+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

As muitas contradições do programa Adote Um Parque

Desde que seu edital foi lançado, em março – em meio a uma série de questões ainda embaçadas – o programa Adote um Parque já conta com seis empresas interessadas em “adotar” uma das 132 Unidades de Conservação disponíveis.

Levanta muitas dúvidas um programa de governo voltado para a preservação ambiental, mas proposto por um ministério que flexibiliza regras ambientais, deixa passar a boiada enquanto batemos recordes de desmatamento, e incentiva a mineração e exploração de áreas extremamente sensíveis.

Esta é apenas uma da série de contradições que envolve o programa Adote um Parque, que permite que pessoas – físicas, jurídicas, nacionais ou estrangeiras – adotem unidades de conservação na Amazônia por um período de até cinco anos.

Em tese, as ações dos adotantes terão alguns objetivos, como a recuperação ambiental de áreas degradadas, e o apoio à prevenção e ao combate de incêndios florestais e do desmatamento ilegal. Lembrando que somente em 2019, no primeiro ano deste governo, o Brasil perdeu mais de 1.2 milhão de hectares de vegetação nativa por conta do desmatamento.

Os dados foram apontados no primeiro Relatório Anual do Desmatamento – lançado no ano passado pela organização MapBiomas.

Em 2020, mais números desastrosos. No mundo, os incêndios e a derrubada de árvores destruíram 4,2 milhões de hectares de florestas tropicais primárias, um aumento de 12% na comparação com 2019, de acordo com o relatório anual Global Forest Watch, divulgado na semana passada pelo World Resources Institute (WRI).

As piores perdas foram no Brasil, três vezes maiores do que o segundo lugar, a República Democrática do Congo. E, agora, um programa que visa “apagar o incêndio” ainda mais propagado por este governo, é lançado sem muita transparência.

Nos deparamos com uma nova contradição quando a primeira empresa interessada na adoção – de uma reserva extrativista em Rondônia – se trata do Carrefour, que possui uma série de violações ambientais em suas cadeias de fornecimento, adquirindo carne de frigoríficos conectados ao desmatamento ilegal e acusações graves de racismo.

O programa ainda deixa muitas lacunas. Não fica claro como estas empresas “adotantes” irão realizar as ações do progarma. O governo Federal, através do decreto, tampouco deixa claro a implementação deste programa.

Também não se tem clareza sobre onde passa e como serão geridos e aplicados esses valores vindos das empresas. Como será realizado este monitoramento?

Um relatório trimestral de doação é muito pouco para ter transparência. Qual será a transparência que vai se ter, dentro do próprio ICMBio e do Ministério do Meio Ambiente? No caso das unidades de conservação de uso sustentável, o quanto as comunidades que vivem lá vão participar desse processo? A princípio, nenhuma destas populações foi consultada.

Ainda precisa ser questionado o que existe de amparo legal para que alguns termos de compromisso deixem de existir e se possa simplesmente passar a gestão da área sem ouvir as comunidades.

“A adoção de um parque, se não for aliada a uma série de mudanças na cadeia de fornecimento, treinamento de funcionários e um compromisso sério com o combate ao desmatamento em toda a sua cadeia, será apenas mais uma ação de marketing verde”, ressalta Nicole Oliveira, diretora do Instituto Internacional Arayara.

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Energia cara e poluente: o leilão extinto que pode voltar como vetor de emissões

O encerramento do processo do Leilão de Reserva de Capacidade na forma de Potência de 2025 (LRCAP), anunciado nesta terça-feira (20) pela diretoria da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), vai além de uma simples decisão técnica. Em um momento crítico para a agenda climática global, a medida expõe uma ameaça estrutural à transição energética brasileira e levanta questionamentos sobre

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: O que está em jogo no projeto da usina termelétrica no DF

Projeto aguarda aprovação de licenciamento ambiental do Ibama. Movimentos questionam impactos ambientais e sociais sobre área que receberá instalação FOTO: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados Manifestações em seminário sobre a UTE Brasília Está em discussão desde março a aprovação de licença ambiental do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) para a UTE (usina termelétrica) Brasília, no

Leia Mais »

Alerta Vermelho: Petrobras avança na intenção de explorar petróleo na Margem Equatorial

O Instituto Internacional ARAYARA repudia decisão do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de aprovar que a Petrobras coloque em curso o plano de resgate de animais em caso de vazamento de óleo na Margem equatorial, no Amapá. Por: Agência Avenida A ARAYARA referência internacional em estudos climáticos, lidera campanha contra o Leilão para a

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Carvão não é transição, ministro Alexandre Silveira

Tem raposa no galinheiro: enquanto maior parte do governo age para manter vetos a benefícios para combustíveis fósseis na lei das eólicas offshore, MME avalia benesses para carvão. A reportagem é de Alexandre Gaspari, publicada por ClimaInfo, 20-05-2025. A articulação política do governo federal corre contra o tempo para manter os vetos do presidente Lula na lei 15.097/2025, que regulamenta

Leia Mais »