De acordo com ambientalistas do Instituto Internacional ARAYAR, sem recursos dos países ricos e compromisso real de redução das emissões, a conferência corre o risco de repetir os fracassos das últimas duas edições
Por: Júlia Sabino / Avenida Comunicação
Às vésperas da COP30, o encontro concentra expectativas quanto ao alcance das negociações. Para especialistas do Instituto Internacional ARAYARA, o êxito dependerá da adoção de NDCs mais ambiciosas – compromissos assumidos por cada país para reduzir emissões de gases de efeito estufa e se preparar para os impactos da crise climática, atingindo os objetivos do Acordo de Paris. Até o momento, apenas 56 países entregaram as metas climáticas, apesar do apelo do presidente Lula em Nova York, na abertura da Assembleia-Geral da ONU e nos painéis da Semana do Clima.
De acordo com Sara Ribeiro, gerente de Relações Institucionais da ARAYARA, outro tema indispensável para o sucesso da cúpula é o financiamento climático. Para ela, é essencial que países mais ricos financiem a transição energética em nações subdesenvolvidas que enfrentam uma “lacuna de adaptação”. Esse déficit de financiamento pode superar US$300 bilhões por ano, segundo o relatório Adaptation Finance Gap Update 2023.
“Essa desigualdade deixa claro que o financiamento climático não é caridade: é reparação histórica e condição de justiça ambiental. Sem um fluxo justo e garantido de recursos dos países mais ricos para os mais pobres, a transição global corre o risco de aprofundar desigualdades já existentes”, ressalta a ambientalista.
Mas um tema incontornável ronda as conversas: os combustíveis fósseis. Segundo Sara, a pressão do setor petrolífero também pode comprometer os esforços de mitigação, que buscam acelerar a transição para fontes mais limpas de energia. Esse lobby teria sido o motivo do fracasso das últimas duas COPs, que aconteceram em 2023, nos Emirados Árabes Unidos, e em 2024, no Azerbaijão.
“Enquanto vivemos recordes de temperaturas, as duas últimas COPs aconteceram em países extremamente petrolíferos com um lobby forte a favor dos combustíveis fósseis. Estamos falando de dois países com governos rígidos, que impedem a liberdade de expressão e de imprensa. As negociações acabaram prejudicadas, além de terem sido infiltradas pelos interesses de empresas de petróleo”, explica Sara.
O relatório publicado em 2024 pelo Repórteres Sem Fronteiras classifica o Azerbaijão na 167ª posição entre 180 países no ranking mundial de liberdade de expressão e de imprensa, evidenciando as restrições enfrentadas por jornalistas e veículos independentes no país. Os Emirados Árabes Unidos, por sua vez, ficaram em 164º lugar.
Negociações de sucesso
Apesar das decepções de ambientalistas nas últimas conferências do clima, a COP27, no Egito, foi celebrada. O encontro, realizado em novembro de 2022 e considerado um sucesso por especialistas, criou um fundo de “Perdas e Danos”, que apoia países vulneráveis duramente atingidos por desastres climáticos. Essas nações são as que menos contribuem para o problema das emissões de gases de efeito estufa, mas são as que mais sofrem as consequências das mudanças climáticas.
O fundo também fortaleceu a ação dos países para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e aumentar o apoio financeiro, tecnológico e de capacitação necessária para países em desenvolvimento realizarem a transição energética. Além disso, a COP 27 reafirmou o compromisso de limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais, como foi discutido no Acordo de Paris.
“Não há mais espaço para o negacionismo climático. Os desastres estão acontecendo na nossa frente, e a COP30 tem capacidade para mudar esse cenário e se tornar um sucesso. Mas, para isso, precisamos de transição energética justa, fim dos combustíveis fósseis e financiamento climático”, afirma Sara.