+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Por: *Mia Couto *José Eduardo Agualusa

No dia em que a Europa interditou os voos de e para Maputo, Moçambique tinha registado cinco novos casos de infeção, zero internamento e zero morte por COVID-19. Nos restantes países da África Austral a situação era semelhante. Em contrapartida, a maioria dos países europeus enfrentava uma dramática onda de novas infecções.  


Cientistas sul-africanos foram capazes de detectar e sequenciar uma nova variante do SARS Cov 2. No mesmo instante, divulgaram de forma transparente a sua descoberta. Ao invés de um aplauso, o país foi castigado. Junto com a África do Sul, os países vizinhos foram igualmente penalizados. Em vez de se oferecerem para trabalharem juntos com os africanos, os governos europeus viraram costas e fecharam-se sobre os seus próprios assuntos. 


Não se fecham fronteiras, fecham-se pessoas. Fecham-se economias, sociedades, caminhos para o progresso. A penalização que agora somos sujeitos vai agravar o terrível empobrecimento que os cidadãos destes países estão sendo sujeitos devido ao isolamento imposto pela pandemia. 


Mais uma vez, a ciência ficou refém da política. Uma vez mais, o medo toldou a razão.  Uma vez mais, o egoísmo prevaleceu. A falta de solidariedade já estava presente (e aceite com naturalidade) na chocante desigualdade na distribuição das vacinas. Enquanto a Europa discute a quarta e quinta doses, a grande maioria dos africanos não beneficiou de uma simples dose. Países africanos, como o Botswana (que pagaram pelas vacinas) verificaram, com espanto, que essas vacinas foram desviadas para as nações mais ricas.

 
O continente europeu que se proclama o berço da ciência esqueceu-se dos mais básicos princípios científicos. Sem se ter prova da origem geográfica desta variante e sem nenhuma prova da sua verdadeira gravidade, os governos europeus impuseram restrições imediatas na circulação de pessoas. Os governos fizeram o mais fácil e o menos eficaz: ergueram muros para criar uma falsa ilusão de proteção. Era previsível que novas variantes surgissem dentro e fora dos muros erguidos pela Europa. Só que não há dentro nem fora. Os vírus sofrem mutações sem distinção geográfica. Pode haver dois sentimentos de justiça. Mas não há duas pandemias. 


Os países africanos foram uma vez mais discriminados. As implicações económicas e sociais destas recentes medidas são fáceis de imaginar. Mas a África Austral está longe, demasiado longe. Já não se trata apenas de falta de solidariedade. Trata-se de agir contra a ciência e contra a humanidade. 


Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Audiência Pública debate Impactos da UTE Brasília e gera repercussão

Na última sexta-feira (21), o deputado distrital Gabriel Magno (PT/DF), em parceria com o Instituto Internacional ARAYARA, deputados Distritais movimentos socioambientais, realizou uma audiência pública para discutir os impactos da Usina Termelétrica Brasília (UTE), da Termo Norte Energia.  O encontro , realizado no Auditório do IFB , em Ceilândia , ocorreu em resposta a diversas denúncias e pedidos de esclarecimento

Leia Mais »

ARAYARA participa da 10ª Reunião do Fórum Gaúcho de Mudanças Climáticas

O Instituto Internacional ARAYARA esteve presente na 10ª Reunião Ordinária do Fórum Gaúcho de Mudanças Climáticas (FGMC), realizada na última quinta-feira (20/3) pela Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema). Representando a organização, o voluntário e ativista ambiental Yuri Silva, que também atua como delegado na 5ª Conferência Estadual de Meio Ambiente do Rio Grande do Sul, participou do encontro.

Leia Mais »

Debate na Câmara reforça urgência da ratificação do Acordo de Escazú

Na manhã do dia 20 de março, o Instituto Internacional ARAYARA marcou presença no debate sobre o Acordo Regional sobre Acesso à Informação, Participação Pública e Acesso à Justiça em Assuntos Ambientais na América Latina e no Caribe, mais conhecido como Acordo de Escazú. O evento, promovido pela Frente Parlamentar Mista Ambientalista, coordenada pelo deputado federal Nilto Tatto (PT-SP), aconteceu

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: CLDF promove audiência pública para debater termelétrica

A audiência pública do Ibama sobre a construção de uma Usina Termelétrica (UTE) virou polêmica em Brasília. O órgão foi acusado de agir sem a devida transparência, já que a convocação não teria envolvido o Governo do Distrito Federal (GDF), conforme alegam as pastas internas. Por: Thamiris de Azevedo O Instituto Internacional Arayara obteve uma decisão judicial que suspendeu a audiência, alegando

Leia Mais »