Maria Leusa, coordenadora da Associação das Mulheres Munduruku. Foto: Greenpeace Brasil
Foi incendiada, por volta das 12 horas desta quarta (26), a residência de Maria Leusa Munduruku, coordenadora da Associação das Mulheres Munduruku Wakoborũn. Primeiras informações dão conta de que Maria Leusa está viva e bem, mas o Instituto Arayara ainda está colhendo detalhes. A terra indígena Munduruku está localizada na área rural do município de Jacareacanga, sudoeste do Pará. Um contingente da Polícia Federal está seguindo agora para o local.
ATUALIZAÇÃO URGENTE (15hs25min): CRIMINOSOS ESTÃO SUBINDO O RIO TAPAJÓS PARA CONTINUAR ATAQUE A INDÍGENAS. De acordo com Caetano Scannavino, coordenador do Projeto Saúde e Alegria, sediado no Pará, Maria Leusa está segura, com a Polícia Federal. Mas os mesmos criminosos que incendiaram a casa dela estão subindo o Tapajós até o Rio Kururu e prometem atacar a Aldeia Santa Cruz, da Liderança Munduruku Ademir Kabá, uma das principais vozes contra as barragens e o garimpo em terras indígenas. (Carlos Tautz)
Cerca de 100 pessoas pessoas – a maioria supostos garimpeiros que extraem ilegalmente minérios da terra indígena (TI) Munduruku – fecharam na manhã desta quarta (26) estradas que dão acesso à terra Munduruku. Eles protestavam contra a presença na região de 134 servidores federais, a maioria agente da Polícia Federal (PF) que foram para a região cumprir determinações do Supremo Tribunal Federal (STF), de repressão a atividades ilegais da TI. (CT)
A seguir, fotos de como ficou casa de Maria Leusa após os ataques.
Em comunicado distribuído no final da tarde, a PF informou que:
“A Polícia Federal informa que, na data de hoje (26), durante as ações da Operação Mundurukânia, no município de Jacareacanga, no interior do Pará, em cumprimento às medidas solicitadas pelo Supremo Tribunal Federal – STF, as forças de segurança que participavam da ação foram surpreendidas por um grupo de garimpeiros, que iniciou um protesto contra a operação de proteção das terras indígenas.
Os manifestantes tentaram invadir a base e depredar patrimônio da União, aeronaves e equipamentos policiais, provocando que medidas de contenção fossem tomadas com efetividade para a dispersão dos invasores sem que houvesse feridos.
A PF tem mantido diálogo com lideranças locais no intuito de esclarecer à população sobre o propósito da Operação e mediando conflitos que possam surgir.
Participam da operação a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal, o Ibama e a Força Nacional”.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (SFT) Luís Roberto Barroso ordenou, nesta segunda-feira (24), que o Governo Federal retire os invasores das Terras Indígenas Yanomami (Roraima) e Munduruku (Pará). A decisão, feita em caráter liminar, atendeu de forma parcial o pedido da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), dia 19 de maio, de expulsão de invasores dos territórios para evitar novo genocídio indígena devido o agravamento da violência causada, principalmente, pela atividade de garimpos ilegais nas regioes.
Em trecho da decisão o ministro determina “à União a adoção imediata de todas as medidas necessárias à proteção da vida, da saúde e da segurança das populações indígenas que habitam as TIs Yanomami e Munduruku, diante da ameaça de ataques violentos e da presença de invasores, devendo destacar todo o efetivo necessário a tal fim e permanecer no local enquanto presente tal risco.”
Leia a íntegra da decisão do ministro Barroso aqui.
O pedido da Apib foi protocolado nos autos da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 709, protocolada em 2020. A nova petição exige a retirada de invasores de sete terras indígenas em situação de intenso conflito com muitos crimes. Além das TIs Yanomami e Munduruku, que foram alvo da recente decisão do STF, os demais territórios que a Apib exige a saída de invasores são: TI Araribóia (Maranhão), T.I. Karipuna (Rondônia), T.I. Kayapó (Pará), T.I. Trincheira Bacajá (Pará), T.I. Uru-Eu-Wau-Wau (Rondônia).
A ADPF 709 reivindica uma série de medidas emergenciais para proteger os povos indígenas durante a pandemia da Covid-19. Em agosto de 2020, por unanimidade os ministros do STF acataram pedido da Apib e determinaram que governo federal adotasse medidas para conter o avanço da doença entre indígenas.
