Enquanto a imprensa internacional discutia nesta quarta-feira (19/11) o rascunho da carta final da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que reforça a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C, jovens e lideranças indígenas participaram de um painel no ARAYARA Amazon Climate Hub para debater o papel central da Amazônia na implementação dessas metas.
O evento reuniu representantes da RAISG, SPA, WWF e líderes indígenas, que apresentaram soluções baseadas tanto na ciência quanto no conhecimento tradicional para evitar que a região chegue a um ponto de ruptura irreversível.
Jovens assumem protagonismo
Carla Priscila Medrano, líder jovem criollo, destacou a importância da participação das novas gerações na luta climática:
“Estamos vendo bons resultados nesta COP. Nosso papel como jovens é fundamental, ainda mais porque temos o dever, como futuros líderes, de levar adiante o legado da nossa luta e de líderes que sempre estiveram na defesa da vida — não apenas física, mas também espiritual.
Atualmente, os territórios amazônicos enfrentam várias ameaças de exploração extrativista, e isso se reflete na forma como a floresta, os rios e as lagoas se comunicam. Nosso papel como jovens é crucial porque entendemos essas conexões, sentimos os impactos da poluição e sabemos como a Amazônia se comunica.
Precisamos proteger e revitalizar os territórios, assumir a frente das lutas e cuidar daqueles que não têm voz — incluindo os seres espirituais que nos guiam. Quando uma lagoa é violada, sentimos isso intensamente. Diferente de quem está de fora, nós vivemos e dependemos do território.
Estar na COP30 nos dá o poder de refletir e compartilhar nossas experiências. A Amazônia está gritando por soluções, e nós jovens precisamos responder a esse chamado. A participação de jovens e mulheres nesses espaços não pode ser negligenciada, porque nós somos parte integrante do território e da vida que ele sustenta.”
A dimensão sagrada da Amazônia
A mediadora do painel reforçou:
“Quero retomar a dimensão sagrada das relações com a Amazônia: quando os rios choram, nós também choramos.
Não se podem tomar decisões sobre a Amazônia sem a participação das comunidades que vivem nela.”
Desafios e aprendizado
Para Tony Chimbo, jovem participante da Amazônia, a experiência também é de aprendizado e formação:
“Este é meu primeiro evento internacional e também minha primeira participação neste tipo de encontro. Estamos analisando os projetos e empreendimentos que ocupam nossos territórios. Há iniciativas em nossas comunidades, mas falta apoio consistente de governos, empresas e cooperativas. A cooperação recebida está voltada às mudanças climáticas, mas questões essenciais como comunicação e infraestrutura permanecem negligenciadas.
O foco não pode ser apenas cuidar das florestas, mas também da vida. Precisamos fortalecer a educação, os artesanatos, os cultivos e a agroecologia em nossos territórios. Precisamos de projetos de longo prazo, que durem 20 anos ou mais, garantindo sobrevivência e desenvolvimento sustentável, e não apenas iniciativas pontuais que resolvem o hoje e deixam a fome do amanhã.
Para nós, jovens, o desafio é ainda maior. Muitas vezes, lideranças mais antigas nos limitam. Precisamos de espaço para aprender, contribuir e liderar o futuro de nossos territórios.”
O painel no ARAYARA Amazon Climate Hub reforça a importância de incluir vozes locais e jovens nas decisões climáticas globais, mostrando que a proteção da Amazônia vai além da preservação ambiental: trata-se de garantir direitos, cultura e a sobrevivência das comunidades que vivem na linha de frente da crise climática.
Foto: Oruê Brasileiro/ ARAYARA










