+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Arayara promove live sobre “vampiros hídricos” no dia da água

Termelétricas e fracking promovem grande impacto e geram escassez hídrica

O Instituto Arayara realizou na terça-feira (22), o Dia Mundial da Água, a live “Vampiros Hídricos – como a água sofre ameaças com o uso de combustíveis fósseis”. O debate abordou como as termelétricas “sugam” recursos hídricos, produzindo escassez e induzindo conflitos sociais em áreas onde a falta d’água já é uma realidade. A perfuração de poços para obtenção de gás, mais conhecido como fracking, também ameaça os mananciais.

Participaram da live o professor de direito ambiental e urbanístico, presidente da Comissão de Meio Ambiente da OAB do Ceará João Alfredo Telles Melo, o presidente do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) André Luis Ferreira e a diretora da Arayara Nicole Figueiredo de Oliveira. A mediação foi da jornalista Sílvia Marcuzzo.

O presidente do IEMA destacou que o Brasil tem apostado de forma equivocada na expansão da termeletricidade. Além das usinas já em operação, pelos menos outras 100 já estão licenciadas ou em processo de licenciamento.

Ineficiência energética  

“Nas termelétricas, quase metade da energia contida no combustível não vira eletricidade. Há outras em que 70% da toda energia vira poluição”, explicou Ferreira.

Ou seja, além de emitir gases do efeito estufa e poluentes atmosféricos, os empreendimentos fazem mal uso da água em um processo de geração de energia altamente ineficiente.

Para expelir essa grande quantidade de calor, as usinas fazem utilização massiva de água com o objetivo de resfriar a estrutura. “Uma usina de mil megawatts a gás vai consumir água equivalente a uma população de 150 mil habitantes. Com o agravante de que 70% da água captada evapora e não retorna à bacia em que ela está”, disse. 

Nas usinas a carvão, segundo Melo, a situação é ainda pior. “Em uma térmica de mil megawatts, a captação de água equivale a uma população de 450 mil habitantes”. Então a usina tira a água da bacia, e essa água não é devolvida. Ela é evaporada pelo sistema de resfriamento”, pontuou Ferreira. 

“Vampiros hídricos” em regiões de seca 

Telles Melo apontou que os “vampiros hídricos” produzem ainda mais impactos em áreas que passam pela escassez de recursos hídricos. É o caso do estado do Ceará, localizado no semi-árido mais habitado do planeta. No nordeste brasileiro, vivem mais de 20 milhões de pessoas, em meio ao clima seco e à baixa ocorrência de aquíferos.

O Ceará, porém, apostou na criação do terminal portuário Pecém, que gerou grande interesse industrial, pela facilidade de escoamento da produção.
“Os governos cearenses criaram condições para trazer essas indústrias mesmo não havendo água suficiente”, afirmou.

Atraído pelo desconto de 50% na tarifa de água, o bilionário Eike Batista foi um dos grandes empresários dos interessados. Com o grupo MPX, ele construiu duas termelétricas na região. “Ambas têm outorga de 750 litros de água por segundo. E temos uma siderúrgica autorizada a usar mil litros por segundo”, afirmou. 

Com infraestrutura hídrica insuficiente, o resultado foi o desabastecimento de comunidades indígenas do povo Anacé, que habitam a região desde o século XVI. “Eles foram desalojados em benefício dessas grandes indústrias e temem perder sua água que foi roubada”, afirmou. 

“Os vampiros hídricos estão nas siderúrgicas, termelétricas, no agronegócio e na mineração. Mas tem resistência. Essas lutas têm tido muita força e muito enfrentamento. Nós temos o vampirismo, mas temos também os que lutam contra os vampiros”, ressaltou o professor, com mestrado e doutorado na Universidade Federal do Ceará.

Arayara convida à mobilização 

Mesmo diante de gigantes do roubo da água, é possível lutar para impedir o avanço dos empreendimentos. Para o presidente do IEMA, cidadãos e cidadãs devem participar e questionar o processo de expansão da geração termelétrica, especialmente no que diz respeito ao uso da água.

“É preciso pressionar as agências ambientais e as agências de água que fazem a outorga. Por outro lado, deve-se cobrar Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica], que faz o edital dos leilões. Nesses leilões, devem ser vetadas usinas que utilizam água em áreas críticas”, disse. 

Representando a Arayara no debate, Nicole Figueiredo de Oliveira reafirmou que o Instituto está ao lado da população na luta contra os vampiros hídricos. “Fizemos audiências públicas na Assembleia Legislativa do Ceará a respeito do ICMS da água para o complexo do Pecém. E estamos fazendo audiências públicas a respeito da exploração do carvão”m lembrou.

Além da participação em audiências públicas, Oliveira destaca que é possível se mobilizar cobrando políticos eleitos, acompanhando a formação de políticas públicas e participando das discussões do orçamento participativo, entre outros meios. 

“E se você não puder fazer nada disso, temos formas de fazer pressão digital. Temos petições para que o carvão não seja estendido por mais 20 anos no Brasil e para que as fronteiras petrolíferas não sejam expandidas. Estão todos e todas convidados para se engajar nesse movimento conosco”, disse a diretora da Arayara.

 

Confira a live:

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

ARAYARA na Mídia: Ibama arquiva último projeto de usina a carvão mineral no país

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) anunciou, nesta segunda-feira (10/11) o arquivamento em definitivo do processo de licenciamento para a construção da Usina Termelétrica (UTE) Ouro Negro, em Pedras Altas, no Rio Grande do Sul. Este era, até então, o último projeto para um empreendimento fóssil de carvão mineral no país em análise pelo

Leia Mais »

COP30: CNDH recomenda suspensão do licenciamento da UTE Brasília por riscos socioambientais e violação de direitos humanos

O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) emitiu a Recomendação nº 14/2025, acolhendo pedido do Instituto Internacional ARAYARA para suspender o licenciamento ambiental da Usina Termelétrica (UTE) Brasília, em Samambaia (DF). A deliberação, aprovada por unanimidade na 93ª reunião do colegiado, ocorreu após sustentação oral de John Wurdig, gerente de Transição Energética da ARAYARA, que representou a entidade durante a

Leia Mais »

Movimentos territoriais, costeiros e energéticos debatem justiça climática em evento do ARAYARA Amazon Climate Hub

Na manhã desta quarta-feira (12), o ARAYARA Amazon Climate Hub sediou o diálogo “Construindo Ação Coletiva pela Justiça Climática: Vozes dos Movimentos Territoriais, Costeiros e Energéticos”, reunindo líderes de povos indígenas, pescadores artesanais e comunidades tradicionais da América Latina, Caribe e África. O encontro teve como objetivo discutir estratégias de justiça climática e compartilhar soluções concretas para um futuro sustentável

Leia Mais »

Proteção dos direitos humanos é central na corrida por uma transição energética justa

No contexto da urgência climática, a transição energética tem avançado em escala global, com a expansão de projetos renováveis e o aumento da demanda por minerais de transição, como lítio, cobalto e níquel. No entanto, grande parte dessas iniciativas ocorrem em territórios indígenas e camponeses do Sul Global, gerando denúncias de violações de direitos humanos e impactos ambientais significativos. Para

Leia Mais »