Trechos da decisão de Barroso:
i) há um plano de isolamento e contenção apresentado pela PF em autos sigilosos (“Na medida em que as operações forem realizadas, a Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República apresentarão relatórios, que serão disponibilizados pelo Juízo no âmbito da ADPF 709 e que permitirão uma avaliação crítica das medidas implementadas e o aperfeiçoamento das operações. O Plano 7 Terras Indígenas pode constituir o início do processo de desintrusão de invasores, se executado com seriedade pela União”);
ii) União deve enviar efetivo suficiente para assegurar proteção dos Yanomami e Mdk;
iii) União não deve divulgar nenhuma informação que comprometa operações (ou seja, vão acontecer);
iv) a decisão autoriza queimar tudo que seja instrumento de crime (bom precedente para os casos em que isso acontece – “providência cautelar amparada pelos arts. 25 e 72, V, da Lei 9.605/1998 e pelos arts. 101, I, e do Decreto 6.514/2008”).
“Os bandidos e os garimpeiros estão nos atacando noite e dia. Não queremos viver desse jeito. A Polícia Federal até agora não chegou. Estamos pedindo há cinco dias ajuda para nos defender. Vocês, autoridades de Brasília, a Funai também, têm de olhar para nós”, pede em vídeo o líder indígena Timóteo Yanomami, na aldeia Palimiú, que fica a cerca de 230 quilômetros de Boa Vista, capital de Roraima.
A fala de Timóteo Yanomami foi editada no primeiro parágrafo para resumir o teor do apelo do líder indígena. No vídeo, ele aparece armado de arco e flecha, à frente de vários guerreiros, e à beira do rio Uraricoeira, que margeia Pailimiú.
Em 10 de maio, os ataques – de tiros de fuzil e metralhadora, como pode ser visto no vídeo abaixo – resultaram em um número ainda incerto de mortes entre indígenas e de membros dos grupos armados. Duas crianças indígenas apareceram mortas após os ataques.
O Instituto Arayara também recebeu áudios, atribuídos pelas lideranças yanomami a garimpeiros e membros de outros grupos armados, em que são relatados os resultados dos ataques aos indígenas (Ouça aqui, aqui e aqui), em que teriam sido empregados pelo menos 20 homens armados de fuzis e metralhadoras. Ouça abaixo:
Em um dos áudios, uma voz de homem adulto diz que pelo menos dois atacantes e oito índios teriam morrido em um dos ataques.
É ilegal o garimpo nas terras Yanomami. Informações dão conta que membros da facção criminosa paulista PCC estão infiltrados entre os garimpeiros e também teriam participado dos ataques aos indígenas, conforme informou a agência de notícias Amazônia Real.
No dia 11 de maio, agentes da Polícia Federal estiveram em Palimiú e chegaram a trocar tiros com os atacantes, mas desde então os policiais não voltaram ao local.
A reportagem do Instituto Arayara tentou contato com a Superintendência da PF entre 18 e 20 de maio, mas não recebeu qualquer in formação sobre ações de proteção aos Yanomami.
Fontes da PF informaram que o efetivo da força não respondeu à reportagem porque se encontrava na festividade de posse no novo superintendente do órgão no estado. O delegado José Roberto Peres assume nesta quinta (21) o lugar de Richard Murad Macedo, que estava no cargo desde maio de 2018.
Contactado, o Ministério Público Federal em Roraima também não se manifestou.
Somente oito dias após ter sido informado da morte de nove crianças Yanomami (com idades entre um e cinco anos) com sintomas de COVID-19, o Ministério da Saúde enviou à região dos falecimentos, no norte de Roraima, a 20 km da fronteira com a Venezuela, 800 doses de vacina contra o coronavírus. Segundo o Ministério, os imunizantes serão aplicados a indígenas maiores de 18 anos, de acordo com o Plano Nacional de Imunização.
O Ministério ainda pesquisa se as mortes das crianças – quatro da comunidade indígena Waphuta e cinco da comunidade Kataroa –, todas ocorridas em janeiro, se devem à contaminação por contaminação pelo coronavírus. O Ministério não informou quando os resultados dos testes ficarão prontos nem se as demais crianças da região também serão vacinadas, caso se confirme a morte por COVID-19 das nove vítimas.
“É muito preocupante (o calendário de vacinação do Ministério da Saúde). Eu conversei com a médica (do local). A maioria das crianças está pegando coronavírus. Não adultos”, afirmou o presidente da Comissão de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Conduisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami.
