+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Energia e desigualdade: os desafios para um mundo com 8 bilhões de habitantes

Recentemente, a Organização das Nações Unidas (ONU) atualizou sua linha de base demográfica e anunciou que a população mundial havia atingido 8 bilhões, quatro vezes mais do que a de 1927.

Em meio a essas mudanças, o aumento da produtividade e a melhoria da qualidade de vida permitiram que as populações vivessem mais, mas ao lado do progresso “a desigualdade cresceu, e as crises e conflitos se multiplicaram”, disse a ONU na divulgação.

Guterres disse que além dos números, o mundo deve lutar por uma solidariedade que promova o desenvolvimento sustentável sem perder de vista a mudança climática.

Principais desafios

O Fundo de População da ONU indicou que o crescimento populacional acelerado “dificulta a erradicação da pobreza, a luta contra a fome e a desnutrição”, ao mesmo tempo em que a cobertura dos sistemas de saúde e educação deve ser aumentada.

É justamente a desigualdade que Armando Sarmiento, professor do Departamento de Ecologia e Território da Faculdade de Estudos Ambientais da Universidade Javeriana da Colômbia, enfatizou em entrevista à Bloomberg Línea.

“Temos uma região (América Latina) com enormes atrasos em termos de qualidade de vida, níveis de pobreza acima de outras regiões do mundo com condições de desenvolvimento semelhantes, e a desigualdade é muito mais acentuada aqui do que em outras partes do mundo. Esse é o desafio: trazer para o mesmo nível a população que está muito abaixo em termos de níveis de renda”, disse.

Com os números atualizados, a população da América Latina e do Caribe representa 8,2% da população mundial, um total de 662 milhões de pessoas, e a região deve atingir seu pico populacional em 2056, com um total de 752 milhões de pessoas.

Segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), a mudança na estrutura etária da população da região traz desafios adicionais, pois existem altos níveis de “desigualdades socioeconômicas, de bem-estar, acesso à saúde, infraestrutura urbana, entre outros”.

Mudança climática e energia

A ONU, assim como alguns dos novos governos recentemente instalados na América Latina, fala em “desvincular a atividade econômica da excessiva dependência de energia dos combustíveis fósseis”, fazendo uma transição para fontes de energia limpa e renovável, mas para o especialista esta não é uma tarefa simples.

Para Sarmiento, fornecer bens e serviços para outras 2,4 bilhões de pessoas que habitarão o planeta até o final do século, em meio às metas da mudança climática, é um dos principais desafios, especialmente no nível energético, já que esta será uma população particularmente urbana.

América Latina não é responsável pela maioria das emissões do mundodfd

“A questão é que se pensarmos em escala global, a América Latina não é importante, em termos do clima do mundo não somos importantes, somos uma população relativamente pequena com crescimento lento (…). Nossas emissões não são significativas em uma escala global. Na escala ampla, os Estados Unidos e a Europa são importantes por causa de seus níveis de renda, e a China e a Índia por causa de seu tamanho”, disse ele.

Entretanto, ele enfatizou que, do ponto de vista ético, é importante que todos os países façam a transição, tanto em termos de clima quanto de competitividade, pois a região não pode ser deixada para trás nesses objetivos.

“Não é fácil. A maioria das pessoas acredita que o problema central é a geração de eletricidade, mas isso é apenas 30% do problema. O desafio está nos outros 70%, que consiste no uso para a produção, agricultura, entre outros. Como substituir o gás natural que é mais utilizado na indústria atualmente?” disse Sarmiento.

Problemas de produtividade

Foram necessários cerca de 12 anos para que a população mundial crescesse de 7 bilhões para 8 bilhões, mas projeta-se que serão necessários cerca de 14,5 anos para o próximo 1 bilhão de pessoas (2037), refletindo a desaceleração do crescimento global, de acordo com as projeções da ONU.

Os mesmos números indicam que a população mundial continuará crescendo e chegará a 10,4 bilhões na década de 2080, mostrando que a taxa geral de crescimento está diminuindo.

Por exemplo, para a América Latina e o Caribe, espera-se que, em 2100, o percentual da população com 60 anos ou mais seja maior que na Ásia, América do Norte, Oceania e África.

De acordo com Sarmiento, a tendência na Europa e em parte do mundo é que a taxa de fertilidade total é relativamente baixa, portanto a população está envelhecendo e é uma grande preocupação: “Como fornecemos mão-de-obra e como sustentamos os sistemas de aposentadoria? Estes são grandes desafios que vários países estão enfrentando hoje”.

Como exemplo, ele apontou que alguns países já estão recebendo e procurando jovens para manter seus sistemas produtivos por questões de envelhecimento. O Japão tem trabalhadores da China e da Indonésia devido ao alto envelhecimento de sua população.

Na América Latina, não só a população com 60 anos ou mais será maior em 2100, mas a região também perderá 2,9 anos de expectativa de vida ao nascer entre 2019 e 2021, ou seja, após os principais efeitos da pandemia de covid-19, “um retrocesso de 18 anos neste indicador e uma redução significativa no crescimento populacional no período”, segundo a Cepal.

Por fim, o professor Sarmiento aponta que as mudanças não ocorrem “da noite para o dia” e que cada país deve tomar medidas para se adaptar, como alguns já estão fazendo diante das mudanças climáticas, como a Inglaterra, que colocou barreiras sobre o Rio Tâmisa em antecipação às marés mais altas que poderiam afetar a cidade, como fizeram a Holanda e Veneza.

Isto foi recentemente ecoado pela diretora executiva da ONU, Natalia Kanem, que ressaltou que o mundo não pode confiar em soluções não personalizadas. “Para ter sucesso, todas as políticas populacionais devem ter os direitos reprodutivos em seu núcleo, investir nas pessoas e no planeta, e se basear em dados sólidos”, disse.

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2034 prevê 78% de investimento para indústria de petróleo e gás natural

No último dia 8 de novembro, o Ministério de Minas e Energia (MME) e lançou a Consulta Pública nº 179/2024, que abre a discussão sobre o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2034. O PDE, principal instrumento de planejamento energético do Brasil para a próxima década, foi apresentado em evento realizado no Observatório Nacional de Transição Energética, na Esplanada

Leia Mais »

G20 Social e Cúpula dos Povos: organizações reivindicam participação popular e compromissos concretos para o enfrentamento dos desafios globais

Como anfitrião do encontro de líderes do G20, o governo brasileiro lançou o G20 Social, uma iniciativa que busca integrar as contribuições da sociedade civil — como juventude, mulheres, cientistas e trabalhadores — à agenda do grupo. Com o tema “Construindo um Mundo Justo e um Planeta Sustentável”, a proposta promoveu, pela primeira vez, encontros abordando questões políticas, financeiras e

Leia Mais »

Dois times, duas medidas

Na semana passada, o Brasil apresentou sua nova meta climática, a famosa NDC, na Conferência do Clima que está ocorrendo em Baku, no Azerbaijão. A delegação está sendo liderada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, na ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que levanta questionamentos sobre o compromisso do governo com a agenda climática. Apesar de ter reduzido com sucesso

Leia Mais »

ANP atualiza cronograma da oferta permanente com Bacia do Amazonas

Duas áreas, na Bacia do Amazonas e no Paraná, seguem com cronograma suspenso por decisões judiciais A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) atualizou o cronograma do 4º Ciclo da Oferta Permanente de Concessão (OPC) para três blocos localizados na Bacia do Amazonas e que estavam com o cronograma suspenso devido a ações judiciais. A agência assinou

Leia Mais »