Evento organizado pela Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas e dos Povos e Comunidades Extrativistas Costeiros e Marinhos (CONFREM) reuniu lideranças extrativistas de todo o Brasil e fortaleceu a parceria com o Instituto Internacional Arayara na luta contra os impactos da exploração de petróleo no mar.
No dia 3 de setembro, durante a Pré-COP dos Oceanos, realizada na Semana da Sociobiodiversidade e organizada pela CONFREM em Brasília, o Instituto Arayara apresentou seu estudo sobre os impactos da pesquisa sísmica offshore no Brasil. A apresentação foi conduzida por Kerlem Carvalho, Coordenadora de Oceano e Águas da Arayara, diante de pescadores e pescadoras artesanais de diversas regiões do país.
O estudo evidencia que explosões acústicas submarinas, usadas na exploração de petróleo, afetam diretamente a vida marinha e, consequentemente, a pesca artesanal e industrial. Muitas comunidades tradicionais já têm suas áreas de pesca bloqueadas, e estoques pesqueiros despencam, ameaçando o sustento de milhares de famílias.
Durante o encontro, lideranças locais puderam tirar dúvidas sobre a atividade sísmica e sobre o Monitor Oceano, ferramenta que auxiliará o planejamento estratégico das comunidades. Maria Aparecida Ferreira (Cida), liderança da Confrem em Santa Catarina, lembrou que a preocupação com os impactos da exploração sísmica não se restringe à região amazônica. O problema tem alcance nacional: “Isso (projeto de extração de petróleo) está acontecendo agora na Foz do Amazonas, e parece que vai ser liberado. Imagina nós, que somos do sul!”, considerou.
Carlos Alberto Pinto dos Santos, pescador e liderança da CONFREM da RESEX Canavieiras (BA), lembrou que as comunidades vêm debatendo os impactos da sísmica desde 2003 na região de Abrolhos e reforçou a importância de apoio científico e social para proteger ecossistemas e modos de vida tradicionais. A liderança falou sobre a dificuldade ao buscar esse suporte frente à pressão do setor. “Se você procurar um pesquisador para defender a pauta das comunidades contra a indústria do petróleo, desaparece todo mundo!”, apontou.
Kerlem Carvalho destacou que o estudo será uma ferramenta de incidência e fortalecimento das comunidades tradicionais: “Isso fortalece os pescadores artesanais, que agora contam com mais um instrumento de luta. Reafirmamos nosso compromisso em defesa da vida de quem vive no mar e que está na linha de frente contra os grandes empreendimentos de energia, do qual a sísmica compõe essa etapa impactante”.
Com a proximidade da COP30, marcada para 2025 em Belém (PA), a consolidação dessas parcerias é essencial para garantir que as vozes das comunidades tradicionais estejam no centro das negociações climáticas e para expor ao mundo os riscos de insistir em um modelo energético atrasado e danoso, baseado em combustíveis fósseis.