Ele também informou que outras 25 crianças Yanomami, que ainda permanecem na região, apresentam sintomas coronavírus (como febre alta e dificuldade para respirar) e que mais cinco – a mais nova com menos de um ano e meio – já estão internadas na Unidade de Tratamento Intensivo do Hospital da Criança, pertencente à rede municipal de Boa Vista, capital de Roraima.
De São Paulo, onde se encontrava em acompanhamento a uma criança Yanomami de um ano que fará cirurgia cardíaca, Júnior confirmou que as vacinas chegaram de helicóptero no final da tarde de terça-feira (2) ao polo Base de Surucucu e que de lá foram enviados na manha desta quarta (3) para Waphuta e Kataroa, levando os imunizantes e pessoal do corpo médico.
Outras comunidades da mesma região só começaram a ser vacinadas na semana passada com a CoronaVac – do laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan (SP).
Desde 26 de janeiro, o Ministério da Saúde já sabia das suspeitas de que as mortes decorrem da COVID-19. Naquela data, Júnior informou o Ministério das mortes, através de ofício da Conduisi-YY timbrado como “urgente”. O documento foi enviado ao Secretario Especial de Saúde Indígena, Robson Santos Silva, com cópia ao Coordenador Distrital de Saúde Indígena Yanomami, Rômulo Pinheiro de Freitas.
Contatado na tarde da terça-feira (2), Freitas não retornou as ligações e mensagens da Arayara.
De acordo com a Rede Pró Yanomami e Ye’kwana, que inclui pesquisadores e outros profissionais que apoiam as comunidades, “foram registrados em nosso monitoramento 1.641 casos confirmados de Covid-19 na Terra Indígena Yanomami, entre eles16 óbitos. Outros 14 óbitos foram registrados como suspeitos – aqui não estão contabilizadas as nove mortes das crianças Yanomami ocorridas em janeiro de 2021”.
A população em Waputha é de 816 Yanomami e em Kataroa, 412. Em toda a região vivem 28.141 indígenas em 371 aldeias ou pequenas comunidades isoladas no meio da floresta.
Em nota, a Rede também denuncia que “antes mesmo da pandemia chegar a esse território, os Yanomami e Ye’kwana já sofriam com um atendimento de saúde ineficiente e que não leva em conta as especificidades socioculturais e linguísticas dos grupos indígenas atendidos”.
“Com a virada do ano, o que vemos é mais do mesmo – omissão e descaso –e os casos confirmados de Covid-19 continuam aumentando. Mesmo com o início da vacinação entre os Yanomami e Ye’kwana na TIY, a Covid-19 ainda é uma forte preocupação para os indígenas que ainda sofrem com o aumento vertiginoso da malária, principal comorbidade que tem acometido essa população”, completa.
A Terra Yanomami, localizada entre Roraima e Amazonas, é a maior reserva indígena do Brasil. Foi homologada em 25 de maio de 1992 e possui área contínua de 9.419.108 hectares de floresta tropical úmida com relevo montanhoso. As associações indígenas da região vêm denunciando, desde o início da pandemia, que a COVID-19 chegou aos indígenas isolados no meio da floresta através de garimpeiros que exploram a área ilegalmente.
O último dia 29 de janeiro, Dia de Luta e Resistência dos Povos Indígenas do Sul, marcou os 41 anos da morte do cacique Ângelo Kretã, uma das maiores lideranças indígenas do país.
Neste dia, inauguramos a sala Cacique Ângelo Kretã junto a sede Nacional da Fundação Arayara e do Instituto Internacional Arayara.
O Cacique Kretã nasceu e viveu na terra indígena de Mangueirinha, no Sudoeste do Paraná, e lutou toda a sua vida pelos direitos dos indígenas e pela demarcação de terras.
Com a importância de sua liderança, foi eleito em 1976, em plena ditadura militar, o primeiro vereador indígena, pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), se tornando um exemplo de luta nacional.
A Arayara defende o direito aos povos originários do Brasil, especialmente a demarcação de terras. Ângelo Kretã era uma voz que dava eco a todas as demandas indígenas com carisma e determinação.
Dentro deste compromisso, inauguramos a sala Ângelo Kretan e reforçamos, hoje, a parceria técnica entre nossa instituição, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e a Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul).
