Na última quinta-feira (27), dia em que a Ceilândia (DF) completou 54 anos, lideranças comunitárias, especialistas e organizações sociais se reuniram no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) AD III para debater os impactos da Usina Termelétrica (UTE) Brasília. O evento, promovido pela Rede Social Ceilândia, contou com a participação do Instituto Internacional ARAYARA, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), do Movimento Salve o Rio Melchior, do Instituto Filhas da Terra e do deputado distrital Max Maciel (PSOL).
Além do alerta sobre os riscos socioambientais da usina, o encontro abordou a precarização da saúde mental no DF e os desafios enfrentados pelo CAPS AD III, que atende pessoas em sofrimento psíquico causado pelo uso de álcool e drogas. A gestão da unidade explicou o funcionamento do serviço e destacou a necessidade urgente de mais investimentos públicos para garantir atendimento adequado à população.
A liderança do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Elisa Estronioli Mergulhão, celebrou a articulação do encontro. “Nossa sugestão de pauta foi atendida, e a Rede Social de Ceilândia compreendeu a real ameaça que a instalação da usina representa para o DF. Agora, a mobilização se intensifica, expandindo a luta para outras redes sociais locais”, destacou.
Durante a reunião, o diretor técnico da ARAYARA, Juliano Bueno de Araújo, apresentou estudos que indicam riscos alarmantes para a população que vive em um raio de até 30 km da usina, incluindo graves impactos ambientais e a precarização da saúde pública.
Segundo o engenheiro, a proposta de instalação da Usina Termelétrica (UTE) Brasília, movida a gás natural, representa um retrocesso ambiental, um grave risco à saúde e uma contradição às políticas de combate à emergência climática.
“O Governo do Distrito Federal deve priorizar a transição energética, em vez de apostar em empreendimentos poluentes e onerosos. A solução para a demanda energética não está nas termelétricas, mas no investimento em fontes renováveis. Precisamos impedir esse desastre”, alertou Araújo.
Comunidade em alerta
Outro tema debatido foi a possível remoção da Escola Classe Guariroba, a única escola rural da Região Administrativa de Samambaia. A desativação da unidade comprometeria o acesso de 560 alunos à educação na região, afetando diretamente centenas de famílias e gerando um impacto irreparável na comunidade escolar.
A mobilizadora socioambiental da ARAYARA, Raíssa Felippe, destacou ainda que a poluição do ar pode reduzir o desempenho escolar e agravar problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão. Além disso, a intensificação das mudanças climáticas pode afetar diretamente crianças, que já enfrentam episódios de estresse, dor de cabeça e desmaios devido à falta de infraestrutura adequada nas escolas.
Impactos socioambientais
O evento reforçou a importância da mobilização social contra a UTE Brasília, reforçando a pressão sobre as autoridades para impedir sua implementação.
Se instalada, a usina a gás fóssil da Termo Norte Energia, com 1.470 MW de capacidade, pode emitir 4,7 milhões de toneladas de CO₂ por ano, agravando a crise climática.Especialistas alertam que o projeto também intensificará a crise hídrica no DF, já impactada pelo desmatamento e pelas mudanças climáticas. Além disso, a usina consumirá 5,8 milhões de m³ de gás por dia e 110 mil litros de água por hora, captada do Rio Melchior, que já apresenta a pior classificação ambiental (“Classe 4”), segundo a legislação brasileira.
Mas, os impactos não param por aí. A construção do Gasoduto São Carlos – Brasília, com 900 km de extensão, pode resultar na remoção de famílias de suas casas. Além disso, a Frente Nacional dos Consumidores de Energia estima que a usina pode elevar a conta de luz em até 17%.