+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Apoio à carta das Mulheres das Marés e das Águas contra a Resolução 500/20

Mais uma vez, a luta por ações concretas e compromissos reais da sociedade com a preservação socioambiental e a vida sustentável enfrenta o retrocesso e os interesses centralizados. Uma nova resolução do Conama torna inválidas resoluções anteriores fundamentais para a preservação de restingas e manguezais, queima de lixo tóxico e outras importantes medidas de proteção.

Hoje, a Arayara vem demonstrar seu apoio à carta das Mulheres das Marés e das Águas dos Manguezais Amazônicos contra a Resolução 500 de 2020.

Revogaram, entre outras, a Resolução 303/2002, que não só determina quais são as Áreas de Preservação Permanente (APP) nas faixas litorâneas, mas protege toda a extensão dos manguezais, delimitando como APPs as faixas de restinga recobertas por vegetação com função fixadora de dunas ou estabilizadora de mangues.

Apoiamos e reafirmamos que é nos manguezais amazônicos, lugar de VIDA, que produzem, se reproduzem socialmente, as mulheres das marés e das águas dos manguezais amazônicos, responsáveis na maioria das famílias pela segurança alimentar de suas famílias e de grande parcela da sociedade da costa amazônica.

“É fundamental entender a importância dos manguezais e das restingas. É nesse ecossistema onde há transformação de nutrientes e matéria orgânica. Gera vida, alimento, proteção e inúmeros serviços ao meio ambiente e à humanidade. É essa vegetação – e estudos recentes comprovam isso – uma das que mais capta carbono da atmosfera e isso é essencial para regular o clima nesse momento de grandes mudanças climáticas”, ressalta Katia Barros, assessora da CONFREM Brasil e da Rede de Mulheres das Marés e das Águas dos Manguezais Amazônicos.

Mais de 80% do manguezal do Brasil está na região amazônica, entre Maranhão, Pará e Amapá. É nessa área que se encontra a maior faixa de manguezal contínuo do mundo. Uma região de zeladoras, mulheres fortes que são verdadeiras matriarcas desse ecossistema, que não só criam e sustentam suas famílias, mas também protegem os lugares sagrados, de reprodução da vida.

“Existe uma disputa de interesses pela manutenção de grandes empreendimentos. Essa resolução vem intensificar a disputa pelos territórios, que envolve as comunidades tradicionais, principalmente pesqueiras, que vivem e se relacionam de maneira saudável com essas áreas e que têm nesse ecossistema seu lugar de vida”, explica a representante da rede de mulheres.

Reforçamos que a Arayara – sempre buscando incentivar e engajar a sociedade nas questões que envolvem o empoderamento feminino – apoia todas as mulheres, pescadoras, chefes de família que não só dependem dos manguezais amazônicos para sobreviver com suas famílias, mas garantem a segurança alimentar de suas comunidades.

“É de suma importância que instituições somem à luta das mulheres e dos manguezais para que outras organizações também se sintam tocadas por nossa luta e defendam esse lugar que é um patrimônio não só dessas comunidades e dessas mulheres, mas um patrimônio da humanidade”, conclui Katia.

Vale lembrar que, no ano passado, o número de conselheiros do Conama foi reduzido de 96 para 23, entre membros de entidades públicas e de Organizações Não Governamentais. As ONGs, que tinham 22 vagas, ficaram com apenas quatro.

Esperamos, e exigimos, mais de um órgão que define medidas cruciais, sendo responsável por estabelecer critérios para o licenciamento ambiental e normas para o controle e a manutenção da qualidade do meio ambiente.

Leia a carta na íntegra:

CARTA DAS MULHERES DAS MARÉS E DAS ÁGUAS DOS MANGUEZAIS AMAZÔNICOS CONTRA RESOLUÇÃO No 500 DE 2020 QUE REVOGA TRÊS RESOLUÇÕES DO CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (CONAMA): – A RESOLUÇÃO 303/2002. E VIVA A VIDA QUE PULSA NOS MANGUEZAIS AMAZÔNICOS

Os Estados Pará, Amapá e Maranhão constituem a costa amazônica brasileira1, composta por florestas de mangue (7.210,07 km2), apicuns (542,88 km2) e áreas com diferentes usos (67,11 km2). Estamos tratando de um dos maiores cinturões de manguezais do mundo, com extensão de 7,423 km2, correspondendo a 4.3% da área total de manguezais do mundo e 80% da área de manguezais do Brasil.