A morte prematura de Ângelo Kretã, em 1980, em um ‘acidente de carro’ em uma estrada dentro da aldeia – que hoje já se sabe ter sido um crime premeditado -, causou grande comoção. Sua memória persiste e inspira novas lideranças na luta pelos direitos dos povos indígenas.
Âgelo Kretã foi uma liderança indígena com projeção nacional e internacional no período da Ditadura e denunciou o roubo de suas terras no Paraná e no Mato Grosso.
É muito importante lembrar desses líderes que deram origem a toda essa luta e legado que temos hoje de buscar nossos direitos como povos indígenas. Homenagear o Ângelo, hoje, é homenagear todo o início da luta pela terra. Homenagear o dia de hoje é ressaltar a importância de lutar pela demarcação de terras, em um momento que o Estado Brasileiro nega terras a povos indígenas, mas vende essas terras a povos estrangeiros”, ressaltou Kretã, durante a inauguração da sala, ao lado do filho que nasceu no mesmo dia da morte de ngelo, 29 de janeiro.
Nós, da Arayara, continuamos reforçando essa luta e a importância de sermos parceiros na luta por justiça, social e ambiental.
Conheci Ângelo Kretã ainda novo e conversei tantas vezes com seu filho Kretã Kaigang, uma pessoa que vem atuando nas lutas contra os combustíveis fósseis, a transição da energia, e toda a mineração que acontece hoje, nos territórios indígenas e todo o território brasileiro. Ver os descendentes de Ângelo me dá a certeza de que essa luta sempre irá continuar”, reforça Juliano Bueno de Araújo, diretor do Instituto Arayara.
“No ano de 2021, temos uma agenda intensa para garantir a vida de todos nós, a existência das nossas florestas, da água, do direito ao alimento saudável, e aos direitos humanos. Nosso objetivo comum é dar continuidade a essa resistência e essa referência de que venceremos esses desafios”, conclui Juliano.
Prefeito da cidade que simboliza o caos na saúde brasileira utiliza pandemia para fazer lobby para projeto que ameaça porção intocada da floresta no Amazonas: “Se for aberta para invasão, é um desastre”, alerta pesquisador do Inpa
A cidade Manaus, no coração Amazônia brasileira, simboliza a tragédia do enfrentamento à pandemia em todo o Brasil, porque a prefeitura local usa o mesmo negacionismo genocida operado pelo governo federal. Na falta de oxigênio hospitalar para atender os doentes internados na cidade, devido à suspensão do envio do insumo pelo Ministério da Saúde, o prefeito manauara, David Almeida (Avante), tentou esconder a situação nesta capital do Amazonas. Preferiu culpar ambientalistas por atrasos na reconstrução da estrada BR-319, que liga Manaus a Santarém. Almeida diz que, se a BR-319 funcionasse integralmente, o oxigênio seria entregue.
Mas, o prefeito Almeida preferiu deixar de lado outras tragédias enfrentadas por Manaus – e onde a omissão do poder público é, literalmente, um caso de vida ou de morte.
“Em Manaus vivem 30 mil indígenas de 47 povos que falam 16 línguas e se articulam em 100 organizações . A cidade tem a maior população indígena do Pais, mas o fato de estarmos em uma grande cidade não significa que se tenha acesso aos principais serviços de saúde. A pandemia não trouxe apenas a doença. Trouxe também a fome e principalmente violação de direitos para os indígenas”, reclama Marcivania Sateré, coordenadora da Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (Comipe).
Marcivânia denuncia que, apesar de suas características marcadamente indígenas, Manaus não desenvolveu um plano de contingência específico para esse recorte da população. “No dia 6 de janeiro encaminhamos através do Ministério Público Federal , nosso grande parceiro, um documento solicitando o plano”, informa.
“Na primeira onda (de COVID-19), mapeamos 35 óbitos em Manaus , entre abril a junho de 2020. Não entraram nos números oficiais no Ministério da Saúde. Em 2021, já tivemos dois óbitos que também não entraram nos números. Essas pessoas estavam ligadas a uma organização indígena, mas grande parte da população indígena não está ligada a nenhuma organização. São famílias isoladas por todas as zonas de Manaus”, denuncia.
“O caos é muito grande nas unidades de saúde e tem um número muito grande de pessoas morrendo em casa. A economia indígena na cidade de Manaus está centrada na produção e venda do artesanato e nas apresentações culturais para o turismo”, explica, observando que todas essas atividades foram suspensas durante o isolamento social necessário para enfrentar o coronavírus.
