O ARAYARA Amazon Climate Hub sediou, na tarde desta terça-feira (11), o evento “Da Resistência à Justiça: O Futuro Energético do Caribe e da América Latina”, reunindo organizações e lideranças regionais para debater os desafios e caminhos para uma transição energética justa diante da crescente expansão das atividades de petróleo e gás no Caribe e América Latina.
O painel também destacou o papel da litigância climática como ferramenta estratégica para questionar a legalidade desses empreendimentos, responsabilizar Estados e empresas por sua contribuição ao aquecimento global e fortalecer a cooperação regional em busca de soluções pautadas na justiça climática e energética.
O evento foi promovido pela LACLIMA e contou com representantes da Rede Nacional de Pesca da Colômbia, Greenpeace International e Probio Suriname.
John Wurdig, gerente de Transição Energética da ARAYARA, durante a abertura do evento, ressaltou: “um dos focos da litigância climática do Instituto Internacional ARAYARA é garantir os direitos dos territórios cada vez mais afetados pela indústria fóssil.”
Impactos no México
Flavia Bellaguarda, cofundadora e presidente da LACLIMA, destacou a urgência da situação no México: “No Golfo da Califórnia, a expansão acelerada de centrais de gás e gasodutos ameaça uma das regiões mais conservadas e biologicamente ricas do país. Essa indústria impacta comunidades locais, pescadores, fauna, ecossistemas e turismo. Por isso, conduzimos uma campanha para proteger essas áreas e frear os avanços fósseis. É essencial defender o oceano e promover uma transição energética que garanta a preservação ambiental e a sobrevivência das comunidades que dependem dele.”
Zona de sacrifício no Caribe colombiano
Julian Medina, da Rede Nacional de Pesca da Colômbia, relatou os impactos da exploração de petróleo e gás em comunidades costeiras:
“Estamos vivendo uma verdadeira zona de sacrifício. Nossos recifes de corais estão branqueando com o aumento da temperatura dos oceanos, espécies de peixes importantes para a região estão desaparecendo e quatro comunidades de pescadores sofrem diretamente. Derramamentos de óleo e atividades sísmicas estão destruindo a biodiversidade — perdemos peixes e aumentamos a pobreza de quase mil famílias.”
Segundo ele, a indústria fóssil oferece poucos benefícios às comunidades e impactos de longo prazo, como contaminação que pode durar mais de 12 anos, evidenciam a necessidade urgente de proteger o planeta.
Experiências no Suriname
Erlan Sleur, do Probio Suriname, contou sua trajetória de volta ao país após 20 anos de estudos na Holanda para proteger o meio ambiente:“Muitas pessoas desconhecem os impactos da indústria fóssil. Visitamos áreas de extração da Petrobras na Amazônia e investigamos derramamentos de óleo no Suriname, enfrentando empresas poderosas que tentam negar os danos.” Erlan destacou a urgência da ação: “não podemos confiar nessas indústrias que contribuem para a crise climática. Precisamos confrontar o Norte Global com a realidade da poluição, agir e avançar na transição energética. Não vamos desistir, porque nossa luta não é em vão.”
Riscos da foz do Amazonas
Mariana Andrade, oceanógrafa do Greenpeace, comentou sobre os riscos da expansão da exploração na Amazônia:
“Observar como o oceano toca a costa amazônica me fez compreender a gravidade da abertura dessa nova fronteira, uma região extremamente sensível e de importância vital. A foz do Amazonas conecta o Caribe e o Atlântico e, ao longo dos anos, tem sido uma linha de resistência. A emissão da licença do bloco 59, no entanto, é injusta e insustentável.”
Ela ressaltou ainda que a ausência de consulta livre, prévia e informada, conforme prevê a Convenção 169 da OIT, às comunidades afetadas, somada a falhas na análise ambiental, torna a exploração ainda mais preocupante. “Além disso, a discussão sobre um ‘novo pré-sal’ ignora completamente os impactos climáticos e sociais dessa atividade.”
Flexibilização do licenciamento e expansão da indústria
John Wurdig encerrou o evento destacando os desafios legais e políticos da expansão fóssil: “a indústria de combustíveis fósseis representa uma ameaça direta aos defensores ambientais. Pensando nisso, a ARAYARA lançou no ano passado o programa Defensores dos Defensores, que hoje se estende por toda a América Latina, oferecendo apoio a quem está na linha de frente dessa luta.”
Ele alertou para a flexibilização do licenciamento ambiental, que facilita a expansão da indústria, especialmente nos leilões de petróleo previstos entre 2023 e 2026, com mais de 1.200 blocos próximos a comunidades, segundo o Monitor Amazônia Livre de Petróleo.
Wurdig destacou ainda o relatório The Money Trail Behind Fossil Fuel Expansion in Latin America and the Caribbean, publicado pelo Instituto Internacional Arayara em parceria com a organização alemã Urgewald, Conexiones Climáticas (México), Farn (Argentina) e Amazon Watch (Peru). O estudo revela, de forma inédita, as rotas financeiras que sustentam a expansão de petróleo e gás na região, expondo os interesses por trás desse modelo de exploração.
O evento reforçou a urgência de ações coletivas e justiça climática, conectando comunidades do Caribe e América Latina na defesa dos territórios, da biodiversidade e de alternativas energéticas sustentáveis, diante da pressão crescente da indústria fóssil














