Na tarde desta quinta-feira (13), a Green Africa Youth Organization (GAYO) participou do painel “UNpacking Just Transition: Principles, Myths, and Pathways to 1.5°C”, realizado no ARAYARA Amazon Climate Hub, em meio à COP30. A organização, que atua em advocacy climática e sustentabilidade ambiental, apresentou dados de seu último relatório e buscou desconstruir o conceito de Transição Justa (TJ), explicando seus elementos essenciais, que vão de direitos e equidade a finanças e governança.
“O conceito de Transição Justa, muito citado na agenda climática, é também frequentemente mal compreendido”, afirmou Charles Wanguhu, diretor fundador da Enzi Ijayo-Africa Initiative, reforçando que o painel explorou as conexões entre ação climática, justiça social e transformação econômica, destacando seu potencial transformador e os mitos que dificultam sua implementação. Com diversas publicações sobre a economia política da exploração e produção de petróleo, foi coordenador do Kenya Civil Society Platform on Oil and Gas, plataforma que articula a sociedade civil para fornecer uma voz coletiva sobre petróleo, gás e questões extrativistas mais amplas. Em 2022, ocupou a posição de líder de gás da sociedade civil na African Climate Foundation.
Segundo o relatório da GAYO, o desenvolvimento da África não é incompatível com as metas climáticas. “A industrialização limpa é possível, e a transição não deve sacrificar o desenvolvimento africano, mas encontrar formas sustentáveis de crescer”, destacou Armando. Entre as recomendações apresentadas estão a compreensão dos elementos centrais da Transição Justa — direitos, equidade, empregos, participação, financiamento e governança —, o reconhecimento da TJ como mecanismo que combina redução de emissões e resiliência social e a reinterpretá-la como catalisador da ação climática.
Durante o painel, os especialistas ressaltaram a necessidade de adaptar a transição energética aos contextos locais e às realidades sociais dos territórios. Armando reforçou que “é preciso que instituições financeiras olhem para além do lucro. A transição deve reconhecer a posição única da África, com grandes necessidades de desenvolvimento e vasto potencial em energias renováveis, exigindo caminhos diferenciados e específicos ao contexto”.
Na mesma linha, Maria Nkhonjera, do African Feature Policies Hub – Powershift África, apontou que o continente “não está mais passivo”, mas observou que um dos grandes desafios é que cada país desenvolve estratégias de forma isolada. “Precisamos falar com uma única voz, nos conectar e nos posicionar diante das decisões”, destacou.
Representando o Chile, Pedro abordou a disputa global pelos minerais críticos, afirmando que tanto África quanto América Latina enfrentam pressão externa para acelerar a produção de recursos essenciais à transição energética. Segundo ele, “não se trata apenas de eleger um financiador, mas de mudar as regras do jogo e assegurar a soberania de cada território”. Ele citou o caso do lítio, cuja exploração avançou durante anos sem consulta às comunidades locais, o que, em sua avaliação, contraria os princípios de uma transição energética justa.
Leezola Zongwe, especialista em direito extrativista, com foco em minerais críticos pan-africanos e políticas de segurança energética da Enzi Ijayo Africa Initiative, destacou dados do estudo que mostram que a África detém 30% das reservas mundiais de minerais críticos, produz 70% do cobalto global e controla 36% do manganês e 80% dos metais do grupo da platina, recursos dos quais o mundo depende para avançar na transição dos combustíveis fósseis. Ela alertou que, apesar dessa abundância, o continente retém apenas entre 5% e 10% do valor gerado por esses minerais. Zongwe também ressaltou a importância de fortalecer diálogos como este, conectando experiências da África com países amazônicos, que enfrentam desafios semelhantes em termos de dimensão e complexidade territorial.
Ao final do painel, Wanguhu reforçou que a Transição Justa deve ser compreendida como muito mais do que um slogan. “Trata-se de construir uma economia verde resiliente ao clima, que coloque a justiça climática no centro e garanta participação inclusiva e desenvolvimento sustentável, incorporando jovens, mulheres e comunidades locais em todas as etapas do processo”, concluiu.














