A crise climática é, fundamentalmente, uma crise moral e espiritual que exige o abandono urgente dos combustíveis fósseis. Essa foi a mensagem central do encontro “Faiths for Fossil Free Future”, realizado no domingo, 16 de novembro, no ARAYARA Amazon Climate Hub, durante a COP30.
O painel reuniu lideranças de diversas tradições – incluindo cristãos, muçulmanos, judeus, anglicanos, quakers, católicos e maoris – em apoio ao Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis e à necessidade de uma transição energética justa e definitiva.
Fé e Ação: O Não ao Pessimismo
O debate, mediado por Fletcher, da GreenFaith, começou com uma meditação conduzida pela Irmã Maureen (Brahma Kumaris), que lembrou que “A fé é importante porque O que está acontecendo dentro irá refletir fora,” focando na força do amor como poder de cura.
Em seguida, Kumi Naidoo, Presidente do Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis, questionou a plateia sobre o estado atual da luta climática. Refletindo sobre o resultado da enquete, ele declarou:
“Nesse momento da nossa história não temos direito ao luxo do pessimismo. Que precisamos usar o otimismo de nosso pensamento, nossa coragem e a força de nossa humanidade.”
Naidoo utilizou a metáfora de uma casa alagando, onde há décadas se tenta “limpar o chão antes de fechar a torneira” (os combustíveis fósseis). Ele celebrou que, após anos de silêncio, a presença e a liderança de líderes religiosos estão se tornando cruciais para trazer a dimensão espiritual à pauta climática.
A Injustiça na Linha de Frente
As comunidades de fé trouxeram relatos diretos dos impactos. Lucky Aben (GreenFaith Nigeria) narrou a situação crítica em seu país, onde comunidades costeiras estão sendo extintas pela subida dos mares e o governo negligencia a situação.
“Há uma comunidade na Nigéria que está quase sendo extinta por subida do nível dos mares. Outra, é uma comunidade pesqueira, com uma refinaria que traz fortes impactos. As mulheres da comunidade vivem as dores de perder suas pessoas amadas para doenças por conta da refinaria, e os seus maridos que dependem da pesca, não conseguem mais pescar.”
No Brasil, Júlia Rossi (GreenFaith Brasil), falou sobre a campanha Rio Sem Óleo, no Rio de Janeiro, que dialoga com as realidades da Nigéria: comunidades da Baía de Guanabara não podem mais pescar pelo impacto da indústria do petróleo.
“A poluição e a destruição vem de pessoas que não têm fé, não entendem de fé,” afirmou, destacando a importância da fé na construção dos movimentos de defesa do território.
A Ética Acima da Técnica
O debate convergiu para a visão de que a crise fóssil é uma falha ética. Yeb Saño (Movimento Laudato Si’) afirmou que a discussão científica está enraizada em um lugar profundamente moral, que fala sobre:
“O triunfo da compaixão sobre a mesquinharia e o egoísmo.”
Saño ligou a extração de fósseis ao pecado católico, na lógica exploratória que sacrifica o bem-estar da vida por lucro. Ele celebrou o crescente número de comunidades católicas que estão assinando o tratado global, alinhando-se à mensagem do Papa Francisco.
Abi Levitt (Eco-Judaísmo) reforçou essa visão, citando a perspectiva judaica de que é preciso corrigir o erro, mas lembrando que “não existe planeta B“. Já Masahiro Yokoyama (Saka Cokkai, Japão) trouxe o tema da transição justa como uma questão de ética e humanidade, não apenas técnica, lembrando que a exploração de carvão no Japão dispersou comunidades, e que é preciso agora garantir trabalho alternativo.
O Representante Maori da Nova Zelândia finalizou com a sabedoria ancestral, citando um provérbio: “Pessoas perecem, mas a terra é permanente,” ressaltando que sustentabilidade não é um conceito, mas uma prática em sua cultura.
Em uníssono, os líderes religiosos reafirmaram o apoio ao Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis como o caminho para garantir o futuro e forçar a liderança de países exportadores, como a Austrália (que pleiteia a COP31).
Foto: Odaraê Filmes