Essa área representa o maior sistema protegido do planeta, com 6,637 km2 de florestas de mangue e apicuns resguardados por 18 áreas protegidas, incluindo Reservas Extrativistas Costeiras e Marinhas, Reservas Biológicas, Áreas de Proteção Ambiental, e Terras Indígenas.

Destaca-se ainda por abranger três sítios Ramsar – “Parque Nacional Cabo Orange, “Estuário Amazônico e seus Manguezais, que abriga 40 espécies ameaçadas a nível nacional e global, e a “Reentrâncias Maranhenses.

Nesse importante ecossistema a pesca é uma das atividades extrativistas mais tradicionais e importantes da costa amazônica brasileira, garantindo ocupação, renda, principalmente para as mulheres, direito ao trabalho e segurança alimentar para boa parte da população nesta região.

Estima-se que mais de 80 mil pessoas dependam diretamente da pesca para sua sobrevivência nessa região. Essa atividade, bem como outras atividades de caráter extrativista, é desenvolvida na região dos manguezais amazônicos, e molda a identidade cultural das comunidades que dela dependem.

É nos manguezais amazônicos, lugar de VIDA, que produzem, se reproduzem socialmente, as mulheres das marés e das águas dos manguezais amazônicos, responsáveis na maioria das famílias pela segurança alimentar de suas famílias e de grande parcela da sociedade da costa amazônica, que se alimenta de mariscos, peixes, crustáceos e outros.

São essas vidas que estão ameaçadas pelo Resolução no 500 de 2020 que revoga Resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA): – a resolução 303/2002, que determina quais são as Áreas de Preservação Permanente (APP) nas faixas litorâneas, protegendo toda a extensão dos manguezais e delimitando como Áreas de Preservação Permanentes (APPs) as faixas de restinga “recobertas por vegetação com função fixadora de dunas ou estabilizadora de mangues”; – a resolução 302/2002, que determina que reservatórios artificiais mantenham uma faixa mínima de 30 metros ao seu redor como Área de Preservação Permanente (APP); Tal ato é totalmente inconstitucional; FERE o Artigo 225, caput, e §1o, inc. I e VII, da Constituição brasileira, que dispõe: todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defende-lo e de preservá-lo para as presentes e futuras gerações. §1o: Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.

Isto posto, nós Mulheres das Marés e das Águas; e todas as instituições que caminham junt@s conosco, reafirmamos nossa CONTRARIEDADE as improbidades nefastas do Governo Bolsonaro, bem como CONCLAMAMOS só país, a América Latina, ao Mundo por JUSTIÇA SOCIOAMBIENTAL, nas vozes das MULHERES e de Todos Movimentos Sociais, Instituições de Classes o reconhecimento do DIREITO DA NATUREZA!!!

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Uma PBio pública pela transição energética justa

Cinco dias antes do início da COP 29 (29a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – CQNUMC/ UNFCCC), a Diretoria Executiva da Petrobrás aprovou uma medida esperada há anos: a Petrobrás Biocombustível S.A. (PBio) não será vendida tão cedo. A decisão atende ao pleito de trabalhadores do setor de energia que se mobilizam nas últimas

Leia Mais »

Amazônia perde mais uma batalha contra a indústria fóssil

Em um momento decisivo para o futuro ambiental do planeta, enquanto a Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima participa da COP29, a Amazônia perde mais uma batalha contra a indústria fóssil. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) anunciou esta semana a atualização do cronograma do 4º Ciclo da Oferta Permanente de Concessão (OPC) para

Leia Mais »

Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2034 prevê 78% de investimento para indústria de petróleo e gás natural

No último dia 8 de novembro, o Ministério de Minas e Energia (MME) e lançou a Consulta Pública nº 179/2024, que abre a discussão sobre o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2034. O PDE, principal instrumento de planejamento energético do Brasil para a próxima década, foi apresentado em evento realizado no Observatório Nacional de Transição Energética, na Esplanada

Leia Mais »

G20 Social e Cúpula dos Povos: organizações reivindicam participação popular e compromissos concretos para o enfrentamento dos desafios globais

Como anfitrião do encontro de líderes do G20, o governo brasileiro lançou o G20 Social, uma iniciativa que busca integrar as contribuições da sociedade civil — como juventude, mulheres, cientistas e trabalhadores — à agenda do grupo. Com o tema “Construindo um Mundo Justo e um Planeta Sustentável”, a proposta promoveu, pela primeira vez, encontros abordando questões políticas, financeiras e

Leia Mais »