“A gente se pergunta: por onde andam deputados estaduais, vereadores e prefeito. Na primeira onda, tivemos ainda algumas articulações com as equipes de médicos da Secretaria Municipal (de Saúde). Eles atenderam algumas comunidades onde estavam os contaminados. Em Manaus não há representatividade indígena (na Câmara Municipal)”, reclama Marcivânia.
Marcivania Sateré (de azul), coordenadora da Comipe. ?: Cáritas
A Arayara.org tentou contato na tarde de terça-feira (19) e na manhã de quarta (20) com as Secretarias de Comunicação e da Casa Civil da Prefeitura de Manaus para perguntar sobre a existência ou não do plano de contingência para indígenas. Até a publicação desta matéria. Nenhum dos órgãos respondeu à nossa solicitação. Se o fizerem mais tarde, atualizaremos este texto.
“A campanha de imunização do governo federal deixa de fora os indígenas que estão nas cidades. É uma imunização voltada apenas para os indígenas aldeiados. Estamos muito vulneráveis. Indígenas apresentam taxas (de contaminação e de letalidade) muito superiores em relação a outros segmentos da população brasileira. A Covida-19 afeta diretamente as nossas raízes culturais, levando a óbito os guardadores das nossas memórias ancestrais que são os nossos anciões”, alerta a coordenadora da Copime, observando que a culpa da tragédia também é do governo federal.
No relatório “Covid-19 e Povos indígenas – O enfrentamento das violências durante a pandemia”, de novembro de 2020, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB, organização de âmbito nacional que reúne sete entidades regionais nos 27 estados brasileiros) contabiliza que “até dezembro de 2020, mais de 41 mil indígenas foram contaminados pelo novo coronavírus, atingindo mais da metade dos 305 povos que vivem no Brasil (…) “Foi entre os meses de março à novembro de 2020, que as violências contra os povos indígenas aumentaram dentro e fora de nossos territórios. Os criminosos que invadem nossas terras não fizeram quarentena e, muito menos, “home office”. Afirmamos que o agravamento das violências contra os povos indígenas, durante a pandemia, foi incentivado por Bolsonaro”, continua o relatório.
A entrevista completa de Marcivânia está aqui :
A BR-319 é instrumento eleitoral dos políticos de Manaus, diz Fearnside – “Esse tema da estrada BR-319 ameaça não apenas Manaus, mas o Brasil inteiro”, observa Philip Fearnside. “Aquele grande bloco de floresta na parte oeste do (Estado do) Amazonas está segurando a situação ambiental no País hoje. Se for aberto para invasão, por essas mesmas pessoas que passaram por Rondônia, sul do Pará etc, é um desastre. Sua função (da região) é a reciclagem de água transportada para o sudeste e o sul do Brasil através dos chamados rios voadores”.
Fearnside se refere à construção da estrada federal BR-319, que vai ligar Manaus (AM) a Porto Velho (RO) e que está em processo de licenciamento ambiental . O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) submetido ao Ibama “está recebendo tratamento acelerado pelo que parece ser uma aprovação predeterminada. A aprovação apressada de um projeto que implique uma grande expansão da área na Amazônia que está exposta ao desmatamento é extremamente imprudente”.
Biólogo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Philip Fearnside. ?: Divulgação
Se concluído integralmente o plano do governo federal de reconstruir e ampliar a BR-319, a estrada vai bordear toda a extensão a que Fearnside se referiu, e que até hoje conseguiu ficar livre das queimadas e derrubaras de florestas do assim chamado Arco do Desmatamento – uma enorme região no norte do mato Grosso e sul do Pará, onde o grande negócio agrícola associados a grileiros nacionais e internacionais puseram enormes porções de floresta abaixo.
“Aquele é o último grande bloco de floresta intacta na Amazônia brasileira”, costuma dizer o pesquisador, estadunidense de nascimento que há quase 50 anos trabalha no Brasil.
