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“Estamos ficando para trás”, alerta presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico

Não é boa a situação do Brasil em termos de descarbonização de sua frota automotiva. Segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), em 2020 ocorreram no País apenas vendas marginais de 800 veículos elétricos, enquanto o mercado total, mesmo com as crises econômica e pandêmica, alcançou 3,16 milhões.

No campo dos veículos elétricos, o Brasil perdeu até para a Colômbia, um mercado 10 vezes menor do que o nosso País. A Costa Rica, que tem um mercado 100 vezes menor, vendeu quase o mesmo volume de veículos elétricos comercializados no Brasil em 2020. No setor de veículos elétricos pesados, a tristeza se repete. A América Latina inteira vendeu 2 mil ônibus e o Brasil mal chegou a 50.

“Estamos ficando para trás”, lamenta o bacharel em relações internacionais Adalberto Maluf, presidente da ABVE. “O formulador de política pública no Brasil tem uma cabeça antiga. O Brasil vem perdendo esse mercado para exportação numa velocidade muito grande”, completa Maluf, que atribiu a situação do País no campo dos veículos elétrícos à falta de políticas públicas para a indústria e os setores de pesquisa e desenvlvimento, educação.

Ele observa que a China é a líder da agenda da sustentabilidade no mundo.”É o país que mais aumenta a sua cobertura vegetal. Refloresta mais do que o restante do mundo junto, que tá indo em peso para energia renovável, geração distrubuída e a mobilidade elétrica”.

Em 2020, de acordo com Maluf, o gigante asiático fez subir em 43% o número de veículos elétricos comercializados no seu enorme mercado interno e anualmente já vende mais de 6%, trabalhando com a meta de 10%. Enquanto isso, a Alemanha saiu de 2% de vendas de veículos elétricos em janeiro de 2020 para 27% em dezembro. Em média, no ano passado, a Europa deu um salto de 3% para 11%, e em janeiro e fevereiro de 2021, alcançou índices acima de 20%.

Entretanto, Maluf chama atenção para o que ele considera um progresso nas vendas de automóveis híbridos no nosso País. “O Brasil está indo bem. Foram 19 mil veículos vendidos no ano passado, sendo que 13 mil foram híbridos flex fabricados no Brasil e a projeção para 2021 é chegar a quase 30 mil. Estamos crescendo com híbridos e desenvolvendo tecnologia própria para o flex. O biocombustível tem a a sua importância na descarbonização”.

E isso para não mencionar a inexistência de políticas gerais de mobilidade e ficar no superado transporte individual que beneficia as grandes montadoras multinacionais. Nos últimos 20 anos, esses oligopólios foram premiados com 69 bilhões de reais em renúncias fiscais, mas fecharam 200 mil postos de trabalho e viram sua participação no PIB cair de 5 para 3%.

Em nível global, acredita Maluf, “os setores elétrico e automotivo passam por pela maior transformação de sua história”e e caminham para serem digitais, descentralizados e descarbonizados.

Ele vê uma interferência negativa da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). “Quando o Brasil vem com uma proposta, como a Aneel fez há dois anos e que ressuscitou no início de 2021, de taxar 60% a geração distribuída, vai na contramão do mundo. O melhor seria que cada um gerasse a sua própria energia e que eu não precisasse gerar grandes estruturas de geração e e de transmissão”.

“A Aneel tenta proteger o investimento daqueles grades grupos internacionais. Mas, é esse o investimento que se quer? De grandes grupos financeiros internacionais, que vêm para o Brasil ganhar bilhões, pegando bilhões subsidiados para fazer grandes usinas, mesmo que sejam eólicas e solares?”, questiona Maluf, observando que “em 2021, com toda crise, o setor de geração de energia distribuída vai criar 150 mil empregos”.

“O governo precisa colocar as pessoas no centro das políticas urbanas e econômicas. Hoje, as políticas públicas associadas aos setores automotivo e elétrico são feitas pelos grandes investidores internacionais”, destaca.

Maluf também não vê incompatibilidades entre as políticas econômica, de um lado, e sociais e ambientais, de outro, conforme preconizam seguidamente e em coro todos os setores do governo brasileiro.

“O debate hoje não é aquele do passado, de desenvolvimento versus neio ambiente. Isso só está na cabeça do ministro do meio ambiente e da cúpula do governo. Países europeus nem tem nem mais ministério do meio ambiente. A nossa política vem sendo deteriorada e o estímulo do governo no quesito ambiental é desmate e garimpo, que são duas atividades do século passado”.

“Existe futuro para um grande país que virou urbano sem indústria? A cúpula do Ministério da Economia diz: “tudo bem se tivermos um modelo agroexportador”. Eles querem voltar ao Brasil Colônia. Eles acham que o agronegócio vai resolver tudo, mas não gera emprego. Não tem como um país grande, urbano, ter uma perspectiva de futuro sem uma indústria pujante, que olhe para tecnologias de baixo carbono”.

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