“Os bandidos e os garimpeiros estão nos atacando noite e dia. Não queremos viver desse jeito. A Polícia Federal até agora não chegou. Estamos pedindo há cinco dias ajuda para nos defender. Vocês, autoridades de Brasília, a Funai também, têm de olhar para nós”, pede em vídeo o líder indígena Timóteo Yanomami, na aldeia Palimiú, que fica a cerca de 230 quilômetros de Boa Vista, capital de Roraima.
Timóteo gravou na tarde desta quarta (19) um vídeo de um minuto e 36 segundos para o Instituto Arayara, em que relata a continuidade dos ataques à sua aldeia. Palimiú e outras localidades na terra Yanomai estão sob ataque de grupos armados desde 28 de abril.
A fala de Timóteo Yanomami foi editada no primeiro parágrafo para resumir o teor do apelo do líder indígena. No vídeo, ele aparece armado de arco e flecha, à frente de vários guerreiros, e à beira do rio Uraricoeira, que margeia Pailimiú.
Em 10 de maio, os ataques – de tiros de fuzil e metralhadora, como pode ser visto no vídeo abaixo – resultaram em um número ainda incerto de mortes entre indígenas e de membros dos grupos armados. Duas crianças indígenas apareceram mortas após os ataques.
O Instituto Arayara também recebeu áudios, atribuídos pelas lideranças yanomami a garimpeiros e membros de outros grupos armados, em que são relatados os resultados dos ataques aos indígenas (Ouça aqui, aqui e aqui), em que teriam sido empregados pelo menos 20 homens armados de fuzis e metralhadoras. Ouça abaixo:
Em um dos áudios, uma voz de homem adulto diz que pelo menos dois atacantes e oito índios teriam morrido em um dos ataques.
É ilegal o garimpo nas terras Yanomami. Informações dão conta que membros da facção criminosa paulista PCC estão infiltrados entre os garimpeiros e também teriam participado dos ataques aos indígenas, conforme informou a agência de notícias Amazônia Real.
No dia 11 de maio, agentes da Polícia Federal estiveram em Palimiú e chegaram a trocar tiros com os atacantes, mas desde então os policiais não voltaram ao local.
A reportagem do Instituto Arayara tentou contato com a Superintendência da PF entre 18 e 20 de maio, mas não recebeu qualquer in formação sobre ações de proteção aos Yanomami.
Fontes da PF informaram que o efetivo da força não respondeu à reportagem porque se encontrava na festividade de posse no novo superintendente do órgão no estado. O delegado José Roberto Peres assume nesta quinta (21) o lugar de Richard Murad Macedo, que estava no cargo desde maio de 2018.
Contactado, o Ministério Público Federal em Roraima também não se manifestou.