A entrevista completa com o professor Fearnside está aqui:
? destaque: Vatican News
Manaus alberga la mayor población indígena urbana de Brasil, pero no tiene un plan de contingencia específico, dice el líder Sateré
El alcalde de la ciudad que simboliza el caos en la salud brasileña utiliza la pandemia para presionar por un proyecto que amenaza a la porción virgen de la selva amazónica: “Si se abre para la invasión, es un desastre”, advierte el investigador del Inpa
La ciudad de Manaus, en el corazón de la Amazonia brasileña, simboliza la tragedia de enfrentar la pandemia en todo Brasil porque el gobierno local utiliza el mismo negacionismo genocida operado por el gobierno federal. Ante la falta de oxígeno hospitalario para atender a los pacientes internados en la ciudad, debido a la suspensión del envío del insumo por parte del Ministerio de Salud, el alcalde de Manaus, David Almeida (del partido llamado Adelante), trató de ocultar la situación en esta capital del Estado de Amazonas. Prefirió culpar a los ecologistas por los retrasos en la reconstrucción de la autopista BR-319, que conecta Manaus con Santarém. Almeida dice que si la autopista BR-319 funcionara a pleno rendimiento, se entregaría oxígeno.
Estos argumentos fueron refutados por los científicos – entre ellos, el biólogo del Instituto Nacional de Investigaciones de la Amazonia (Inpa), Philip Fearnside, uno de los más respetados del país. Fearnside, nativo de los Estados Unidos de América, ha sido una referencia en el estudio del funcionamiento de la selva amazónica durante casi 50 años – al final de este texto, Fearnside aborda las amenazas ambientales que se esconden bajo la propuesta de reconstruir y ampliar la carretera BR-319. Al final de este texto, Fearnside explica estos impactos con más profundidad.
Sin embargo, el alcalde Almeida prefirió dejar de lado otras tragedias que enfrenta Manaus – y donde la omisión del poder público es literalmente un caso de vida o muerte.
“Manaus es el hogar de 30.000 de 47 pueblos que hablan 16 idiomas y están articulados en 100 organizaciones. La ciudad tiene la mayor población indígena del país, pero el hecho de que estemos en una gran ciudad no significa que tengamos acceso a los principales servicios de salud. La pandemia no sólo ha traído la enfermedad. También ha traído el hambre y especialmente la violación de los derechos de los pueblos indígenas”, se queja Marcivania Sateré, coordinadora de la Coordinación de Pueblos Indígenas de Manaus y Entorno (Comipe).
Marcivânia denuncia que, a pesar de sus características marcadamente indígenas, Manaus no ha desarrollado un plan de contingencia específico para este recorte de la población. “El 6 de enero enviamos un documento solicitando el plan a través del Ministerio Público Federal, nuestro principal compañero”, dijo.
“En la primera oleada (de COVID-19), hemos cartografiado 35 muertes de indígenas en Manaus, entre abril y junio de 2020. No han introducido los números oficiales en el Ministerio de Salud. En 2021, ya teníamos dos muertes que tampoco entraron en los números. Estas personas estaban vinculadas a una organización indígena, pero una gran parte de la población indígena no está vinculada a ninguna organización. Son familias aisladas en todas las áreas de Manaus”, dijo.
“El caos es muy grande en las unidades de salud y hay un gran número de personas que mueren en casa. La economía indígena en la ciudad de Manaus se centra en la producción y venta de artesanías y presentaciones culturales para el turismo”, explica, señalando que todas estas actividades se han suspendido durante el aislamiento social necesario para hacer frente al coronavirus.“Nos preguntamos dónde van los diputados estatales, los concejales y el alcalde. En la primera ola, también tuvimos algunas articulaciones con los equipos de médicos de la Secretaría Municipal (Salud). Sirvieron a algunas comunidades donde estaban los contaminados. En Manaos, no hay representación indígena (en la Cámara Municipal)”, se queja Marcivânia.
Marcivania Sateré (en azul), coordenadora da Comipe. ?: Cáritas
Arayara.org trató de ponerse en contacto el martes por la tarde (19) y el miércoles por la mañana (20) con los Departamentos de Comunicación y la Casa Civil del Ayuntamiento de Manaus para preguntar sobre la existencia o no del plan de contingencia para los indígenas. Hasta la publicación de este artículo, ninguna de las agencias respondió a nuestra petición. Si lo hacen más tarde, actualizaremos este texto.
“La campaña de inmunización del gobierno federal deja fuera a los indígenas que están en las ciudades. Se trata de una inmunización dirigida únicamente a los habitantes de las aldeas indígenas. Somos muy vulnerables. Los indígenas tienen tasas mucho más altas (de contaminación y letalidad) que otros segmentos de la población brasileña. Covida-19 afecta directamente a nuestras raíces culturales, lo que lleva a la muerte de los guardianes de nuestras memorias ancestrales que son nuestros mayores”, advierte el coordinador de Copime, señalando que el gobierno federal también tiene la culpa de la tragedia.
