+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

ARAYARA na Mídia: Dia do Oceano: Brasil fala em proteção enquanto leiloa mais petróleo

Hoje é Dia do Oceano — e eu, de São Paulo, me preparo para ver vídeos do mar feitos por inteligência artificial, enquanto os tomadores de decisão se reúnem em Nice, na França, para a UNOC (Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos), que começa amanhã.

Beatriz Mattiuzzo – Colunista de Ecoa

Não posso falar muito, sei bem a qual grupo pertenço. Inclusive, caí no meu primeiro vídeo de IA há poucos dias. Falo isso com certa vergonha, ainda que fosse um vídeo “inofensivo”: uma mulher discutia no embarque de um avião por não poder levar seu “canguru de suporte emocional”. A “câmera” aos poucos dava zoom no animal, que segurava uma passagem de avião com carinha de dó.

A verdade é que conhecemos verdadeiramente muito pouco do oceano. Apesar de cobrir 70% do planeta, só 20% do fundo marinho foi mapeado com algum grau de detalhe. Ainda assim, tomamos decisões que afetam ecossistemas inteiros — que nem sabemos que existem.

Olhando assim, a principal meta da UNOC — ampliar as áreas marinhas protegidas de 8% para 30% — pode até parecer contraditória. Mas, na verdade, trata-se de uma meta urgente, uma vez que os estudos e pesquisas mostram cada vez mais a importância do oceano. Não deveria ser tão surpreendente, visto que esse é o ecossistema que controla o clima da Terra. Além disso, proteger algo que não conhecemos é o chamado princípio da precaução, um dos mais importantes norteadores da conservação, na prática: conservar primeiro, para depois buscar entender e avaliar.

Nos últimos anos, com tantos problemas em terra, tem se olhado cada vez mais para o mar. Petróleo vai acabar? Pera aí, dá pra cavar mais fundo e achar mais óleo! Extração de minério? Vamos minerar o fundo do mar e financiar a transição energética! Só que essa corrida por recursos ignora justamente aquilo que a ciência e a ética ambiental mais recomendam: desacelerar, proteger, estudar. É a diferença entre mergulhar de cabeça e olhar antes se tem água na piscina. Só que, no caso da Foz do Amazonas, a piscina abriga um dos maiores corredores de biodiversidade marinha do planeta.

No Brasil, a mensagem do governo desce torta. Enquanto representantes participam da conferência internacional, e o país fala sobre sua posição estratégica para liderar a transição energética, o mesmo governo segue pressionando pela liberação de exploração de petróleo na Foz do Amazonas.

E não é uma decisão para o futuro — é agora. A ANP (Agência Nacional do Petróleo) pretende leiloar 172 blocos de petróleo e gás no próximo dia 17 de junho. Muitos deles estão sobrepostos a áreas de altíssima sensibilidade ambiental e sociocultural.

Pela primeira vez, blocos na Foz do Amazonas entram nesse modelo de concessão — um alerta vermelho para cientistas, ambientalistas e comunidades costeiras. Até blocos próximos à badalada Fernando de Noronha estão no pacote. O chamado ‘Leilão Fóssil’ levou a organização Arayara a recorrer a diversos cientistas e produzir pareceres técnicos que podem ser acessados em leilaofossil.org

O discurso bonito sobre proteção dos mares já não dá conta de esconder as contradições. O Brasil quer ser protagonista da economia azul enquanto aprofunda sua dependência dos fósseis. Quer liderar a transição energética, mas não consegue sequer frear a destruição em suas áreas mais sensíveis. No fim das contas, seguimos exportando biodiversidade em relatórios e importando lucro a qualquer custo — mesmo quando o custo é o oceano e os povos do mar.

Fonte: UOL

Foto: Creative Commons/ Flickr

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

ARAYARA na Mídia: Petrobras tenta expandir área licenciada na Foz do Amazonas

Com permissão para perfurar bloco FZA-M-59 em mãos, empresa usa o mesmo processo para tentar abrir outros três poços de petróleo adjacentes. ONGs vão à Justiça contra autorização do Ibama. Um dia após obter a licença para perfurar o poço FZA-M-59 na bacia marítima da Foz do Amazonas, a Petrobras pediu autorização para abrir mais três usando o mesmo processo. Em documento encaminhado ao Instituto

Leia Mais »

Novo estudo do Inesc aponta queda nos subsídios aos fósseis, mas Brasil ainda privilegia combustíveis poluentes

Na tarde desta quinta-feira (23), diretores do Instituto Internacional ARAYARA participaram do lançamento da oitava edição do Monitoramento dos Subsídios às Fontes de Energia no Brasil (2023-2024), realizado pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc). O estudo revela que, pela primeira vez em oito anos, os subsídios aos combustíveis fósseis caíram 42% em 2024. Apesar da redução, o Brasil ainda mantém

Leia Mais »

Ato em Belém denuncia ameaça da exploração de petróleo na Foz do Amazonas

Na noite desta terça-feira (21), movimentos sociais, organizações ambientais, pescadores e lideranças comunitárias se reuniram em Belém (PA) para protestar contra a autorização de perfuração do bloco FZA-M-59, na Foz do Amazonas. O ato — que teve concentração na Escadinha do Cais do Porto e seguiu até a Estação das Docas — reuniu dezenas de pessoas em defesa da vida,

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Ambientalistas entram com ação para interromper perfuração da Petrobras na Margem Equatorial

Oito organizações e redes dos movimentos ambientalistas, indígena, quilombola e de pescadores artesanais entraram na quarta-feira, 22, com uma ação na Justiça Federal do Pará contra o Ibama, a Petrobras e a União, pedindo anulação do licenciamento do bloco FZA-M-59, que permitiu à Petrobras iniciar a perfuração de petróleo na bacia sedimentar da Foz do Amazonas, na Margem Equatorial brasileira.

Leia Mais »