+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Mundo precisa quadruplicar esforços para conter mudanças climáticas, diz estudo

Para evitar um aumento ainda maior da temperatura média global e cumprir seus compromissos climáticos, os países precisam fazer quatro vezes mais esforços e em menos tempo do que o imaginado anteriormente, segundo análise publicada nesta quarta (4), na revista Nature.

A necessidade de ações mais drásticas se dá em parte por conta do aumento de emissões ao invés da redução planejada nos últimos anos. Entre 2008 e 2018, as emissões cresceram 14%.

Em 2010, planejava-se conter o aumento médio da temperatura global em até 2ºC. A partir do Acordo de Paris, em 2015, passou a se ambicionar não ultrapassar os 2ºC e, preferencialmente, ficando no 1,5ºC de crescimento até o fim do século.

Os autores do artigo afirmam que, levando isso em conta, em 2010 considerava-se necessária uma diminuição anual de emissões, até 2040, de 2%. O cenário atual mostra que isso não é mais suficiente e que o mundo precisa diminuir suas emissões em 7% ao ano, até 2030, para conseguir manter o planeta no caminho para um aumento de temperatura de 1,5°C até o fim deste século.

A necessidade de cortar agora para que não haja aumento no futuro um pouco mais distante ocorre porque as emissões continuam a ter efeito a longo prazo. Ou seja, mesmo que se interrompa totalmente agora a emissão de gases-estufa, o planeta continuará aquecendo.

Para chegar a essa conclusão, os autores utilizaram o relatório Emissions Gap produzido pelo braço ambiental da ONU e que coloca na balança os compromissos e as ações reais que os países tomaram em relação às suas emissões.

“Os países não estão fazendo aquilo que deveriam”, diz Roberto Schaeffer, de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ e um dos autores do artigo.

O Brasil, inclusive, é um dos exemplos negativos, junto com a Indonésia e com os EUA (que declarou que deixará o Acordo de Paris e já iniciou o processo isso). Mesmo em crise econômica nos últimos anos, as suas emissões cresceram. E o grande responsável por isso é o desmatamento, que, em 2019, bateu o recorde da última década e teve o maior aumento percentual desde 1998 (e é o terceiro maior da história).

O governo Bolsonaro respondeu ao acentuado aumento afirmando que o desmatamento é cultural e não acabará. Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, afirmou que o desmatamento ilegal zero não deve ser alcançado.

Com o crescimento do desmatamento, Schaeffer teme que o Brasil poderia, inclusive, não cumprir sua NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada), o compromisso autodeterminado, firmado na assinatura do Acordo de Paris, de diminuição de emissões. O país se comprometeu a reduzir, até 2025, 37% de suas emissões e, até 2030, 43%, ambos os dados com base nas emissões de 2005.

A possibilidade de não cumprimento se torna ainda mais marcante pelo fato de que os compromissos de redução são pouco ambiciosos, considerando o cenário de baixo crescimento econômico atual, são “quase não fazer nada”, diz Schaeffer.

Em 2009, pela Política Nacional sobre Mudança do Clima, o Brasil também se comprometeu a reduzir, até 2020, suas emissões em 36% a 39%. Pesquisadores do Seeg (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa), projeto do Observatório do Clima, com projeções para as emissões de 2020 e, mesmo considerando a tendência de aumento do desmatamento apontada pelos dados do Deter, do Inpe, estimam que o Brasil deve chegar perto de cumprir essa meta.

Mas a meta de redução de 80% do desmatamento na Amazônia, considerando a média entre os anos de 1996 a 2005, não deve ser alcançada.

O pesquisador da Coppe/UFRJ também está preocupado com a COP26, conferência da ONU sobre mudanças climáticas, na qual os países devem apresentar novas NDCs mais ambiciosas do que as atualmente em prática.

“Não estamos vendo grande movimento do governo brasileiro para preparar uma NDC”, diz Schaeffer. “A questão da mudança climática no Brasil ou perdeu totalmente a importância ou de fato há céticos no governo que questionam se ela existe ou não. Não tenho a menor ideia do que o Brasil vai apresentar, se é que vai apresentar alguma coisa. Gostaria de me surpreender se o país apresentasse algo bom, digno, ambicioso. Mas não me parece que vai acontecer. Espero estar enganado.”

Fonte: Folha Press

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Relatório da REDESCA reforça a urgência de um plano estadual de transição energética no RS

O Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) realizou nesta quarta-feira uma audiência pública para debater os impactos da crise climática sob a ótica dos direitos humanos, com foco especial nas enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul em 2024. O evento, transmitido ao vivo pelo canal do CNDH no YouTube, teve como destaque a apresentação do relatório da Relatoria

Leia Mais »

FNCE promove seminário sobre transição energética rumo à COP

A Frente Nacional dos Consumidores de Energia (FNCE) realiza, no dia 14 de maio, das 9h às 13h, o seminário online e gratuito “Clima, sociedade e energia: oportunidades e desafios da transição energética no Brasil rumo à COP30”. O evento reunirá autoridades, especialistas e representantes da sociedade civil para discutir caminhos e soluções para a transição energética brasileira. Entre os

Leia Mais »

Câmara dos Deputados promove seminário para debater impactos socioambientais da UTE Brasília

A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados realizará, no próximo dia 13 de maio, às 10h, um seminário para discutir os impactos socioambientais da instalação da Usina Termelétrica de Brasília (UTE Brasília). O evento acontecerá no Plenário 2, Anexo II, da Câmara dos Deputados, com transmissão ao vivo, por meio do YouTube da Câmara. A

Leia Mais »

ARAYARA denuncia riscos da expansão fóssil na Amazônia durante a 5º Conferência Nacional do Meio Ambiente

Na tarde desta quinta-feira (7), a diretora executiva do Instituto Internacional ARAYARA, Nicole Figueiredo de Oliveira, ministrou a terceira atividade autogestionável promovida pela instituição durante a 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente (CNMA). Com o tema “A expansão da indústria fóssil com fins energéticos e os riscos climáticos em 2050”, o painel destacou os impactos crescentes da exploração de petróleo

Leia Mais »