões periféricas, negras e pobres enfrentam maior dificuldade de acesso à energia elétrica. Estudos indicam que, para famílias de baixa renda, a conta de luz pode consumir metade da renda mensal, enquanto a energia é usada principalmente para conservar alimentos.
Direitos humanos e trabalho
O foco da transição justa, segundo os jovens participantes, deve ser os direitos humanos, abrangendo terra, território, saúde, educação e trabalho. Dados apresentados em audiências públicas pela CPT, CPP e CIMI mostram que os conflitos no campo estão relacionados principalmente à invasão de territórios e não à ocupação de terras improdutivas. Além disso, alertam para o risco de apropriação de “empregos verdes” que não promovem mudanças estruturais.
Para John Wurdig, gerente de Transição Energética da ARAYARA, a juventude presente no LCOY mostra-se ativa na construção de soluções e na articulação de demandas concretas para enfrentar a crise climática, reforçando que a transição energética precisa ser tanto socialmente justa quanto ambientalmente responsável.