Na última semana, ativistas, jornalistas e lideranças internacionais se reuniram no Lever House, em Nova York, para o painel “A Espada dos Oponentes e o Escudo dos Defensores”, promovido pela Global Climate Legal Defense em parceria com o Instituto Internacional ARAYARA. O debate integrou a programação da Climate Week NYC, paralela à Assembleia Geral da ONU, e teve como foco o papel ambíguo da tecnologia: ao mesmo tempo em que amplia riscos de vigilância e ataques digitais contra defensores, também pode ser um instrumento poderoso de mobilização e proteção.
A ARAYARA foi representada por Heloísa Simão, pesquisadora do programa Defensores dos Defensores. Ela destacou a importância de integrar a comunicação às estratégias de proteção de ativistas e movimentos socioambientais, em um contexto de crescentes violações de direitos, inclusive nos Estados Unidos. Para Simão: “É essencial que organizações da sociedade civil construam planos de proteção holística junto com os defensores, incorporando comunicação segura, formação em segurança digital e apoio jurídico e psicológico.”
O painel também discutiu a necessidade de enfrentar campanhas de difamação, processos judiciais abusivos e discursos de ódio que se intensificam nas redes sociais. Um ponto central foi o papel da mídia independente e da comunicação indígena na construção de narrativas próprias sobre justiça climática, rompendo com a lógica de invisibilidade imposta pelos veículos tradicionais e pelos algoritmos das grandes plataformas. A formação de comunicadores nos territórios para este fim foi apresentada como ponto fundamental.
Participantes lembraram ainda que a produção e divulgação de dados confiáveis, como faz a Global Witness, pode pressionar governos a agir para proteger defensores. O uso estratégico dessas informações tem potencial de gerar mudanças reais em políticas públicas nacionais e internacionais. “Se você tem um país que é tido como o que mais que mais mata defensores em determinado ano, isso gera impacto no governo e você tem reações a isso”, explica Javier Garate, assessor de políticas públicas da organização.
Outro aspecto debatido foi a responsabilidade das grandes empresas de tecnologia na proteção de ativistas. Relatório apresentado no painel mostrou que apenas 12% dos defensores que sofreram ataques digitais sentiram ter recebido algum tipo de reparação das plataformas. Esse dado reforça a urgência de regulação mais efetiva para garantir uma internet segura, com maior responsabilidade das empresas e compromisso com os direitos humanos.
O encontro deixou claro que a tecnologia é, ao mesmo tempo, risco e oportunidade. Para os defensores do clima, ela pode ser escudo quando usada para fortalecer redes de solidariedade, visibilizar narrativas invisibilizadas e ampliar a proteção dos territórios. Mas também pode ser espada nas mãos de quem busca silenciar vozes críticas. O desafio, concluíram os participantes, é construir coletivamente caminhos para que a tecnologia esteja a serviço da justiça climática e da defesa da vida.