+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

COP30 Debate Bioeconomia Azul Contra Ameaça de Exploração de Petróleo na Amazônia Costeira

A Amazônia não é apenas verde. É também azul e alagada. Foi com essa premissa que o ARAYARA Amazon Climate Hub sediou o evento “Amazônia Costeira em Alerta: Petróleo, Pesca Artesanal e o Futuro da Alimentação” nesta quarta-feira (12), reunindo pesquisadores e lideranças dos territórios para debater o papel estratégico das águas amazônicas para a segurança alimentar e a biodiversidade.

O encontro, que teve a participação do Instituto Internacional ARAYARA, do Instituto Mapinguari e do ICMBIO, além da representação de comunidade indígena, evidenciou como a negligência histórica com a zona costeira está sendo cobrada, especialmente com o avanço da exploração de petróleo na região.

A Fronteira Fóssil e o Impacto na Pesca

A costa amazônica, que engloba o encontro do rio, do mar e da floresta, é uma área imensa, estratégica para o clima global por abrigar carbono azul e, economicamente, pela pesca artesanal. Contudo, essa região enfrenta uma fronteira imensa de exploração de petróleo, conforme alertou Kerlem Carvalho, coordenadora de Oceano e Águas do Instituto Internacional ARAYARA.

Kerlem explicou que o impacto do petróleo vai muito além do risco de vazamento: ele começa na fase inicial da exploração, a sísmica.

“A sísmica é a atividade que mapeia o fundo marinho para ver em quais locais existem poços viáveis para a exploração massiva,” disse. “Não falamos apenas do bloco 59, mas de 44 blocos que existem na costa amazônica. Uma área que atravessa Amapá, Pará e Maranhão.”

A sísmica gera zonas de exclusão para os pescadores e risco de rompimento de equipamentos de pesca, cujos prejuízos não são ressarcidos. A ARAYARA apresentou dois estudos que mapeiam como o petróleo impacta diretamente a pesca, transformando a discussão em uma questão de risco e impactos em cadeia, do mar à mesa do consumidor.

Oiapoque e a Invasão da Pesca Industrial

O impacto direto da pressão extrativista foi relatado por José Damaceno, vice-cacique da aldeia do Açaizal, da etnia Karipuna, em Oiapoque (AP). Ele testemunhou a chegada da Petrobras e as consequências imediatas para a segurança alimentar de sua comunidade.

A instalação de plataformas petrolíferas reduziu drasticamente o espaço dos pescadores, gerando uma reação em cadeia perigosa.

“Acontece invasão dos pescadores no nosso rio, porque eles não têm onde pescar, então invadem o rio na terra indígena,” relatou.

Além do conflito territorial e da invasão de barcos de pesca maiores, o cacique Karipuna trouxe a vulnerabilidade da subsistência. A mandioca, que era o “banco” da comunidade para alimentação e comércio, foi afetada por doenças, forçando a compra de farinha na cidade.

O líder indígena expressou desconfiança sobre as promessas de segurança das empresas: “Uma conversa com um representante da Petrobras afirmou que caso haja um acidente de vazamento, não pode nos atingir. Mas se nós mesmos sabemos que a maré sobe e desce e chega na nossa terra. Então sabemos que um impacto forte vai prejudicar a gente.”

O Manguezal, a Bioeconomia Azul e o Protagonismo Feminino

Gabriele Soeiro, do ICMBio, coordenadora do CNPT, corroborou a visão de que a Amazônia “verde” recebe mais visibilidade, enquanto a “Amazônia azul” fica sub-representada.

“A fala do cacique resume muito do que a gente acredita, e traz à tona o que é a verdadeira luta das comunidades tradicionais costeiras,” afirmou.

Ela destacou que a costa amazônica abriga o maior contínuo de manguezais do mundo e que o ICMBio trabalha para fortalecer o protagonismo dos povos em unidades de conservação. A saída passa pelo investimento na bioeconomia azul, que apoia o manejo sustentável da pesca.

Gabriele ressaltou ainda o papel fundamental das mulheres neste cenário: “As coisas começam com as mulheres, à frente das tomadas de decisões, chefes de família, então investimos em fortalecimento de gênero e no amanhã, investimos em juventude”.

O painel concluiu que não há como construir uma transição justa e garantir a segurança alimentar sem a escuta ativa das comunidades e a incorporação de seus conhecimentos – como o Livro dos Marcadores do Tempo do povo Karipuna, que registra as percepções indígenas sobre as mudanças climáticas e o manejo do território.

Fotos: Odaraê Filmes

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

ARAYARA na Mídia: Véget ért a szénalapú energiatermelés korszaka Brazíliában: az Ouro Negro erőmű engedélyezési eljárását lezárták

Belém, COP30 nyitónapja: Az Ibama, Brazília környezetvédelmi hatósága hivatalosan bejelentette az Ouro Negro széntüzelésű termelőerőmű (UTE) engedélyezési folyamatának végleges lezárását. Ez a döntés egyben az utolsó, Latin-Amerikában vizsgált fosszilis szénalapú projekt lezárását is jelenti, amely jelentős mérföldkő a régió energetikai átmenetében. A projekt és az engedélyezési folyamat háttere Az Ouro Negro projekt egy 600 MW teljesítményű széntüzelésű erőmű megépítését célozta Pedras

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Khi than đá vẫn trụ vững ở Brazil giữa thời kỳ năng lượng tái tạo

Tại Brazil, nơi năng lượng tái tạo chiếm hơn 80% sản lượng điện, ngành than vẫn tồn tại nhờ lợi ích địa phương và thiếu chiến lược chuyển đổi, phơi bày những thách thức khi nền kinh tế xanh phải dung hòa với sinh kế của hàng nghìn lao động.   ổng thống Brazil Luiz Inacio Lula da Silva phát

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Welcome to the planet’s newest oil frontier

Off Brazil’s northeastern coast, where the sediment-heavy water of the vast Amazon River tips out into the Atlantic, are two very different types of treasure. The first is an ecological gem: a 3,600 square-mile deepwater coral reef discovered less than a decade ago. The second treasure puts the first in immediate danger. Billions of barrels of oil may lie in the ancient

Leia Mais »

Silêncio Judicial: Lançamento de Pesquisa Inédita na COP30 Expõe Assédio Contra Defensores Climáticos

O ARAYARA Amazon Climate Hub sediou, nesta terça-feira (11), o lançamento da pesquisa inédita “Mapeamento da Litigância Estratégica contra a Participação Pública no Brasil”, que revela como grandes atores utilizam o sistema de Justiça para intimidar, silenciar e criminalizar defensores ambientais, indígenas e quilombolas. O evento, com o tema “Litigância Estratégica contra a Participação Pública (LEPPs): tendências, impactos e caminhos

Leia Mais »