Con efecto, el informe “Covid-19 y los Pueblos Indígenas – La confrontación de la violencia durante la pandemia” de noviembre de 2020, la Articulación de los Pueblos Indígenas de Brasil (APIB, una organización de ámbito nacional que reúne a siete entidades regionales en los 27 estados brasileños) informa de que “en diciembre de 2020, más de 41.000 indígenas habían sido contaminados por el nuevo coronavirus, lo que afecta a más de la mitad de los 305 pueblos que viven en Brasil (…)
“Fue entre los meses de marzo y noviembre de 2020, que la violencia contra los pueblos indígenas aumentó dentro y fuera de nuestros territorios. Los criminales que invaden nuestras tierras no han sido puestos en cuarentena, y mucho menos en “home office”. Afirmamos que el empeoramiento de la violencia contra los pueblos indígenas durante la pandemia fue alentado por Bolsonaro”, continúa el informe.
La entrevista completa (en Portugués) de Marcivania está aquí:
La autopista BR-319 es un instrumento electoral para los políticos de Manaus, dice Fearnside – “Este tema de la autopista BR-319 amenaza no sólo a Manaus, sino a todo Brasil”, señala Philip Fearnside. “Ese gran bloque de bosque en la parte occidental del (estado de) Amazonas está frenando la situación ambiental del país hoy en día. Si se abre para la invasión, por esas mismas personas que pasaron por Rondonia, sur de Pará, etc., es un desastre. Su función (de la región) es el reciclaje del agua transportada al sudeste y al sur de Brasil a través de los llamados ríos voladores”.
Fearnside se refiere a la construcción de la carretera federal BR-319, que unirá Manaus (AM) con Porto Velho (RO) y que está en proceso de autorización ambiental. El Estudio de Impacto Ambiental (EIA) presentado al Ibama “está recibiendo un tratamiento acelerado para lo que parece ser una aprobación predeterminada. La aprobación apresurada de un proyecto que implica una gran expansión de la zona del Amazonas que está expuesta a la deforestación es extremadamente imprudente”.
Biólogo del Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Philip Fearnside. ?: Divulgação
Si el plan del gobierno federal para reconstruir y ampliar la carretera BR-319 se completa en su totalidad, la carretera bordeará toda la extensión a la que se refería Fearnside, y que hasta el día de hoy ha logrado mantenerse libre de la quema y la tala de bosques en el llamado Arco de la Deforestación – una enorme región en el norte del Mato Grosso y el sur de Pará, donde el gran negocio agrícola asociado a los grillos nacionales e internacionales ha puesto enormes porciones de bosque debajo.
“Ese es el último gran bloque de bosque intacto en la Amazonia brasileña”, dice el investigador, un estadounidense de nacimiento que ha trabajado en Brasil durante casi 50 años.
La entrevista completa (en Portugués) con el profesor Fearnside está aquí:
Amazonas’ capital, Manaus hosts the largest urban indigenous population in Brazil, but has no specific contingency plan, says Sateré leadership
The city of Manaus, in the heart of the Brazilian portion of the Amazon region, symbolizes the tragedy of fighting against COVID-19 pandemic across Brazil, as the local city hall uses the same genocidal denialism operated by the federal government.
With the lack of oxygen cylinders to assist hospitalized patients in the city – due to the Ministry of Health’s supply suspension –, Manaus mayor, David Almeida (who belongs do Forward political party), tried to hide the situation in this capital city of Amazonas State. He blamed environmentalists for delays in rebuilding the BR-319 road, which connects Manaus to the city of Santarém. Almeida says that if BR-319 were to function fully, oxygen would be delivered.
These arguments were challenged by scientists – including the biologist at the National Institute of Amazonian Research (Inpa), Philip Fearnside, one of the most respected in the country. American by birth, Fearnside has been, for almost 50 years, a reference in the study of the Amazon forest functioning – at the end of this text, Fearnside addresses the environmental threats hidden under the proposal to rebuild and expand BR-319.
However, Mayor Almeida preferred to put aside other tragedies faced by Manaus – and where the public power omission is literally a case of life or death.
“Thirty thousand indigenous people of 47 ethnicities who speak 16 different languages and are articulated in 100 organizations live in Manaus. The city has the largest indigenous population in the country, but the fact that we are in a large city does not mean that we can access the main health services. The pandemic didn’t just bring the disease. It also brought hunger and, above all, violation of rights for indigenous people”, complains Marcivania Sateré, head of the Coordination of Indigenous Peoples in Manaus and Surroundings (Comipe).
