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Estudo americano mostra que mudanças climáticas e poluição estão ligadas a complicações na gravidez

Mães negras sofrem maior risco; consequências são bebês prematuros, com baixo peso ou natimortos, aponta análise de 32 milhões de nascimentos do Journal of American Medical Association

As mulheres grávidas expostas a altas temperaturas ou poluição do ar têm maior probabilidade de ter filhos prematuros, com baixo peso ou natimortos, e mães e bebês negros são os mais afetados, de acordo com pesquisa publicada esta quinta-feira na JAMA Network Open, parte do Journal of American Medical Association. O estudo analisou dados de mais de 32 milhões de nascimentos nos Estados Unidos.

A pesquisa apresenta algumas das evidências mais abrangentes até agora vinculando aspectos da mudança climática a danos a recém-nascidos. E aumenta as evidências de que as minorias estão mais sujeitas aos riscos da poluição e do aquecimento global.

“Já sabemos que essas consequências da gravidez são piores para as mulheres negras”, disse Rupa Basu, chefe da seção epidemiológica do ar e do clima do Escritório de Avaliação de Perigos em Saúde Ambiental da Califórnia e um dos autores do artigo. “E isso é ainda mais exacerbado por essas exposições.”

“Black moms matter (mães negras importam)”, acrescentou Bruce Bekkar, ginecologista e obstetra aposentado e outro autor, além de membro do conselho do grupo de ação sobre o clima de San Diego Climate Action Campaign. “É hora de realmente prestar atenção aos grupos que são especialmente vulneráveis.”
Os autores analisaram 57 estudos, publicados desde 2007, que encontraram uma relação entre poluição do ar ou aquecimento e os impactos nos nascimentos nos Estados Unidos. Juntos, os estudos analisaram 32,8 milhões de casos.

As descobertas acumuladas dos estudos oferecem motivos para se preocupar com o aumento das consequências na saúde dos bebês à medida que a mudança climática piore. Temperaturas mais altas (uma preocupação crescente, uma vez que as mudanças climáticas causam ondas de calor mais frequentes e intensas) foram associadas a mais partos prematuros. Quatro estudos descobriram que altas temperaturas estavam associadas a um risco aumentado de 8,6 a 21%. Os problema do baixo peso ao nascer também foi mais comum à medida que as temperaturas aumentaram.

Os autores analisaram dois estudos que examinaram a ligação entre temperaturas mais altas e natimortos. Constatou-se que todo aumento de temperatura de 1 grau Celsius na semana anterior ao parto correspondia a uma probabilidade 6% maior de natimortos entre maio e setembro. Ambos os estudos encontraram disparidades raciais nesses números.

O artigo também procurou pesquisas que examinassem os efeitos na gravidez de uma maior exposição a poluição atmosférica e a pequenas partículas chamadas PM 2,5. Os dois tipos de poluição estão se tornando mais comuns à medida que a mudança climática avança, disseram os autores.

A grande maioria das pesquisas revisadas no artigo concluiu que a poluição atmosférica e o PM 2.5 estão associados a nascimentos prematuros, baixo peso ao nascer e natimortos. Um estudo descobriu que a alta exposição à poluição do ar durante o último trimestre da gravidez estava ligada a um aumento de 42% no risco de natimortos. A maioria das pesquisas que examinou a ligação entre poluição do ar e nascimento prematuro ou baixo peso ao nascer descobriu que os riscos eram maiores para as mães negras.

O nascimento prematuro e o baixo peso ao nascer podem ter consequências que duram a vida inteira, afetando aspectos como desenvolvimento cerebral e vulnerabilidade a doenças, de acordo com Nathaniel DeNicola, outro dos autores do artigo e professor assistente de obstetrícia e ginecologia na Escola de Medicina da Universidade George Washington. Medicina e Ciências da Saúde. “Isso realmente prepara o cenário para uma geração inteira”, disse DeNicola.

Menos acesso ao seguro-saúde

Catherine Garcia Flowers, integrante do grupo de Houston Moms Clean Air Force, disse que o documento é uma evidência de que o governo federal precisa reforçar as regulamentações contra a poluição do ar. “Este é um momento de avaliação de injustiça racial e disparidades de saúde”, disse Flowers. “Não fazer nada sobre a poluição do ar, que claramente tem um impacto maior sobre os negros americanos, é o racismo em ação”.

O problema vai além da política ambiental ou dos cuidados com a saúde, de acordo com Adrienne Hollis, cientista sênior de justiça climática e saúde da Union of Concerned Scientists. Os afro-americanos são menos propensos a ter seguro-saúde, menos chances de ter acesso a alimentos saudáveis, menos chances de ter acesso a espaços verdes para protegê-los das ondas de calor e têm maior probabilidade de viverem perto de fontes de poluição. Esses problemas não podem ser enfrentados isoladamente, disse Hollis.

“Precisamos examinar políticas que ofereçam oportunidades equitativas para comunidades negras”, disse ela. “Se você abordar o racismo estrutural, acho que começará a abordar algumas dessas questões”.

Fonte: O Globo

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