Marcivania says that, despite its markedly indigenous characteristics, Manaus did not develop a specific contingency plan for this population segment. “On January 6th, we sent a document, through the Federal Prosecution Office, our great partner, requesting the plan,” she informs. “In the first wave (of COVID-19), we mapped 35 deaths in Manaus, between April and June 2020. They did not enter the official numbers at the Ministry of Health. In 2021, we already have two deaths that also did not enter the statistics. These people belonged to indigenous organization, but a large part of the indigenous population didn´t join any organization. They are isolated families all over Manaus”, she denounces.
“In the first wave (of COVID-19), we mapped 35 deaths in Manaus, between April and June 2020. They did not enter the official numbers at the Ministry of Health. In 2021, we already have two deaths that also did not enter the statistics. These people belonged to indigenous organization, but a large part of the indigenous population didn´t join any organization. They are isolated families all over Manaus”, she denounces.
“Chaos is huge in the health units, and many people are dying at home. The indigenous economy in Manaus is centered on the production and sale of handicrafts and cultural presentations for tourists”, she explains, noting that all these activities were suspended during the social isolation necessary to face the coronavirus.“We wonder where are state deputies, councilors, and the mayor. During the first wave, we still had some articulations with the doctors of the Municipal Secretariat (of Health). They attended some communities where the contaminated ones were. In Manaus, there is no indigenous representation (in the City Council)”, complains Marcivânia.
Marcivania Sateré (in azul), Comipe coordinator. ?: Cáritas
Arayara International Institute has tried to contact on Tuesday afternoon (19) and on Wednesday morning (20) both the Communication Service and the Civil Cabinet of Manaus City to ask about the contingency plan for indigenous peoples. Until the publication of this article, none of the agencies responded to our request. If they do so later, we will update this text.
“The federal government’s immunization campaign leaves out indigenous people who live in cities. It is an immunization aimed only at indigenous villagers. We are very vulnerable. Indigenous people have much higher rates (of contamination and lethality) than other segments of the Brazilian population. Covid-19 directly affects our cultural roots, leading to the death of the ones who guard our ancestral memories, that are our elders”, warns the Copime coordinator, noting that the blame for the tragedy is also on the federal government.
In the report “Covid-19 and Indigenous Peoples – Facing violence during the pandemic”, of November 2020, Brazil’s Indigenous People Articulation (APIB), a nationwide organization that brings together seven regional entities in the 27 Brazilian states, says that “Until December 2020, more than 41,000 indigenous people were infected with the new coronavirus, affecting more than half of the 305 indigenous populations living in Brazil (…) “It was between March and November 2020, that violence against indigenous peoples increased inside and outside our territories. The criminals who invade our lands have not been quarantined, let alone remote work. We affirm that the worsening of violence against indigenous peoples, during the pandemic, was encouraged by Bolsonaro,” continues the report.
Marcivania’s full interview (in Portuguese) is here:
BR-319 is an electoral tool for Manaus politicians, says Fearnside – “This BR-319 road discussion threatens not only Manaus but the whole country,” notes Philip Fearnside. “That large block of forest in the western part of the (State of) Amazonas is holding the environmental situation in the country today. If it is opened for invasion by the same people who passed through Rondônia, south of Pará, and other places, it will be a disaster. Its function (in the region) is to recycle water transported to the southeast and south of Brazil through the so-called flying rivers”. Fernside refers to the reconstruction of the federal road BR-319, which connects Manaus (in Amazonas State) to Porto Velho (in Roraima State) and is in the process of environmental licensing. The Environmental Impact Study (EIA) submitted to Ibama – Brazil’s environmental agency – “is receiving accelerated treatment for what appears to be a predetermined approval. The hasty approval of a project that implies the expansion of areas in the Amazon exposed to deforestation is extremely imprudent”.
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) Biologist, Philip Fearnside. ?: Divulgação
If the federal government’s plan to rebuild and expand BR-319 was fully completed, the road would border the entire regionFearnside referred to, and which until today has managed to be free from burning and clearing of forests as in the so-called Deforestation Arch – a huge region between northern Mato Grosso and southern Pará States where the great agricultural business associated with national and international land grabbers put huge portions of forest down.
“That is the last large block of intact forest in the Brazilian Amazon”, says the researcher. You can find the full interview (in Portuguese) with Professor Fearnside here:
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